França ainda está a investigar intervenção da polícia que abateu português a tiro

A justiça francesa ainda está a investigar a intervenção da polícia que abateu um emigrante português a tiro, a 19 de agosto, em Montargis.

A informação foi dada à Lusa pelo Procurador de Orléans que afirmou ter obtido a abertura da fase de instrução no início de outubro para que «o caso seja totalmente esclarecido», ainda que, «até agora, tudo indique que a polícia agiu no âmbito da legítima defesa alargada, de acordo com a nova lei aprovada em 2016», na sequência dos atentados terroristas.

O episódio ocorreu na localidade de Châlette-sur-Loing, quando Luís Bico, de 47 anos, foi visto a brandir uma faca e a ameaçar uma pessoa, o que levou os transeuntes a alertarem a polícia.

Quando os polícias o abordaram, junto à sua residência, ele trancou-se no carro, tê-los-ia ameaçado e tentou fugir com a viatura mas os agentes começaram a disparar sobre o carro, que ficou crivado de balas.

O Ministério Público confirmou que os primeiros resultados da investigação apontam que a polícia teria disparado porque o homem ameaçou uma pessoa com uma arma, depois ameaçou «fazer explodir Montargis» e como os agentes não conseguiram desarmá-lo no veículo, quando ele moveu o carro e «como havia muita gente na rua, a polícia disparou para impedir a progressão do veículo».

Ainda de acordo com o Procurador, nesta fase do inquérito, ‘a priori’ o Português não constituía uma ameaça terrorista e ainda que se tenha encontrado um Corão no lugar do co-piloto, «não há nenhum elemento que indique que ele se tenha radicalizado».

Malik Salemkour, Presidente da Associação francesa Liga dos Direitos Humanos, disse à Lusa que o caso levantou «uma verdadeira interrogação sobre a proporcionalidade» da resposta da polícia face ao «número de disparos para imobilizar o homem» e alertou para os «comportamentos de cansaço» da polícia mediante um estado de emergência que vigora em França desde os atentados de 13 de novembro de 2015.

«O estado de emergência leva os polícias a estarem mais na defensiva, mais inquietos e a tensão criada pelo estado de emergência nas forças de ordem leva-os a terem comportamentos de cansaço, de preocupação que não favorecem a paz civil», avisou Malik Salemkour.