RTPi difunde este domingo um documentário de Carlos Pereira sobre Fado em França_LusoJornal·Cultura·20 Junho, 2025 A RTP Internacional começou no domingo passado a difundir uma série de 8 documentários intitulada “O extraordinário percurso da Comunidade portuguesa de França” com realização de Carlos Pereira e produção da Aniki Media Productions, uma empresa de produção de conteúdos audiovisuais com sede na região parisiense. O segundo episódio, intitulado “Um universo fadista em França”, vai ser difundido este domingo, dia 22 de junho, às 20h00 (hora francesa) e vai ter redifusão na quinta-feira, dia 26 de junho, à meia-noite. Esta é uma oportunidade para falar com o realizador desta série documental. . Porque decidiu fazer um episódio desta série sobre Fado? Na verdade, associa-se muitas vezes a emigração à música popular ou à música ligeira. Pensei desconstruir esta imagem. Mas quando comecei a ver o número de portugueses no jazz, na música clássica e lírica, até no rock, apercebi-me que havia matéria para muitos mais episódios. Lembrei-me então de um dia ter visto um documentário sobre fado realizado pelos realizadores Ruben Alves e Christophe Fonseca e na altura eu tinha pensado “que pena terem deixado de fora o Fado que se faz em Paris”. Então deitei mãos à obra porque sei que há matéria suficiente para trabalhar este assunto, e que não conhecido em Portugal, nem pelo meio fadista.. . Quais as maiores dificuldades para a realização deste episódio? Sabia de antemão que não ía poder falar com toda a gente porque este universo fadista é grande. Selecionar é sempre uma dificuldade. Custa-me sempre deixar pessoas de lado, sobretudo quando é gente com grande qualidade. Para tal contei com a ajuda e os conselhos importantíssimos do Jean-Luc Gonneau, un francês que conhece bem mais de fado do que eu, e que já é colaborador do LusoJornal há muitos anos. O Jean-Luc Gonneau é o “fio condutor” deste episódio. . E qual foi a escolha dos fadistas? Eu gosto muita da Mónica Cunha, bem na tradição fadista. Nasceu em Portugal e veio para França onde é professora de português. Em contrapartida, temos a Jenyfer Rainho, ainda mais “tradicional” do que Mónica Cunha, mas nasceu em França. Ela nunca morou em Portugal, mas conseguiu, com muita paixão e com muita persistência, impor-se neste universo fadista. Também gosto muito da Tânia Raquel Caetano, que vem de outros registos musicais, como a Bossa Nova e traz novas sonoridades ao Fado. Entrevistei a Lizzi, que acompanho há muitos anos. A Lizzi é francesa, mas conseguiu impor-se no universo do Fado e hoje é uma peça incontornável. Acabei também por ir a Lyon, onde há uma escola de Fado liderada pela Ana Bela. Foi importante ver que há lusodescendentes a querer aprender a cantar Fado e também franceses. Isso já se viu também em Paris, com a então Academia do Fado. . Também se vai ver cantar Fado no documentário? Claro que sim. Para além destas fadistas que citei (é verdade que há poucos homens a cantar fado atualmente) também ouvimos outros fadistas a cantar, nem que seja por instantes, como a Conceição Guadalupe, a Teresa Carvalho, a Sofia Paula, a Linda Mergulhão, o João Rufino, entre outros. E o Jean-Luc Gonneau, claro, que também tinha de cantar. . Mas fado também implica música, não é? Claro que sim. Por isso temos um guitarrista da velha guarda, mais “purista” como o Manuel Miranda, e o mais conhecido de todos os guitarristas em França, o Filipe de Sousa, homem também bastante aberto a outras sonoridades. Mas no documentário temos também a Odete Fernandes, que apresenta um programa de Fado na rádio Alfa, a Alexandra Vieira que escreveu um livro chamado Júlia Florista e que frequentou a Academia do Fado de Paris, o José Luís Marques, que foi agente da Amália Rodrigues em França, quando ela dedicava um mês por ano para cantar para emigrantes. Temos ainda o historiador Georges Viaud que fala das mais antigas casas de Fado em Paris, nomeadamente a da Clara d’Ovar, criada em 1956… . Hoje já não existe… Já não existe há muitos anos, mas foi frequentada por Belmondo, Delon, Deneuve ou Aznavour… Nos anos 80 havia muitos restaurantes portugueses que mandavam vir fadistas de Portugal, mas é verdade que hoje não há casas de fado nem restaurantes com um elenco permanente em Paris. E é estranho, porque cada vez mais franceses visitam Portugal, vêm de lá a dizer que gostam de Fado, mas aqui ninguém rentabiliza isso. Se eu não fosse jornalista, abria uma casa de Fados em Paris (risos). Mas aqui há outros problemas: faltam guitarristas. Fora de Paris este problema ainda é bem mais dramático porque há gente que gosta de cantar e não tem acompanhamento, em Grenoble, em Dijon, no Pays Basque, em Colmar,… Outro problema é a quase falta de contacto entre fadistas de Portugal e fadistas de cá. São mundos que quase nunca se encontram, salvo algumas exceções de Mónica Cunha ou de Tereza Carvalho. São mundos que praticamente não se cruzam. . E então? Qual é a melhor fadista em França? Os gostos não se discutem e há cantores para todos os gostos. Mas, pessoalmente, considero que temos por aqui uma fasquia bem alta. . Série: “O extraordinário percurso da Comunidade portuguesa de França” Realizador: Carlos Pereira / Aniki Media Productions Episódio: “Um universo fadista em França” Difusão: domingo, dia 22 de junho, às 20h00 (hora francesa) Redifusão: quinta-feira, dia 26 de junho, à meia-noite Canal: RTP Internacional