Manuel Freire, um herói português da II Guerra mundial

[pro_ad_display_adzone id=”37510″]



Manuel Freire nasceu a 5 de setembro de 1900 em São Miguel de Recardães, no concelho de Águeda, distrito de Aveiro. É um dos emigrantes portugueses que ao saírem de Portugal, acabaram por servir a França durante a II Guerra mundial, tornando-se verdadeiros heróis pelas suas ações, alguns acabando por morrer fuzilados, deportados ou em combate.

Manuel Freire era filho de José Alves Freire e de Maria Ferreira Alves, casou a 23 de maio de 1919 com Ana Fernandes. Faleceu em França a 27 de junho de 1944, óbito registado nos serviços centrais de Portugal em 1979 e acrescentado, na margem da certidão de batismo, somente a 11 de maio de 1988.

Manuel Freire emigrou para França onde terá entrado a 25 de março de 1922. A sua situação depressa foi regularizada como trabalhador estrangeiro. A França do pós-I Guerra mundial necessitava de mão de obra para reconstruir o país, para além de ter visto muitos dos seus homens partirem ou ficarem inválidos durante o conflito.

Separado da esposa, Manuel Freire passou a viver em França com Maria Gonzalès, de nacionalidade espanhola (ler AQUI).

O casal teve um filho, de nome também Manuel Freire, nascido a 11 de agosto de 1927, em Issy-les-Moulineaux, departamento dos Hauts-de-Seine. De notar que Manuel Freire, pai, terá reconhecido o seu filho três meses depois do nascimento, a 9 de novembro de 1927, o que corrobora a ideia que não estava divorciado e que não estava novamente casado em 1927. Na altura, a família vivia no 35 boulevard Rodin, onde ainda se encontravam em 1931, segundo recenseamento desse ano.

Sabe-se que Manuel Freire trabalhou como soldador na fábrica de carros Lancia, na rua do Port, em Bonneuil, departamento do Val-de-Marne. Nesta cidade instalaram-se importantes fábricas nos anos 1930. Na altura, a Lancia fabricava ali 5 carros por dia.

Será nesta cidade, ao contactar com outros operários da Lancia, que Manuel Freire terá compreendido e adquirido uma consciência política? Na Lancia grandes greves operárias foram travadas nos anos 1930. Bonneuil foi uma cidade de lutas sociais e do Front National. O Maire entre 1935 e 1971 foi um ex-sindicalista que esteve na clandestinidade, em auxílio da defesa da liberdade e dos ideais democráticos durante a I Guerra mundial.

Da Lancia, Manuel Freire mudou-se para a fábrica Chausson de Meudon, no departamento dos Hauts-de-Seine, fábrica ali instalada em 1931, de fabrico de peças para automóveis, passando-se aqui a fabricar autocarros durante a guerra, em 1942.

A primeira Fédération des Émigrés Portugais de France é fundada em 1933, Manuel Cunha aderiu a esta associação, sendo nomeado seu Tesoureiro. A sede, na altura, era no 3 Sentier des Poiriers, no 20° ‘arrondissement’ de Paris.

Próxima do Partido Comunista, a associação foi proibida em 1939, tal como outras associações de estrangeiros. Em 1945 é solicitada nova autorização para a sua existência legal. Tornou-se membro do Centro de Ação e Defesa dos Imigrantes (CADI), fundado em 1946. O CADI tinha uma vida associativa real, contudo as outras associações a que estava ligado, tinham uma existência muito efémera.

Interessante é a informação fornecida por M.C. Munoz, no artigo “Le Corps Expéditionnaire Portugais, 1916-1918” in Hommes & Migrations n°1148, nov. 1991, p. 15-18, citado por Albano Cordeiro (ler AQUI): “As atividades da Federação eram modestas: uma reunião geral anual, algumas festas, bailes em Paris ou na região parisiense, piqueniques, especialmente a peregrinação anual patriótica e republicana aos campos de batalha onde o Corpo Expedicionário Português lutou na Grande Guerra”.

A 28 de março de 1940 o Estado Maior francês da Marinha e da Guerra assinala que Manuel Freire é membro do Partido Comunista.

Durante a II Guerra mundial, Manuel Freire e a sua companheira teriam feito parte do Partido Comunista espanhol. A Polícia francesa segue Francisca Vélas, uma militante que visita o casal Freire-Gonzales nos dias 21 e 28 de abril de 1942, o que conduz a que o casal seja feito prisioneiro pela Polícia dos “Renseignements Généraux” a 27 de junho de 1942.

No mesmo momento da captura e perquisição domiciliária, foram apreendidas provas, nomeadamente dois livros: “L’histoire du Parti Communiste” de J. Staline e um outro com o título “La tentation”, o qual continha um manual para o jovem comunista. Foram igualmente confiscados panfletos, artigos e a bandeira vermelha da Fédération des Émigrés Portugais de France, Secção de Issy-les-Moulineaux.

Manuel Freire passou mais de um ano na prisão da ‘Santé’ de onde foi libertado a 11 de dezembro de 1943. Dois dias depois, é internado no Centre de Séjour Surveillé de Tourelles, em Paris 20.

Nova transferência a 6 de maio de 1944, desta vez para o Campo de Rouillé, no departamento de Vienne. Aqui chegaram a ser vigiados 379 internados. Este Campo era ocupado, nomeadamente, por estrangeiros considerados pelo Governo de Vichy de indesejáveis. Na pesquisa que fizemos, dos aqui internados, há 16 nomes de ‘residentes’ nascidos em Portugal (ler AQUI), mas não consta o nome de Manuel Freire. Qual a razão?

Na noite de 10 para 11 de junho de 1944, as Forças da Resistência F.T.P.F. (Francs Tireurs Partisans Français) libertam os internados do dito Campo. Um grupo de 20 dos internados libertados decide de se juntarem aos “maquisards” de Saint Sauveur, departamento de Vienne.

Embora o desembarcamento em França tivesse tido início a 6 de junho de 1944, os soldados alemães continuaram a matar e a fuzilar… Na manhã de 27 de junho de 1944, 1.500 SS motorizados cercam a floresta de Saint Sauveur. Cinco “maquizars” são mortos de armas na mão. Durante a tarde, 25 homens foram batidos e fuzilados na berma de uma estrada, entre eles, Manuel Freire.

O Maire de Celle-Lescault é convocado pelos Alemães, que o ordenam de enterrar os mortos. Os corpos tiveram que ser sepultados em cemitérios distintos. Manuel Freire foi inumado em Lusignan com 8 outros camaradas.

Finda a guerra, a 30 de junho de 1945 os corpos foram desenterrados, só nesse momento foram elaborados os atos de falecimento. A morte de Manuel Freire foi registrada na cidade de Lusignan, seu último domicílio.

Manuel Freire foi enterrado num segundo momento na necrópole de Sainte Anne-d’Aurayn, no departamento de Morbihan, o sobrenome inscrito, tendo sido Marcel, em vez de Manuel.

Foi atribuída a Manuel Freire a honra de ser mencionado como “Mort pour la France”. Foi-lhe igualmente atribuído, a título póstumo, o de “interno-resistente”. O seu nome está inscrito na placa comemorativa no lugar do massacre, em Vaugeton (Celle-Lescault, no departamento de Vienne) e no cemitério de Lusignan.

.

Um outro Manuel Freire, cantor de intervenção

O que existe de comum entre o cantor Manuel Freire e Manuel Freire aqui descrito, morto pela França?

O cantor Manuel Freire nasceu durante a II Guerra mundial. É um cantor de intervenção, um cantor pós 25 de Abril, ele que nasceu precisamente num 25 de abril, do ano de 1942, em Ovar, distrito de Aveiro. A sua canção “Pedra filosofal” é a sua obra-prima, mas também uma das obras, senão, a obra-prima do século XX da canção portuguesa.

“Pedra Filosofal” é um poema de António Gedeão, publicado no livro “Movimento Perpétuo”, em 1956. Aproveitando a musicalidade do poema, Manuel Freire apresenta em 1970 o poema musicado, que, pelas suas características, rapidamente se tornou num hino e numa bandeira da resistência contra a ditadura do Estado Novo e, de certa forma, contra a guerra.

Os dois têm o mesmo nome, são homónimos, e são originários do mesmo distrito, nascidos não muito longe um do outro. Será que há algo de familiar entre eles?

A título histórico-anedótico, relacionado com a cidade de Lusignan, na qual viveu Manuel Freire, sabe-se que em 2018 foram efetuadas obras nos arredores da igreja de Notre-Dame e Saint-Julien de Lusignan. Uma moeda portuguesa, da segunda metade do século XVI foi ali encontrada nesse momento.

Quem estará por detrás desta moeda? Que história está por encontrar e por contar?

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]