Projeto literário português “Literanto” realizou última hora do conto do ano letivo em Paris_LusoJornal·Cultura·30 Junho, 2025 O projeto Literanto realizou no sábado passado a última “Hora do conto e atelier criativo em língua portuguesa” do ano letivo na Bibliothèque Gulbenkian, em Paris, reunindo um pequeno grupo de crianças e pais, que expressaram agrado pela iniciativa. “É uma iniciativa muito rica porque permite às minhas filhas poderem ter o contacto com a língua portuguesa, ouvirem o vocabulário em português e depois, no final das histórias, da hora do conto, há sempre um atelier que é muito atrativo e interativo”, disse à Lusa Rute Nunes, mãe de Eliana e Eva, de 10 e 8 anos, respetivamente. Natural do Algarve, mas atualmente a viver a uma hora de Paris, Rute Nunes é uma das mães que participa no projeto desde os seus primórdios, já que as suas filhas “adoram vir e ficam radiantes” por interagir em língua portuguesa no espaço da Casa de Portugal André de Gouveia, no campus da Cité internationale universitaire de Paris, rodeadas de livros em português. “Estou muito feliz e espero que esta iniciativa continue futuramente”, afirmou, referindo que a coordenadora do projeto é “muito pedagógica”. O projeto, criado em 2022 por Sara Novais Nogueira, “pretende promover a língua portuguesa, sobretudo para os mais jovens e as suas famílias”, como afirmou à Lusa, revelando que o grupo de crianças é “bastante assíduo”, participativo e com gosto pela literatura portuguesa. “É importante, sobretudo nestas camadas mais jovens, nestes novos casais, que muitas vezes são casais de pais em que um é francês e o outro é português (…), e às vezes é difícil em casa também manterem a língua portuguesa. Eu acho que isso é uma herança tão rica, manterem a língua portuguesa e ao mesmo tempo também a francesa”, disse Sara Novais Nogueira. A atividade que durou cerca de duas horas reuniu cinco crianças, dos quatro aos 10 anos, para ouvirem Sara contar de forma cativante os livros “Se esta história fosse sobre animais”, de Carlos Nuno Granja, “Versos para meninos que comem sempre a sopa toda”, de Manuela Ribeiro, mas também para explicar o mito da sopa da pedra, ao mesmo tempo que incentivava as crianças a dizer palavras em português. No fim, as crianças participaram no atelier criativo para fazer sardinhas a pintar caixas de ovos, numa alusão aos santos populares, e foram surpreendidas pela coordenadora com pinturas faciais, levando inclusive a que uma das crianças pedisse para pintar a própria coordenadora, numa demonstração de cumplicidade e de criatividade. “Acho que na ludicidade está tudo, portanto, as crianças, através da brincadeira, através das artes, podem partilhar a língua portuguesa entre eles, ouvirem, lerem e falarem”, disse a coordenadora, que se mostrou agradecida à equipa da Gulbenkian, à Casa de Portugal, à Associação Internacional de Lusodescendentes (AILD), onde exerce o cargo de diretora do Conselho Cultural, e às famílias e às crianças. Durante este ano letivo, o Literanto trouxe a Paris o escritor Carlos Nuno Granja, Adélia Carvalho e Pedro Seromenho, “grandes da literatura infantojuvenil” na escrita e na ilustração, que inspiraram uma das crianças a ilustrar e o pai de origem francesa de outra a desenhar uma das sessões a que assistiu. A partir de setembro, e ainda sem apoio financeiro do Estado e de instituições, Sara Novais Nogueira está já a alinhavar a vinda da artista plástica portuguesa Mafalda Rocha, com o projeto dos 50 rostos da democracia, porém ainda com dificuldade em arranjar forma de trazer as obras de Portugal até à capital francesa. As atividades do Literanto podem ser acompanhadas pela página de Facebook de Sara Nogueira, e dos ‘sites’ da AILD, da Bibliothèque Gulbenkian e da Citescope. A educadora de infância é ainda coordenadora do projeto do mapeamento de autores lusófonos a residir fora de Portugal da AILD, uma iniciativa que começou em França, mas que pretende abrir a outros países e que terá uma feira em Portugal entre este e o próximo ano. “Não temos tido muitas inscrições ao contrário do que eu pensaria”, revelou Sara Novais Nogueira, justificando que “é importante” este mapeamento para convidar os artistas e dar mais destaque aos seus trabalhos. A AILD, criada em 2019 e com sede em Lisboa, tem como objetivo promover ações e estratégias de proximidade nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo e da língua e cultura portuguesas, como o concurso literário “As minhas férias em…”, que conta com a participação com cada vez “mais qualidade” e criatividade, segundo Sara Novais Nogueira. . Maria Constantino, Lusa