LusoJornal | Carlos Pereira

José Cesário diz-se “muito preocupado” com ensino de português em França e assume que “tem de haver grandes mudanças”

“Eu estou muito preocupado com o ensino da língua portuguesa no estrangeiro e em particular em França” disse o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, respondendo a uma pergunta que lhe foi colocada durante o recente almoço da Câmara de comércio e indústria franco-portuguesa (CCIFP) em Paris. “Temos muito menos alunos do que tínhamos há 8, 9 ou 10 anos atrás, temos muita gente que diz que os filhos não têm professor, mas, simultaneamente, temos muitos horários em que notoriamente há uma frequência cada vez menor e nomeadamente de alunos de origem portuguesa”.

“Eu quando falo com alguns professores aqui em França – e não só – eles dizem-me eu já não tenho 15% de alunos de origem portuguesa, então, evidentemente que eu tenho de ficar preocupado” diz o Secretário de Estado. “Nós temos aqui um problema que é o seguinte: por um lado não estamos a conseguir fazer aquilo que devíamos fazer com os meios que temos, temos recursos que não são plenamente utilizados, por outro lado temos um conjunto grande de crianças que querem aprender e nós não disponibilizamos soluções”.

A pergunta tinha sido colocada pelo dirigente associativo José Moura e José Cesário garantiu que “isto vai ter de mudar, vai ter de mudar de forma significativa, vamos ter de mexer nos horários, agora há aqui uma realidade que é incontornável: as mudanças só se fazem com professores. E há um drama enorme: não há professores, não há professores aqui, nem há professores lá. Não há professores. Portanto, nós temos de ter um sentido de responsabilidade muito grande nas mudanças que fizermos, porque vamos ter de as fazer com eles, com os professores, e obviamente com os pais”.

Mas José Cesário acrescentou que “os nossos professores são mal pagos. Não vale a pena fugir a esta realidade. É verdade que há países em que esta situação não é tão grave, mas temos casos muitíssimo graves. Eu não posso ter um Coordenador de ensino nos Estados Unidos a receber menos de 3.000 dólares por mês e é a realidade. Nós não conseguimos atrair ninguém”.

Ainda durante a intervenção, o Governante admitiu que “há aqui um outro caminho que não tem sido feito adequadamente: é desejável que o português esteja cada vez mais visível nos currículos das escolas locais, das escolas oficiais, públicas e privadas, e não está a ser. Não está e vocês sabem disso muito bem. As experiências que têm sido feitas, quer do EILE, quer do ensino integrado, não têm resultado. Mas o problema não é apenas a França, é a Suíça… só na Suíça, nós tínhamos, há 10 anos, 12.000 alunos, neste momento temos pouco mais de 6.000… é no Luxemburgo, na Bélgica, no Reino Unido… no Reino Unido temos todos os professores à volta de Londres e a Comunidade está a afastar-se cada vez mais de Londres, por razões evidentes dos custos da habitação. Quer dizer que nós temos os professores e os cursos nos sítios onde já não há muitos alunos”.

Para José Cesário, estas são razões evidentes para dizer que “esta mudança vai ter de ser feita. Vai ser preciso coragem para a fazer, com os professores. Não é fácil dizer a um professor: agora tu vais trabalhar para uma localidade que fica a 100 ou 200 km da tua casa. Isto tem de ser feito com responsabilidade, mas tem de ser feito”.

Mas José Cesário já tem vindo a chamar a atenção para a responsabilidade dos pais na inscrição dos filhos nos cursos de português. “Eu tenho dado orientações ao Instituto Camões para começar a avaliar possibilidades de abrirmos novos cursos em países para onde vão agora os Portugueses. Rapidamente detetámos, só nos Emiratos Árabes Unidos, perto de 300 alunos com necessidades de aprenderem português. Vamos abrir já uma experiência piloto lá. Ou seja, nós estamos a ter muita gente, da emigração recente, com filhos cuja língua materna é o português, em vários países, na Dinamarca, Noruega, Suécia, Norte da Inglaterra, Emiratos,… onde nós não temos qualquer ensino de português e, portanto, temos de avançar nesse sentido, temos de fazer grandes mudanças, algumas estão em curso, a abertura de novas experiências está em curso, a revisão dos horários vai ter de ser feita, é um trabalho para o próximo ano”.

O Secretário de Estado diz que a Propina já não será um problema, porque foi suprimida por iniciativa parlamentar, mas “a partir de agora, temos de pôr os pés no terreno e trabalhar”.