Uma placa em homenagem aos emigrantes portugueses e espanhóis que entraram em França pela fronteira de Hendaye foi inaugurada na sexta-feira passada, dia 18 de abril, por iniciativa de um “Coletivo para a memória dos estrangeiros na Resistência francesa em França”, à frente do qual está o incansável Manuel Dias. A placa mostra os mapas da França, da Espanha e de Portugal e tem gravada a frase “A la mémoire des Espagnols et des Portugais émigrés et exilés politiques, passés par la gare internationale d’Hendaye aux XXème et XXIème siècles”.
Durante todo o dia foram organizados vários eventos na localidade fronteiriça de Hendaye, mas o primeiro ato foi o da inauguração desta placa.
“Em 2025 comemoramos os 80 anos do fim da II Guerra mundial, a libertação dos campos de concentração e o fim do Regime nazi do III Reich” explica Manuel Dias. “2025 também corresponde ao 51° aniversário da Revolução dos Cravos, em Portugal, no dia 25 de abril de 1974, e os 50 anos do fim da ditadura em Espanha, com a morte de Franco no dia 20 de novembro de 1975”.
Para além de Manuel Dias, discursaram Sandrine Derville, Vice-Presidente do Conseil Régional de la Nouvelle Aquitaine, Mário Gomes, Cônsul-Geral de Portugal em Bordeaux, Kotte Ecenarro, Maire de Hendaye e Didier Schwartz, Directeur des Affaires Régaliènnes et Mémorielles de la SNCF.
Por detrás dos oradores estavam jovens membros do Conselho Regional dos Jovens com as bandeiras francesa, portuguesa, espanhola e europeia.
Várias outras personalidades estavam presentes como por exemplo o Deputado cessante da Assembleia da República portuguesa Paulo Pisco, Ilda Nunes da associação Mémoire Vivante / Memória Viva e vários militantes de associações de Republicanos espanhóis.
Depois dos hinos francês e português – o hino espanhol não foi tocado – foram depostos cravos junto da placa inaugurada com pompa e circunstância.
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Homenagem aos Resistentes espanhóis e portugueses
O segundo momento do dia teve lugar junto ao monumento aos mortos de Hendaye, na esplanada Jean Gaztelu e começou com o “Chant des Partisans” antes de terem sido depostas coroas de flores em homenagem aos mortos da I e da II Guerras mundiais, aos Resistentes espanhóis e portugueses, assim como aos “cheminots” da SNCF.
O professor Bernard Lavallé, antigo Diretor da Maison des Pays Ibériques da Universidade de Bordeaux-Montaigne, que publicou vários livros sobre a Guerra de Espanha, fez uma intervenção histórica antes de ser ouvido o hino francês.
Entre as bandeiras, notou-se a da Delegação de Bordeaux da Liga dos Combatentes.
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Exposição de fotografias “Sala de Espera”
Ainda durante a manhã, foi inaugurada oficialmente a exposição “Sala de Espera” com fotografias de Gabriel Martinez, cedidas pelo Musée d’Aquitaine e expostas desde o dia 14 de abril no Centro Cultural Les Halles de Gaztelu.
Na sua intervenção, Manuel Dias confessou que lhe coube a ele, quando era Diretor regional do Fonds d’Action Sociale (FAS), em Bordeaux, deslocar-se a Hendaye para anunciar que o Governo tinha decidido suprimir o espaço “Sala de Espera” que acolhia precisamente os estrangeiros que entravam em França por Hendaye. “Na altura, o Governo considerava que os Portugueses e os Espanhóis já não eram emigrantes, mas sim europeus e já não necessitavam desta estrutura de acolhimento. “Foi nesse dia que conheci Gabriel Martinez que me disse que quando era fotógrafo tirou muitas fotografias aos Portugueses que chegavam a França nos anos 60. Ele levou-me a casa dele para ver as fotografias e consegui que fossem recuperadas pelo Musée d’Aquitaine”.
O Diretor do Musée d’Aquitaine, Laurent Védrine, estava presente e também discursou.
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A história paralela de duas emigrações
Durante a tarde foi organizada uma conferência sobre “História das emigrações ibéricas para a França e a Europa no século XX” com as participações dos Historiadores Victor Pereira, Marie-Christine Volovitch-Tavares, Natacha Lillo, Bernard Lavallé, com apresentação de Vincent Fernandes e moderação de Manuel Dias.
Foi um debate rico e participativo que pôs em paralelo a emigração portuguesa e a emigração espanhola para França.
De seguida foram apresentados os livros “A passagem clandestina dos Portugueses pela fronteira do país basco” pela autora basca Rosa Arburua Goienetxe (edições Quatorze, 2017) e “Souvenirs d’un futur radieux” de José Vieira (edições Chandeigne, 2024).
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Projeção de três filmes
Na quinta-feira, dia 17 de abril, foi projetado o filme “O Salto” de Christian de Chalonge (88 minutos) com apresentação inicial da investigadora Agnès Pellerin que tem trabalhado sobre a obra de Luís Cília, que compôs a música do filme e foi, de certa forma, um dos consultores do realizador.
Na sexta-feira, no Cinema Les Variétés, en Hendaye, foram projetados os filmes “El silencio de otros” de Almudena Carracedo e Robert Bahar (2018) sobre a “democratização” da Espanha e “Portugal 74, a Revolução dos Cravos” de Jean-Paul le Grouyer e Bruno Lorvão (2024).