Opinião: “Alice et autres merveilles” de Emmanuel Demarcy-Mota

Tem hoje lugar [ndr: segunda-feira], nas salas do Institut d’Estudes Hispaniques da Faculdade de Letras da Sorbonne, entre as 9h30 e as 17h00, o colóquio “Régimes de Vérité” organizado pelo grupo Études Lusophones que Maria-Benedita Basto e Michel Riaudel dirigem. Raquel Schefer, que tem estudado o cinema nos contextos coloniais portugueses, apresenta uma comunicação sobre as modalidades de aproximação aos arquivos do cineasta Ruy Guerra. “Approche à un archive anticolonial mozambicaine à partir de l’œuvre de Ruy Guerra” reflecte sobre um dos mais notáveis protagonistas da possibilidade de construir e constituir um cinema africano.

A partir de dia 13 e até dia 30 de dezembro cumprindo, de modo heterodoxo, o calendário das saídas familiares de Natal, o Théâtre de la Ville apresenta, no Espace Pierre Cardin aos Champs Elysées, “Alice et autres merveilles”, interpretado pela companhia residente e encenado pelo Diretor do Teatro, Emmanuel Demarcy-Mota e por Fabrice Melquiot. Será um expectável espetáculo para crianças, livremente adaptado de “Alice no País da Maravilhas” e “Alice do outro lado do espelho”, obras do famoso escritor inglês Lewis Carroll, que têm tudo para ser obras para adultos sábios, mas que, perversamente, nos habituámos a oferecer às crianças.

Já inaugurada, como anunciámos, a exposição “Sculptures Infinies”, reflete sobre as relações entre o molde e a escultura ao longo a História da Arte. Expõem-se “moulages” de estátuas da Antiguidade clássica, que constituíam as coleções de estudo nas velhas escolas de Belas Artes (a de Lisboa e a de Paris colaboram, assim como departamentos do Louvre e de Versailles, com alguns dos seus modelos) juntamente com experiência modernas, industriais e digitais. O comissariado é assegurado por quatro nomes, entre os quais Penelope Curtis, Diretora do Museu da Calouste Gulbenkian e Rita Fabiana do mesmo museu. A mostra, ocupa os dois pisos da sala de exposições da École des Beaux Arts com uma escolha vastíssima e uma montagem fria e disciplinada, e apresenta apenas dois artistas portugueses: um delicado vídeo de Ricardo Taveira e algumas “peças de resistência”, no sentido português do termo, de Francisco Tropa – porque o artista resiste à tentação da hiper-tecnologia ao citar esculturas de gosto oitocentista (uma “Saudade” de Soares dos Reis ou um busto da República e ao simular nelas a destruição acelerada do tempo que, eliminando os pormenores naturalistas das peças originais, põe em causa o seu significado inicial transformando-as num vestígio, numa memória aberta, provavelmente mais duradoura do que muito do que brilha em seu redor.

Boas escolhas culturais e até para a semana.

Esta crónica é difundida todas as semanas, à segunda-feira, na rádio Alfa, com difusão antes das 7h00, 9h00, 11h00, 15h00, 17h00 e 19h00.

 

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