O Consulado-Geral de Portugal em Paris acolheu ontem a apresentação do livro “Les Portugais en France: Une Immigration Invisible?”, um conjunto de estudos sobre a imigração portuguesa em França desde o início do século XX, dirigidos pelas antropólogas Irène dos Santos e Sónia Ferreira.
O livro, em francês, editado pelas edições Le Cavalier Bleu e pela Maison méditerranéenne des sciences de l’homme, teve também o contributo dos sociólogos Manuel Antunes da Cunha, Margot Delon, Inês Espírito Santo, Yasmine Siblot e Dominique Vidal, dos antropólogos Guillaume Étienne e Filomena Silvano e dos historiadores Cristina Clímaco, Victor Pereira e Marie-Christine Volovitch-Tavares.
O evento foi organizado nos Salões Eça de Queirós de Consulado-Geral, completamente esgotados e até com gente de pé por já não haver lugares sentados e contou com a intervenção inicial de boas-vindas da Cônsul-Geral de Portugal em Paris Mónica Lisboa.
Como se trata de uma ação organizada em parceria com a Casa de Portugal André de Gouveia, na Cidade universitária internacional de Paris, também o Diretor daquela instituição, João Costa Ferreira, usou da palavra para saudar a parceria entre a Casa de Portugal e o Consulado Geral afirmando que também ele é favorável aos universitários que expõem os seus trabalhos fora dos muros das universidades e para felicitar a Cônsul Geral e a Cônsul-Geral Adjunta pelo dinamismo e programa cultural do posto consular.
Na ausência de Irène dos Santos, por razões de saúde, coube a Sónia Ferreira, do Departamento de antropologia da Faculdade de ciências sociais e humanas da Universidade Nova de Lisboa, apresentar a obra.
Sónia Ferreira lamentou que não haja muitos estudos sobre a Comunidade portuguesa “que foi a Comunidade emigrada mais importante em França desde meados dos anos 1970 até ao fim dos anos 1990”.
Afirmando que “somos todos herdeiros dos trabalhos do sociólogo Albano Cordeiro, recentemente falecido, e da historiadora Marie-Christine Volovitch-Tavares” presente na sala, Sónia Ferreira explicou que tentou compilar textos nas mais diversas áreas universitárias, “mas muito resta ainda por fazer”, nomeadamente em áreas ainda mais abrangentes como a Lusofonia, “já que muitos lusófonos de outros países, chegaram a França enquanto Portugueses e continuam a ser utentes deste posto consular, por exemplo” e também na área europeia. “É importante trabalhar sobre a União Europeia, porque mudou o estatuto jurídico, porque passaram de migrantes a cidadãos europeus e seria bom perceber o que mudou no dia-a-dia”.
Na mesa estavam também presentes dois dos investigadores que contribuiram para o livro: Yasmine Siblot e Dominique Vidal.
Yasmine Siblot escreveu sobre “(Re)faire sa vie en migration pour les femmes portugaises au cours des années 2000” e explicou como acompanhou duas mulheres portuguesas que vieram para França já no início do século XXI e como progrediram profissionalmente e familiarmente.
Dominique Vidal que já trabalhou na África do Sul, no Brasil, em França, em Moçambique e em Portugal começou por lembrar Eça de Queirós, que deu o nome aos salões onde decorreu o evento, afirmando que “é melhor do que Balzac” e explicou “Como Paris tem tantas Concierges de origem portuguesa?” o tema que desenvolveu no livro.
Victor Pereira escreveu sobre “Ignorances et fausses évidences: généalogies des représentations des migrants portugais en France de 1916 à nos jours”, Manuel Antunes da Cunha escreveu sobre “Un demi-siècle de présence portugaise en France (1966-2016): assignations identitaires, récits médiatiques et expériences migratoires”, Sónia Ferreira escreveu sobre “Les médias portugais et lusophones: ethnogenèse de la portugalité en France”, Cristina Clímaco escreveu sobre “Exil et immigration des Portugais en France pendant l’entre-deux-guerres”, Inês Espírito Santo escreveu sobre “De la figure du ‘clandestin’ à celle du ‘citoyen européen”, Sónia Ferreira e Filomena Silvano escreveram sobre “Faire le saut: la construction cinématographique du voyage en tant qu’expérience, récit et rituel”, Marie-Christine Volovitch-Tavares escreveu sobre “Du village au bidonville: les immigrés portugais dans les bidonvilles de la région parisienne (1956-1974)”, Margot Delon escreveu sobre “Des ‘Blancs honoraires’? Les trajectoires sociales des Portugais et de leurs descendants en France”, Guillaume Étienne escreveu sobre “Ce que le religieux fait à l’encrage local. Des Portugais en Berry aux Luso-Bérrichons” e Irène dos Santos escreveu sobre “L’expérience migratoire de la ‘deuxième génération’. Choix d’appartenance(s) et liens au pays d’origine au fil des âges de la vie”.