Festival de cinema de Annecy acaba hoje e programou duas longas-metragens portuguesas

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A presença de duas longas-metragens portuguesas de animação no Festival de Annecy, em França, que termina hoje, “é muito importante” e representa um primeiro passo para uma indústria “minimamente sólida”, afirmaram à Lusa os realizadores José Miguel Ribeiro e Nuno Beato.

O Festival de Cinema de Annecy, que teve lugar entre os dias 13 e 18 de junho, é considerado o mais importante evento para a divulgação de cinema de animação de todo o mundo e, pela primeira vez, a programação contou com duas longas-metragens portuguesas: “Nayola”, de José Miguel Ribeiro, na competição oficial, e “Os demónios do meu avô”, de Nuno Beato, fora de competição.

Nesta edição, a competição oficial de longas-metragens contou também com o filme “Interdito a cães e italianos”, de Alain Ughetto, com coprodução minoritária portuguesa da Ocidental Filmes.

Na competição de curtas-metragens estiveram os filmes “Garrano”, de David Doutel e Vasco Sá, “O homem do lixo”, de Laura Gonçalves – ambos produções da BAP Studio -, “Second”, uma obra de escola de André Martins, e a obra em realidade virtual “Affiorare”, de Rossella Schillaci.

No programa dedicado a filmes ainda em processo de trabalho esteve a longa-metragem documental “They shot the piano player”, dos espanhóis Fernando Trueba e Javier Mariscal, com coprodução de França, Países Baixos e Portugal, através da produtora Animanostra.

De todos os filmes selecionados, o destaque vai para a presença rara de duas longas-metragens portuguesas no festival, tendo em conta a escassa produção nacional neste formato. “É um dos melhores sítios para estrear um filme de animação. Sendo Portugal ainda um bocadinho amador nas longas-metragens, porque estamos a começar, para começo de um país amador é muito bom”, afirmou Nuno Beato, realizador e produtor da Sardinha em Lata.

Em Annecy, Nuno Beato apresentou a sua primeira longa de animação, um filme sobre laços familiares, a relação com o passado e com a ruralidade. Com argumento repartido com Possidónio Cachapa, o filme inspira-se ainda nas figuras de barro da ceramista Rosa Ramalho e na paisagem e costumes de aldeias transmontanas.

O filme, em ‘stop-motion’ com animação de volumes e em animação 2D, conta com cerca de três milhões de euros de orçamento e coprodução com França e Espanha, essenciais para a sua concretização.

José Miguel Ribeiro, produtor e realizador da Praça Filmes, com um longo e premiado percurso na animação, também fez a sua estreia nas longas-metragens, com um argumento de Virgílio Almeida, a partir de uma peça de teatro de José Eduardo Agualusa e Mia Couto.

É uma história que atravessa três gerações de uma família angolana, a partir da vida de três mulheres – Lelena, Nayola e Yara -, tendo a guerra civil de Angola como pano de fundo.

“Tentei fugir dos ‘clichés’ e da minha forma de pensar quando olhava para Angola. Espero que contribua para dar uma visão mais diversa e mais rica daquele país”, afirmou José Miguel Ribeiro.

O filme, que demorou oito anos a ser feito, cruza animação em 2D e 3D, tem produção da Praça Filmes, coprodução com Bélgica, França e Países Baixos, e um orçamento que ultrapassou os três milhões de euros.

Em comum, estes dois filmes contaram com apoio financeiro – um milhão de euros cada – do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), criado na sequência de “uma aposta, de uma negociação e de uma pressão do setor” para que as políticas públicas também apoiassem o cinema de animação, disse José Miguel Ribeiro.

Os dois realizadores sublinham a visibilidade de Annecy, abrindo portas para outros festivais e programadores, mas Nuno Beato admite ainda alguma desvantagem de Portugal em competir com o resto da Europa.

“Os nossos ordenados são muito baixos, a nossa capacidade económica para pagar também ainda é muito baixa. Se houver vontade política de continuar com estes apoios [como o do ICA], eu acredito que ao fim de poucos anos Portugal possa dizer que tem uma indústria de cinema de animação minimamente sólida”, disse Nuno Beato.

Sobre o percurso de cada uma das longas, depois da estreia em Annecy, “Nayola” será exibido no Festival de cinema de Guadalajara, no México, e tem já distribução assegurada em França, estando ainda a ser negociada a distribuição portuguesa.

“Os demónios do meu avô” também será exibido nos Festivais de La Rochelle, em França, e Fantasia, no Canadá, e terá estreia em França em setembro. Em Portugal, ainda sem data, terá distribuição pela NOS.

 

Sílvia Borges da Silva, Lusa

 

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