Livros: “La Poésie du Portugal – des origines au XXe siècle”, um monumento à poesia portuguesa

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Quando foi a última vez que viu nas livrarias uma antologia de poesia com quase duas mil páginas, bilingue – português e francês – que, de modo cronológico, percorre um longo caminho histórico, feito de mil poemas e trezentos poetas, desde o século XII, com as Canções de Amigo dos trovadores galaico-portugueses, até às portas do século XXI?

Talvez nunca tenha visto. E é natural, pois esta monumental obra editada pela Chandeigne – é impressionante o trabalho de Michel Chandeigne, ao longo das últimas décadas, em prol da promoção e difusão em França das Literaturas em língua portuguesa – aparece uma vez na vida.

“La Poésie du Portugal – des origines au XXe siècle”, edição e tradução, ritmada e fluida, do também poeta Max de Carvalho, começa o seu longo percurso de 900 anos de poesia portuguesa com a lírica em língua vulgar dos dealbares da criação de Portugal, embora, por ser a mesma cultura ibérica e a mesma língua, enverede também por Castela e Leão: a poesia do rei sábio Afonso X é um dos marcos fundamentais das culturas peninsulares.

E é desse caldo primordial que nasce a poesia portuguesa, “uma”, diz o editor, “das mais fecundas tradições líricas e épicas da Europa”. Um percurso que termina com os poetas contemporâneos, descendentes diretos da chamada “idade de ouro” que nasce no pós-guerra, durante os anos 1940, com o surrealismo e com a hegemonia póstuma de Pessoa que paira sobre a poesia da segunda metade do século XX. Uma explosão de criatividade poética que, paradoxalmente (ou não), surge da opressão fascista do triste Portugal de Salazar.

Esta antologia é um longo rio quase milenar no qual o leitor mergulha não apenas na história e no romance nacionais, construídas graças a uma eterna permuta de influências, sejam árabes, africanas ou brasileiras, mas também nos seus mitos, medos e fantasmas coletivos. Uma história perturbada que nasce da reconquista – essa longa cruzada ibérica que termina com a conquista do Algarve em 1249 por Afonso III (Granada cairá apenas em 1492, annus mirabilis castelhano) – e atinge os píncaros com a expansão portuguesa – esses “Descobrimentos” que marcam tanto o início de grandes avanços científicos e geográficos como o começo da “industrialização” do tráfico negreiro transcontinental – que tem nos “Lusíadas” o seu momento estratosférico.

Depois, século após século, é uma inexorável decadência histórica feita de batalhas perdidas, reis desaparecidos, naufrágios, crescente irrelevância global, terramotos e longas ditaduras…

Uma decadência que não se verifica na poesia, que, pelo contrário, se alimenta dos tristes fados nacionais, enriquecendo-se de tal maneira que, ainda hoje, os portugueses (mito ou realidade?) acreditam constituir um povo feito de poetas.

 

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