Livro sobre a obra do escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro

“A obra polifônica de João Ubaldo Ribeiro” é o título do livro organizado por Rita Olivieri-Godet e Zilá Bernd, desde já disponível no ebook em acesso livre, no site das edições Makunaima. O lançamento da versão impressa se fará no dia 25 de julho, na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro. A publicação deste livro em 2024, dez anos após a morte de João Ubaldo Ribeiro, constitui uma oportuna homenagem que as autoras decidiram prestar a um dos escritores cuja obra se situa entre aquelas que mais se destacam na cartografia literária do Brasil.

Rita Olivieri-Godet, cujo trabalho universitário e literário já tivemos a oportunidade de apresentar aqui, através principalmente das suas publicações intituladas «Écrire l’espace des Amériques : représentations littéraires et voix des femmes amérindiennes» e «L’altérité amérindienne dans la fiction contemporaine des Amériques», vive em França há quase 30 anos, é Professora Emérita de literatura brasileira da Universidade de Rennes 2 e ex-Diretora do Departamento de Português desta mesma instituição.

Zilá Bernd é Professora Titular aposentada do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Officière de l’Ordre National du Québec (2014) e Officière de l’Ordre des Palmes Académiques (Governo francês).

Entre seus inúmeros livros publicados se destacam, em co-autoria com Francis Utéza, “O caminho do meio”, uma leitura da obra de João Ubaldo Ribeiro.

“Esta publicação – escreve Rita Olivieri-Godet na introdução – reúne depoimentos e artigos de escritores, acadêmicos e pesquisadores sobre o escritor João Ubaldo Ribeiro e sua obra, dez anos depois da data de seu falecimento, em 18 de julho de 2014, na cidade do Rio de Janeiro. Além do objetivo evidente de homenagear um dos grandes escritores e intelectuais, cujo pensamento arguto iluminou os debates travados em torno da realidade brasileira, durante mais de meio século, esta obra pretende contribuir para manter viva a reflexão em torno da produção ubaldiana, revisitando contribuições consagradas e abrindo novas perspetivas de leitura, no ano em que, coincidentemente, “Viva o povo brasileiro” (1984) completa 40 anos de publicado”.

João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu em 23 de janeiro de 1941, em Itaparica, ilha situada na região do Recôncavo baiano, na casa de seu avô materno. Escritor consagrado pelo reconhecimento de sua obra no Brasil e no exterior, como demonstram as inúmeras traduções de seus livros em vários países, iniciou sua carreira como jornalista, função que voltou a exercer enquanto colunista do jornal Estado de São Paulo, entre outros órgãos. Autor de várias obras-primas da literatura brasileira, entre as quais se destacam os romances “Sargento Getúlio” (1971) e “Viva o povo brasileiro” (1984), incursionou por vários gêneros literários: romances, contos, crônicas, literatura infanto-juvenil e ensaio. Em 2008, recebeu o Prêmio Camões, a mais importante e prestigiosa premiação para os autores de língua portuguesa.

Lembramos também que em março de 2011, João Ubaldo Ribeiro, juntamente com a escritora Ana Maria Machado, eram os convidados do encontro com os estudantes de Português na Sorbonne, em Paris, organizado pelo Centre de Recherche sur les Pays Lusophones (CREPAL).

Três acadêmicos brasileiros, entre outros escritores e professores, fazem parte dos autores do presente volume: Ana Maria Machado, Antônio Torres e Domício Proença Filho que, no prefácio, faz o seguinte comentário sobre os textos ficcionais e as crônicas de João Ubaldo Ribeiro: “Nos primeiros destaca-se a configuração de um contraponto de visões: de um lado os vencedores, os poderosos, as figuras cujos nomes e atos fazem a história oficial; de outro, heróis populares que emergem da sua criação ou perduram na memória das pessoas, transfigurados, a partir, muitas vezes, das singularidades do real, em símbolos, exemplos de resistência e de marcada humanidade. Seus contos e romances desestruturam mitos. Cedem a vez e o discurso aos que, historicamente não as possuem. Numa significativa multiplicidade de narradores. Neles ridiculariza-se a hipocrisia do falso moralismo; denuncia-se a injustiça, a violência; rasgam-se os véus que escondem a falsa virtude, o vício, a corrupção, a ausência de escrúpulos, os sofismas, a impunidade dos desonestos. Ressalta-se o idealismo autêntico dos que acreditam na construção de uma sociedade justa, ideal, que exige vigília e luta permanentes. Exalta-se a crença no povo brasileiro, para além da cobiça, dos interesses e das vaidades individuais, destacado o interesse comum, o bem-estar coletivo”.

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