Lusa | António Pedro Santos

Opinião: Contadores e cofres cingaleses na Embaixada de Portugal

Esta semana podemo-nos guardar para um balanço regressando a alguns eventos do mês para os destacar.

Mas vou, antes, começar com uma maldade… falar-vos de uma coisa que já não podem ver…

Sábado passado, mais de 250 pessoas puderam apreciar, nos grandes salões da Embaixada de Portugal, abertos ao público das Journées Européennes du Patrimoine (inscrições on-line no site oficial do Ministère de la Culture, desde agosto), uma magnífica exposição de contadores e cofres cingaleses (de Ceilão), indo-portugueses e namban (japoneses), mais de uma dezena de preciosos trabalhos de entalhe de madeiras preciosas, marfim e madrepérola, produto refinado do cruzamento de cultural, político e económico de Portugal com o Oriente, entre os séculos XVI e XVIII.

Algumas destas peças podem, ainda assim, ser visitadas pelos mais curiosos (acompanhadas de outros tesouros do mesmo contexto cultural) na galeria que no-las emprestou: a AR/PAB, na rue de Beaune, em Paris.

Para que se consolem deixo-vos a indicação de outra exposição digna de um museu e que está patente, em Paris, até 16 de novembro – neste caso sem inscrição (e sem entrada paga…). Ficam sem nenhuma desculpa para não visitar, na galeria Jeanne Bucher, rue de Saintonge, a apresentação das obras de Vieira da Silva que supera todas as expetativas.

Dos anos de 1930 aos anos 90 da sua morte, seguimos o seu originalíssimo caminho pela abstração, pressentindo as figuras em fuga que percorrem os labirintos de luz e perspetivas vertiginosas que esta pintora luso-francesa (ela também produto de uma miscigenação cultural decisiva) deixou para o nosso futuro.

Na vizinha galeria de Bernard Bouche (rue Vielle du Temple) também podemos falar de futuro mas numa leitura individualista e sombria, porque lidando com o apagamento do rosto e o enfrentamento da morte – são os sempre perturbadores retratos de Jorge Molder que podemos ver até 19 de outubro.

Perturbante é também a relação dos 2 casais em cena no Théâtre de la Bastille (até 6 de outubro) gerindo os seus amores e desamores contemporâneos sob o império dos sentimentos de Anna Kareninne, romance de Tolstoi que vai sendo lido em palco.

Cinco minutos de aplausos e chamadas dos atores e do autor-encenador são a prova de que Tiago Rodrigues (Diretor o Teatro Nacional D. Maria II) é hoje um dos melhores Embaixadores da cultura portuguesa em França, onde a peça tem aliás estado e continuará em digressão.

Boa semana com a cultura portuguesa.

 

Esta crónica é difundida todas as semanas, à segunda-feira, na rádio Alfa, com difusão antes das 7h00, 9h00, 11h00, 15h00, 17h00 e 19h00.

 

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