I Guerra mundial – O caso raro do Capitão do CEP e sua família: Júlio de Moura Borges

[pro_ad_display_adzone id=”37510″]

 

Das pesquisas e artigos que temos feito sobre a participação do CEP na I Guerra Mundial, o caso que vamos contar é um caso bem particular.

Ficaram em França, depois de terminada a guerra, um certo número de soldados, muitas das vezes a razão principal sendo por motivo sentimental, casamento com jovens francesas, criação de família na Flandres.

Júlio de Moura Borges era Tenente de Cavalaria aquando da sua partida de Lisboa a 7 de junho de 1917, depressa evoluiu para o posto de Capitão, função que ocupou a partir de 12 de novembro.

Quando embarcou para França já era casado e pai. Depois de finda a guerra ficou pela França.

Capitão, casado, pai de 3 filhos e fazendo vir família de Portugal para se instalar em França, eis as razões que nos fazem dizer que será caso raro no CEP.

Júlio de Moura Borges nasceu nas vésperas do Natal de 1887 na freguesia do Socorro, em Lisboa, filho de Júlio Moura Borges e de Joana de Moura Borges, casado com Angélica Júlia da Silva Correia de Moura Borges, nascida a 26 de março de 1889 tendo como residência a rua Cândido Reis 5-R/C Bairro Novo de Algés, Lisboa.

Foram diversas as funções ocupadas pelo Capitão Júlio de Moura Borges entre 1917 e 1920, em França, ao serviço do CEP.

A 28 de dezembro de 1917, Júlio de Moura Borges é nomeado Comandante da zona de reserva do CEP, em maio de 1918 passa a ocupar outras funções, nomeadamente a de Comando na zona de Ambleteuse. Encontrámo-lo também ligado às reclamações, como Adjunto deste serviço.

Júlio de Moura Borges foi louvado pelo método, boa ordem e interesse manifestado no comando da área de reserva do CEP, bem como pela competência profissional e dedicação, pelo serviço demonstrado não só neste lugar como em outras comissões de serviço para que foi nomeado.

Na ficha do CEP temos como última anotação: encontra-se em França (Cherbourg) a comandar as operações de material a embarcar, 24 março 1920.

Da ficha não consta data de regresso.

A notícia que alerta e que conduz à nossa procura de mais elementos sobre o Capitão Júlio de Moura Borges resulta de informação encontrada no jornal Grand Echos du Nord do 19 de janeiro de 1930 e que diz: “são convidados a assistir ao funeral de Afonso José de Moura Borges, falecido acidentalmente a 17 de janeiro de 1930 em Port Arthur, Quesnoy-sur-Deûle, dia 19 de janeiro, às 8 horas, na igreja de Quesnoy-sur-Deûle. A inumação terá lugar pelas 7h45 na casa mortuária, rue de la Gare. Da parte de seus pais Mr et Mme Moura Borges Moreau, suas irmãs Maria Helena e Maria Joana, Sr e Sra Moreau Perlot avôs, Georges Garcia de Moura e seus filhos, Senhora viúva de Borges Nunes e filhos, Senhor e senhora Moreau Duhamel, seus tios, tias, primos e toda a família”. O jovem Afonso era na altura empregado de comércio.

Aos irmos mais longe, descobrimos que finalmente o casal do Capitão Júlio de Moura Borges e Angélica Júlia da Silva Correia de Moura Borges teve três filhos e que todos nasceram em Portugal antes de virem para França: Maria Helena nasceu em Lisboa a 6 de março de 1910, o falecido Afonso José nasceu a 23 de janeiro de 1912 no Porto e Maria Joana a 25 de fevereiro de 1914 também no Porto. Ficamos assim a saber que depois de 1910 a família terá mudado para o Porto, onde nasceram os dois últimos filhos.

Afonso José faleceu jovem, faltavam 5 dias para festejar os seus 18 anos.

Na literatura jornalística encontramos o Capitão Júlio de Moura Borges ligado às vilas de Quesnoy-sur-Deûle, à vizinha Comines e à cidade de Lille.

Júlio de Moura Borges, é de sublinhar, teve um papel importante na criação e vida de associações de antigos combatentes portugueses na região. No anúncio do falecimento do filho, foi apresentado como Presidente da secção local de Quesnoy-sur- Deûle da Associação dos Antigos Combatentes Portugueses.

A 12 de outubro de 1930 está presente como Presidente da Associação dos Antigos Combatentes Portugueses de Lille durante uma bela cerimónia dos Aliados em Noeux-les-Mines, em Sains-en-Gohelle e na qual uma importante delegação e autoridades portuguesas estão presentes, nomeadamente o Cônsul português de Arras, Louis Antoine, e o Vice-Cônsul português de Boulogne-sur-Mer, Ruy Shirley Pereira.

Faziam parte desta importante delegação portuguesa o Sr. Costa, da Associação dos Combatentes Portugueses de Boulogne-sur-Mer, o Sr. Silva da Secção de Calais, Lens e arredores, o Sr. Madeira, Vice-Presidente da Federação, o Sr. Fabião, de Arras, Joaquim Andrade, Presidente da Secção de Vendin-le-Vieil. Reconhecia-se também entre as 50 bandeiras das delegações, a bandeira da Agência Geral dos Antigos Combatentes Portugueses de França que estava entre a bandeira de Noeux-les-Mines e a de Sains-en-Gohelle. Durante esta mesma cerimónia, o Maire de Sains elogiou as virtudes “da pequena mas corajosa nação” que é Portugal e remeteu à Secção portuguesa daquela vila a bandeira de Antigos Combatentes.

Durante esta mesma cerimónia, o Cônsul de Portugal em Arras, Louis Antoine, agradeceu emocionado e elogiou “o grande povo francês”. Tudo terminou com o toque dos hinos franceses e portugueses.

No ano a seguir, temos referência ao Capitão como fazendo parte da Delegação que acolheu as autoridades portuguesas chegadas de Paris para assistirem a 11 de novembro de 1931 a uma grande cerimónia dos Aliados. Acolheram as autoridades portuguesas: o Presidente de honra da Delegação de antigos combatentes de Lille, Júlio Moura Borges, o Presidente Emmanuel Martins, António Campos, Manoel Bouça, Edouard Brás. Das autoridades vindas de Paris destaca-se nomeadamente o Coronel Abreu de Campos em representação da Liga de Lisboa. Presentes também o Sr Cerqueira em representação do Vice-Cônsul português de Boulogne-sur-Mer, o Vice-Cônsul de Lille, Sr Crépy. A honra de festejar com Champagne o encontro coube a Emmanuel Martins.

O nome do Capitão é igualmente referenciado na Liga dos antigos combatentes portugueses da guerra 14-18 criada a 17 de junho de 1930 em Calais.

O Capitão e seus filhos obtiveram a nacionalidade francesa por decreto do 2 de julho de 1928, os filhos, por serem menores, beneficiaram do mesmo decreto para se tornarem também franceses.

Júlio de Moura Borges terá sido empresário em Comine, tendo falecido em Lille bem cedo, em 1938, com apenas 51 anos.

Das filhas sabemos que Maria Joana casou com David Karpoff, tiveram dois filhos, exerceu a profissão de professora, faleceu a 25 de janeiro de 1998, em Issenheim, no Haut Rhin, e que Maria Helena casou a 15 de julho de 1933, em Sotteville-les-Rouen (Seine Maritime), com Elie Ganem, com quem tive 3 filhos. Viria a falecer com somente 51 anos, em Duras, no Lot-et-Garonne.

A primeira esposa do Capitão, Angélica de Moura Borges, faleceu em 1966 com a idade de 77 anos, em Lisboa.

Depois de longas horas de pesquisa sobre a família de Júlio de Borges Moura, não temos resposta a algumas perguntas: entre a última notícia relatada na ficha do CEP de 24 março 1920 em que o Capitão se encontrava em Cherbourg e 1926.

Nos censos de 1926 Júlio de Moura Borges é recenseado na vila de Quesnoy-sur-Deûle, a viver no 17 rue de la Gare, juntamente com o filho que viria a falecer em 1930, Afonso de Moura Borges, e é dada como esposa do Capitão, Lucie Marguerite Moreau, nascida em Montherme (Ardennes) e falecida a 15 de agosto de 1972, em Lille. No recenseamento de Quesnoy-sur-Deûle, Lucie é dada como esposa de Júlio.

Se os dois casaram, não o fizeram nem na vila de nascimento da esposa, nem em Quesnoy-sur-Deûle, Comnies ou Lille, os arquivos destas localidades foram consultados. Mas no Jornal Oficial da República francesa, a 24 de julho de 1947, De Moura Borges Moreau Lucie, professora do ensino público em Lille, é galardoada com o grau de oficial.

No recenseamento de 1931, o Capitão continua residente em Quesnoy-sur-Deûle. O filho do Capitão tendo falecido em 1930, em 1936 nenhum deles aparece nos censos.

Temos a notícia e o ato de falecimento de Júlio de Moura Borges, em Lille, residindo na altura no 4 rue Gustave Joncquet.

Júlio de Moura Borges ter-se-á separado da sua primeira esposa, ficando a cargo dele o filho. As duas filhas terão ficado a cargo da mãe.

Da Associação de Quesnoy, que nos forneceu alguns dados para o presente artigo, e graças a Roger Lefebvre, ex-Maire, recebemos a seguinte informação: “…a 1 de janeiro de 1920, um censo de estrangeiros relata 25 Portugueses em Quesnoy, de uma população que deveria ser cerca de 1.500 pessoas, na altura vivendo com dificuldade, em barracas, após a destruição da vila em 1914-18. A maioria ocupados com trabalhos de reconstrução”.

Um apelo vai ser lançado em jornal histórico para tentarmos encontrar testemunhas que possam dizer algo mais sobre a família de Moura Borges.

 

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]

 

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]