LusoJornal | António Borga

Intervenção de Nathalie de Oliveira na Comissão Nacional do PS evocou campanha “suicida” nas comunidades


Nathalie de Oliveira, a Secretária-Coordenadora da Secção do Partido Socialista de Metz e antiga Deputada na Assembleia da República, dircursou no sábado passado, dia 24 de maio, na Comissão Nacional do Partido Socialista, em Lisboa.

Este foi um momento para balanço do resultado das eleições legislativas de 18 de maio – ainda sem se conhecerem os resultados da emigração. Esta reunião marcou também a saída do líder Pedro Nuno Santos, o Presidente Carlos César garante interinamente a liderança do partido e José Luís Carneiro assumiu a candidatura (por enquanto única) a Secretário Geral do Partido.

É importante saber o que foram dizer à Comissão Nacional os Socialistas da diáspora, neste caso Nathalie de Oliveira.

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“Caro Presidente do Partido, Carlos César,

Caro Secretário Geral, Pedro Nuno Santos,

Caras e caros Membros da Mesa,

Caras e caros camaradas,

Nestas circunstâncias infelizes para nós, quero dizer-vos que hoje, mais do que nunca: é uma honra ser socialista !

Participar nesta reunião era imprescídinvel para dizer-vos a minha fidelidade ao espírito daquela madrugada histórica que abriu o caminho da liberdade para todas e todos como testemunhar da minha solidariedade inteira para convosco!

Sinceramente, sei o que sentem neste momento de dúvida na grande história socialista.

Em França, o PSF ainda não saiu da longa noite após ser rejeitado pela classe trabalhadora que sempre fez as suas vitórias. Acusam-nos de ter desistido da nossa promessa inicial «Liberté, Égalité, Fraternité», melhor dito aqui «Em cada rosto igualdade».

Sim, sei das consequências violentas sofridas por inúmeras vidas frágeis quando o PS deixa de ser ouvido, quando mandam em nós direitas radicais que se batizam «centristas humanistas»: menos direitos e mais injustiças. Naquela altura em França como agora em Portugal, as pessoas já gritavam há muito, angústias, medos e «certezas» de que nunca mais chegariam a realizar os seus sonhos (entre várias gerações) neste mundo onde as guerras rebentam em toda a parte: ter acesso à saúde, a empregos melhor remunerados, a casa própria, à educação e serem felizes, sem serem enterrados vivos pelos juros!

Porém, nós socialistas, não vamos desistir porque «Só vence as batalhas, quem está nas batalhas» [Saint Just, In Oeuvres complètes] e sempre estivemos em todas as batalhas nos últimos 50 anos, como recentemente para vencer o projeto de austeridade perpétua, défices como outros projetos mórbidos para conseguir combinar crescimento económico, políticas públicas de inclusão e igualdade bem sucedidas, para continuar a defender o projeto de construção europeia para nunca acabar por ser «o Bairro Ocidental» [Manuel Alegre, In Bairro Ocidental (2015)] do Mundo, mas também aprofundar a democracia portuguesa, as suas instituições entregues às mãos de populistas do piorio.

Mas porque é que «As rosas estão tristes no jardins do Mundo (…)» [Manuel Alegre, V, P.25. In Quando tão imenso como o continente europeu não tem sequer sentido político como explicação], agora também em Portugal ? Onde falhámos para chegar aqui, tão enfraquecidos pela vontade do povo e do seu voto soberano?

No que diz respeito ao Círculo da Europa onde ainda tenho legitimidade militante:

1. Sobre o contexto impossível, numa altura em que se identificaram correntes populistas absurdas mas eficazes da extrema-direita (dentro como fora), mandar na linha da frente do combate uma estreante, sem experiência nem trabalho político, confirmado num terreno tão imenso como o continente europeu, não tem sequer sentido político como explicação racional. Decisão suicida!

2. Sobre o fundo: o Manifesto não apresenta nada! Lamento. Canta que vamos continuar a sermos Portugueses. Obrigada. Sem substância. Sem propostas novas. Sem vontade. Sem ambição. Desgosto para quem ama e defende o PS.

3. Sobre a forma: uma campanha confidencial de tal maneira que só digna dos anos 90 ou do ínicio dos anos 2000 quando o bipartidarismo reinava. Nulo e sem efeito distribuir uma dúzia de folhetos quando o Chega atinge milhares em poucos segundos nomeadamente jovens.

Sentença no próximo dia 29 de maio. As urnas têm sempre razão.

Pergunto: e agora? É só ter saudades do Futuro! [cf Fernando Pessoa] Eis aqui um leme para pensar nova e inteiramente tudo: da nossa essência ao nosso projeto, porque a nossa gente já não quere saber das rosas nos jardins do Mundo, nem sequer dos cravos vermelhos. Porque não estivemos à altura dos desafios!

Neste sentido, já para travar as batalhas à nossa frente e de forma a vencer este aperto do perigo fascista, sejamos unidos. Continuo então a pedir-vos, sem cansar, mais paixão militante para com as Comunidades, para concretizar o sonho que nós temos tido para quem vive fora: a conquista de mais respeito e direitos para nós, emigrantes ou filhas e filhos, netas e netos destes. Na verdade, as Comunidades de Portugal colocam desafios fora de formato a democracia portuguesa.

Bem sabem: Também Somos Portugueses, temos ideias, temos soluções, temos vitórias para celebrar Juntos. Isso, para nunca mais ficarmos sem voz da Emigração, oriundo/a da Emigração, na AR, cabe refletir, repensar e pensar novas políticas públicas inovadoras que respondam às exigências do nosso tempo, respeitando cada pessoa, cada concidadão onde quer que resida. Aguardam-se decisões corajosas sobre:

– a organização do Partido fora, que está a levar a sério o seu destino;

– a representação na AR com maior número de Deputados para a Emigração;

– a participação cívica e política (harmonização das modalidades de voto com direito a voto remoto eletrónico);

– o alargamento da possibilidade do ensino da nossa língua também à distância;

– o apoio ao novo associativismo português em plena transformação geracional;

– o acesso aos Serviços públicos digitais como presencialmente em todo o Mundo,

– a questão das discriminações de ordem fiscal ainda em vigor.

Para concluir, como vós, somos filhos da madrugada, os do século XXI, militantes de um PS ao qual Jean Jaurès destinou, para o PSF e para os outros partidos irmãos sermos sempre: «um partido de espírito livre, sempre atento aos movimentos da realidade e da sociedade». O PS desfazou-se dos movimentos da realidade e da sociedade. Apesar das múltiplas crises à espreita, no âmbito da organização partidária, democrática, institucional, ecológica, social, espiritual, até civilizacional com tanta extrema-direita, muito bem organizada e internacionalizada, vamos à luta, fiéis ao leme «luz para todo(a)s» [cf. Eça de Queiróz], sem deixar ninguém para trás.

Camaradas, nesta batalha essencial na qual os portugueses da Europa sempre estiveram (até a primeira hora e na primeira linha), podem contar comigo, connosco, com os socialistas no estrangeiro.

Viva o PS! Viva Portugal fora!”