Faleceu em Paris o historiador, poeta e dinamizador cultural António CravoCarlos Pereira·Comunidade·5 Junho, 2025 Faleceu na noite de sábado para domingo, em Paris, com 90 anos de idade, António Cravo, professor de história, escritor, radicado em França, mas também muito empenhado na vida de Salselas, a aldeia no concelho de Macedo de Cavaleiros, de onde era originário. O funeral vai ter lugar no sábado 7 de junho, primeiro no Funérarium de Batignolles, em Paris 17, às 9h30, e depois no Crématorium du Père Lachaise, às 11h30. António Cravo era o pseudónimo de Jaime António Gonçalves, nascido em 1935 na aldeia transmontana onde começou a trabalhar nas lides do campo. Aos 20 anos foi para Lisboa para continuar os estudos secundários e depois universitários. Ao mesmo tempo que trabalhava, licenciou-se em História na Universidade Clássica de Lisboa. Foi na capital, anos depois, professor diplomado em história, no ensino particular. Quando já quadragenário, em 1975, o destino empurrou-o para uma nova aventura e instalou-se em Paris, onde se integrou facilmente na Comunidade portuguesa. Foi em Paris que concluiu um Mestrado em Ciências Sociais, na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS). O seu contacto fácil e filantrópico, fizeram com que estivesse desde então ligado aos meandros do movimento associativo, assim como na iniciativa de diversas manifestações culturais, literárias e educativas. Foi um dos fundadores da extinta Escola Associativa Portuguesa da rue de la Boissière onde milhares de jovens completaram os seus estudos e conseguiram entrar no ensino superior francês. Foi professor de muitos deles, entre os quais se contam, por exemplo, a atriz Jacqueline Corado (“La Cage Doré”) com o qual subiu, pela primeira vez, aos palcos numa peça de teatro. Deu cursos de alfabetização a emigrantes portugueses, levando-os a fazerem o exame da 4ª classe, organizados então pela Embaixada de Portugal. Segundo o livreiro João Heitor, “participou na Comissão de pais para a consolidação de cursos de português na escola frequentada pelos dois filhos. Desta experiência resultou a publicação de um dossier no extinto jornal O Emigrante, intitulado ‘A criança emigrante entre duas escolas’. Estávamos na época dos cursos paralelos e integrados”. Publicou vários livros durante a estadia em França, nomeadamente “Os Desenraizados”, poesia (1981), “Les Portugais en France et leur mouvement associatif – de 1901 à 1986”, CIEMI/L’Harmattan (1995), “Subsídios para a história do teatro português em França”, Inatel/CCPF (1997), “O 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades portuguesas e o seu significado”, Editions Convivium Lusophone e participou em algumas antologias poéticas como “Vozes dos Emigrantes em França”, precisamente com João Heitor (1982), “Poetas do mundo lusíada”, EUA (1987), “Poètes sans Frontières”, Nouvelle Pleiade (1994). Naturalmente apaixonado pela escrita, fez do jornalismo um dos seus passatempos favoritos, mantendo frequente correspondência com os mais diversos jornais portugueses, em França, ou em Portugal, dedicados à emigração. Muitos dos seus artigos estão compilados no livro “Retalhos da vida portuguesa em França”, Editions Convivium Lusophone. “Um livro imprescindível para quem quiser estudar a Comunidade portuguesa” garante João Heitor. Mas António Cravo desenvolveu também uma ação importante na promoção da cultura transmontana, promovendo a sua aldeia de Salcelas, onde passou muito tempo desde que se aposentou, ao ponto de ali ter fundado o Museu Rural de Salselas em 2000. A monografia de mil páginas “Salselas, um ponto do mundo”, editada em 2017, conta a evolução da história do mundo e centra-se na história da aldeia que o viu nascer, num trabalho de investigação de 8 anos. Mas continuou a publicar outras obras de investigação cultural e de poesia, que deixa para a posteridade. A filha, Paula Gonçalves, também publicou alguns livros de poesia.