Novo Director da Casa da Música no Porto: François Bou está a aprender português de forma intensiva

François Bou, após vários anos como Diretor-geral da Orquestra Nacional de Lille, vai ocupar a responsabilidade de Diretor artístico e pedagógico da Casa da Música do Porto a partir de 1 de fevereiro.

François Bou, a viajar ultimamente entre Lille-Porto e Porto-Lille concedeu ao LusoJornal esta entrevista antes de iniciar as suas novas funções.

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Depois de alguns anos como Diretor-geral da Orquestra Nacional de Lille, o contrato chegou ao fim ou é seu desejo quer mudar de ares para Portugal, procurar um pouco mais de sol?

Passei, no total, 18 anos na Orquestra Nacional de Lille – 8 anos entre 2000 e 2008 e 10 anos entre 2014 e 2024. Como Diretor-Geral, penso ter chegado ao fim de um ciclo, para além de surgir esta oportunidade da Casa da Música. Dirigir a Casa da Música no Porto é algo que me interessa enormemente, para além de regressar à minha verdadeira vocação que é a programação. A Casa da Música tem algo de muito original e interessante, o fato de possuir 5 agrupamentos musicais: orquestra, orquestra barroca, Ensemble Remix, coro Casa da Música, coro infantil Casa da Música, para além de divulgar a música popular. A Casa da Música é uma das instituições mais bonitas da Europa. É para mim uma grande alegria e uma honra dirigir o destino deste estabelecimento único, sem equivalente na Europa, tanto pela sua arquitetura, como pela sua programação, para além de ter no seu seio um conjunto de crianças muito bem integradas.

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Como surgiu a oportunidade de vir a ser Diretor artístico e pedagógico da Casa da Música do Porto?

Esta oportunidade surgiu no seguimento de um concurso com numerosas candidaturas internacionais. Fui várias vezes recebido e entrevistado, antes de ser escolhido. Faziam parte dos examinadores: uma empresa de recrutamento alemã, o Conselho de administração composto pelo Estado, por membros da autarquia e por pessoas qualificadas.

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Casa da Música no Porto é um novo desafio na sua carreira?

Tive muitos desafios na minha vida, sempre gostei de trabalhar fora. Trabalhei em Londres, 5 anos no Auditori de Barcelona, agora surge o Porto, acho muito interessante trabalhar fora.

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Na Orquestra Nacional de Lille foi Diretor Geral. Imagino que a sua função na Casa da Música seja um pouco diferente…

Sim, volto ao que mais adoro: a programação.

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Já tem um programa em preparação para os anos que vêm?

Sim, conjuntamente com o meu antecessor, que é uma pessoa extraordinária, António Jorge Pacheco, que esteve na origem da Casa da Música, já elaborámos programa. António Pacheco deixou-me muito espaço na programação para que eu pudesse elaborar o programa de 2026. Estou a dar continuidade àquilo que o António Pacheco fez como grande programador, juntando, com a minha personalidade e orientação, uma programação e projetos que serão um pouco a minha marca, com temas que me são específicos. Os desafios da Casa da Música passam ainda por uma maior abertura à cidade, à sua área metropolitana e uma maior visibilidade a nível local, mas também a nível internacional.

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No título do cargo que vai ocupar a partir de 1 de fevereiro, consta a componente pedagógica. Qual será o seu papel a este nível?

O meu papel será o garantir uma transversalidade entre a programação artística e a programação educativa, dirigida a todo o tipo de público, jovens, menos jovens, a outros públicos, públicos um pouco mais distantes, abertura também a outras Comunidades que vivem no Porto, aos Brasileiros ou a outros vindos de países africanos, regiões onde Portugal esteve presente. Quero integrar e ter uma programação para todas estas Comunidades, mas também para as diferentes faixas etárias. Desejo trabalhar para uma maior transversalidade para aqueles que frequentam a Casa da Música a nível educativo, desejo que venham também aos concertos, gostaria que as pessoas se sintam em sua casa.

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A nível educativo há o desejo de promover os melhores, destacar, segui-los?

A Casa da Música não é um Conservatório, é uma Escola de música. No entanto, existem programas para o desenvolvimento de músicos portugueses, o Remix Ensemble organiza uma audição de dois em dois anos, existe um projeto para uma Academia de orquestra, a Casa da Música pode acolher jovens talentos portugueses. Na programação terei muito cuidado em dar oportunidade a jovens artistas e compositores portugueses. Considero que temos também um papel importante na promoção dos artistas portugueses.

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Sente uma certa abertura, uma vontade de desenvolver, de democratizar a cultura artística musical em Portugal?

Sim, sinto que há um desejo de maior abertura. O meu papel será o de contribuir para promover ainda mais a dita abertura e projeção da Casa da Música, tanto a nível nacional como internacional, nomeadamente com concertos dos agrupamentos musicais da Casa da Música, indo ao encontro de público em todo o território nacional. Sendo Estado português financiador da Casa da Música, temos como dever de fazer esforço para irmos ainda mais longe, tanto na projeção no território nacional, como a nível internacional.

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Precisamente, qual é o atual posicionamento internacional da Casa da Música?

A Casa da Música faz parte do grande circuito internacional de concertos, tais como: Viena, Hamburgo, Roma, Barcelona. A Casa da Música faz parte das principais salas europeias, com a particularidade, como já disse anteriormente, de possuir 5 agrupamentos musicais, o que a torna muito específica e marcante. Com mais meios financeiros, poderemos ter uma projeção europeia ainda maior, e é esse o meu desejo, com digressões internacionais dos 5 agrupamentos musicais, com encomendas de obras de outras salas de concerto europeias, de compositores. Gostaria de inovar, de relançar uma vertente audiovisual na Casa da Música no Porto.

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Qual o posicionamento da Casa da Música a nível nacional?

Diria que não há outra instituição como esta, tanto a nível nacional como a nível europeu. Existe em Portugal a Fundação Gulbenkian que tem uma importância relevante, o seu projeto não é, contudo, semelhante ao projeto da Casa da Música, um projeto que nasceu pelo facto de Portugal não possuir um grande auditório. A originalidade da Casa da Música é dupla: a construção foi confiada em 2001, quando o Porto foi Capital Europeia da Cultura, ao arquiteto holandês Rem Koolhaas, construção que foi concluída em 2005. A Casa da Música transformou-se muito rapidamente num ícone da cidade, entrando no circuito turístico do que é importante visitar no Porto. A segunda originalidade muito forte é, como disse, o facto de ter 5 conjuntos musicais integrados em residência dentro da própria Casa da Música. A Casa da Música é reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho a nível da música contemporânea. Gostaria também de dar mais visibilidade aos artistas de origem portuguesa, nomeadamente a nível internacional.

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Um projeto entre a Casa da Música e a Orquestra Nacional de Lille?

Estamos a preparar uma coprodução com a Orquestra de Lille, mas também com outras instituições. Saberemos mais, em breve.

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O português é uma língua que vai tentar praticar?

Vou ficar no Porto pelo menos 4 anos. Estou a aprender português de forma muito intensa, espero tornar-me independente rapidamente em português. É importante para mim, mesmo se posso falar outras línguas: castelhano, inglês, francês. Pretendo poder comunicar em português rapidamente, é para mim uma forma de respeito para com Portugal e para aqueles que confiaram em mim.