Saúde: Ansiedade e o Regresso ao Trabalho

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Experimentar uma pitada de ansiedade é uma experiência intrínseca e saudável, pois a base da ansiedade é o medo funcional. O mecanismo do medo opera como um sistema de alerta do nosso organismo, indicando que algo pode não estar correto. É uma reação inerente à nossa natureza, desenhada para nos proteger e orientar nas situações desconhecidas que podem gerar ansiedade, culminando, por vezes, num medo discernível. Este medo é uma espécie de sinalizador, uma luz que acende para nos avisar de possíveis perigos iminentes, muitas vezes acompanhada por sensações físicas que se fazem sentir de forma intensa.

Ao experimentar este tipo de medo, somos compelidos a tomar precauções contra as adversidades que podem surgir, permitindo-nos estar preparados para enfrentar o desconhecido. Esta manifestação de medo, conhecida como ansiedade funcional, é uma aliada, uma voz interior que nos aconselha a nos resguardarmos e nos adaptarmos ao ambiente que nos rodeia.

Contudo, existe um ponto em que o medo pode desviar-se do caminho da razão. Quando este medo ultrapassa os limites da ameaça real, tornando-se irracional e esmagador, quando os sinais de alarme ressoam com intensidade exagerada. Mas sobretudo, quando esse medo é desproporcional à ameaça, por definição irracional, com fortíssimos sinais de perigo, e também seguido de “evitação” das situações causadoras de medo, chamamos a isso uma fobia irracional, medo patológico ou ansiedade disfuncional.

Portanto, é vital compreender que o medo, enquanto protetor e orientador, é uma faceta natural da condição humana. Ele atua como um farol nas situações desconhecidas, iluminando a nossa jornada e alertando-nos para as possíveis tempestades à frente. No entanto, também é crucial discernir quando esse farol se torna excessivamente intenso, conduzindo-nos para águas turvas e perturbadoras. Ao reconhecer essa linha delicada entre um medo saudável e uma ansiedade que debilita, somos capazes de manter o equilíbrio emocional e navegar com confiança pelos desafios que a vida nos apresenta.

Ora, imagine que a ansiedade fosse algo semelhante àquela sensação, conhecida por alguns que sofrem de ansiedade antecipatória, quando estamos prestes a entrar num elevador cheio. Quem sofre de claustrofobia, por exemplo, tem tendência a hesitar, e nessa altura questionamos, talvez esperemos pelo próximo. A vida, como esse elevador, está repleta de momentos de tensão, e em algum momento, todos nós enfrentamos esse desconforto. Convenhamos, a ansiedade é uma emoção tão entrelaçada na nossa experiência diária que quase a tomamos como garantida. Sentimentos de preocupação, insegurança, palpitações aceleradas – tais sinais são comuns e, até certo ponto, necessários. Eles atuam como o sistema de alarme do corpo, alertando-nos para perigos potenciais e preparando-nos para enfrentá-los. Mas qual é o limite entre o saudável e o prejudicial? Pense na ansiedade como um chá. Na medida certa, pode ser revigorante e até benéfico. Em excesso, porém, pode tornar-se amargo e insuportável. E quando essa “chávena de ansiedade” transborda, desencadeia um sofrimento físico e emocional que é difícil de suportar.

Nesta era da informação e das multitarefas – termo que provém do inglês multitasking -, muitas vezes somos pressionados a ultrapassar os nossos limites, levando ao que o escritor Augusto Cury chamou de “Síndrome do Pensamento Acelerado”, quer dizer, não conseguimos parar os pensamentos nomeadamente os catastróficos e que vai gerar ansiedade antecipatória. Imagine algo semelhante à sensação de ter várias abas abertas num navegador de ‘internet’, obviamente isso desgasta o nosso bem-estar emocional porque exige bastante esforço e atenção permanente.

Infelizmente, com a pandemia Covid isso ainda mais se agravou, e a atestar isso temos um aumento observado no consumo de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos em países como Portugal. Não é surpreendente que o consumo de medicamentos para a ansiedade esteja a aumentar em toda a Europa, e sobretudo entre os portugueses, percebe-se porquê.

O período de confinamento imposto pela pandemia veio ampliar as lentes pelas quais observamos os seus impactos profundos, tanto físicos quanto mentais. Particularmente, crianças e jovens, imersos na sua fase de formação e desenvolvimento, parecem enfrentar os ventos mais fortes desta tempestade. Recorrendo ao estudo conduzido na Universidade do Porto entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021, encontramos números inquietantes: 26,9% dos inquiridos evidenciaram sintomas de ansiedade e 20,4% revelaram sintomas concomitantes de depressão. Estes valores, que floresceram “sobretudo após o início da pandemia”, não são meras estatísticas, mas sim alertas sonoros sobre o estado mental da nossa juventude. A tecnologia, outrora vista como uma ferramenta educativa e de lazer, durante a pandemia assumiu contornos ambíguos. Com ela, emergiram emoções mais intensas: um isolamento paradoxal na era da conectividade, ansiedade crescente e, em alguns casos, episódios de raiva. As evidências sugerem uma relação proporcional entre o tempo passado diante dos ecrãs e o aumento da ansiedade. Por isso, mais do que nunca, é imperativo dialogar sobre emoções, permitindo que as crianças desenvolvam uma relação equilibrada com a tecnologia. A ciência demonstra que a ansiedade não faz distinção de género, mas algumas pesquisas sugerem que as mulheres podem ser mais suscetíveis a perturbações relacionadas com a ansiedade. Num mundo em constante mudança, como o nosso, as pressões sociais e a necessidade de equilibrar várias tarefas podem desempenhar um papel significativo neste cenário.

Vejamos o medo irracional, por exemplo. Aquele arrepio que percorre a nossa espinha quando ouvimos um ruído estranho à noite é o mecanismo de defesa do corpo em ação. No entanto, quando esse medo se torna desproporcional, evoluindo para fobias ou ataques de ansiedade, requer atenção. Fobias são medos intensos e persistentes relacionados com objetos, situações ou interações sociais. Estudos indicam que predisposições genéticas, com experiências de vida, desempenham um papel crucial no desenvolvimento das fobias.

Hoje, o stresse e a ansiedade crónicos tornaram-se epidémicos em muitas sociedades modernas. E este “coquetel tóxico” de vida acelerada, com a constante síndrome de pensamento acelerado e as multitarefas, e sejamos claros, isso deixa-nos vulneráveis a ataques de ansiedade. Estes são episódios intensos de medo que podem incluir palpitações, falta de ar, tonturas e uma sensação avassaladora de que algo terrível está prestes a acontecer.

Desmistificando soluções para este problema multifacetado, é evidente que, embora a complexidade exista, o início da resolução pode residir em gestos simples. A vigilância atenta a sinais de irritabilidade ou retraimento nas crianças é crucial. Incentivá-las a praticar exercício físico e fomentar atividades conjuntas, sejam elas pintar, dançar, ou até mesmo uma simples caminhada ao ar livre, poderá ser um bálsamo para estas mentes agitadas.

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Ansiedade e o Regresso ao Trabalho

Voltemos ao exemplo anterior, da toma do chá em excesso, imaginemos agora a ansiedade como o barulho ensurdecedor de uma chaleira quando a água começa a ferver. Esse som estridente avisa-nos que está na hora de abrandar a temperatura, ou sejam desligar o bico do fogão. É um pouco assim que atua a nossa querida amiga ansiedade, uma característica que, segundo Freud (1926), atua como um sinal de perigo interno. Ora, o corpo é uma máquina que também se desgasta, e esta analogia da chaleira é nada mais nada menos de que um alertar de que é necessário olhar mais para nós: parar ou abrandar. Achamos que aguentamos tudo, que podemos fazer tudo, mas o corpo não aguenta e dá sinais para abrandar. Por que não respeitar os sinais do corpo? De acordo com o autor Barlow, a ansiedade é uma resposta a uma ameaça percebida, mesmo que essa ameaça seja apenas imaginada. No entanto, às vezes parece que esse alarme não quer parar de tocar. Recordamos as palavras de Epstein, que descreveu a ansiedade como uma “sensação sem objeto”. Sentimo-nos como se estivéssemos sempre à beira de um precipício, mesmo quando apenas estamos à porta do elevador no nosso prédio. E a quantidade de informação que recebemos diariamente? Outro autor, Spitzer, descreveu este fenómeno como “sobrecarga de informação”, comparando-o à forma como os computadores processam dados. E com esta vida sempre no modo “a mil à hora”, é como se andássemos sempre com uma chávena na mão. Um chá quente de ansiedade que, por vezes, nos aquece, mas outras… queima! E não é apenas uma sensação; Sapolsky afirmou que o stresse crónico pode realmente afetar a nossa saúde física.

Por isso, é importante perceber quando a chávena está a transbordar. O trabalho pioneiro de Seligman mostrou que a sensação de impotência pode ser aprendida, mas com as ferramentas certas, podemos “desaprender” essas respostas e encontrar formas de lidar com a ansiedade. No fim de contas, a ansiedade é essa amiga barulhenta que só quer o nosso bem. E perceber essa diferença, entre o sussurro útil e o grito ensurdecedor, é o segredo para navegar neste mar agitado que é a vida moderna. Importa, sim, fazer pausas, olhar mais para nós e no meio deste turbilhão todo, só temos de lembrar: somos mais fortes do que pensamos e mais resilientes do que imaginamos, como o resistente Dweck nos ensinou.

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Ansiedade: Sintomas, Causas, Estratégias para o Tratamento e a Aplicação da Hipnose

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Sintomas e tipos de ansiedade

Os sintomas da ansiedade variam, mas as sensações mais comuns estão associadas à apreensão, preocupação, impotência, medo ou mesmo pânico. Estes, por sua vez, manifestam-se frequentemente através de sintomas físicos como aumento da frequência cardíaca, respiração acelerada, suores, tremores e sensação de fadiga.

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É importante notar a especificidade de alguns tipos de ansiedade:

– Ataques de pânico: Estes episódios surgem repentinamente e podem ser extremamente intensos, levando a sensações semelhantes a um ataque cardíaco ou asfixia.

– Agorafobia: Aqui, a ansiedade manifesta-se em ambientes onde o indivíduo se sente preso ou encurralado.

– Fobias sociais: A ansiedade ocorre em situações de exposição social ou pública.

– Doença obsessiva compulsiva: Caracteriza-se pela presença de pensamentos recorrentes e um impulso quase incontrolável de repetir certos comportamentos ou rituais.

– Stress pós-traumático: O indivíduo sente como se estivesse a reviver um evento traumático, o que pode desencadear respostas emocionais e físicas muito fortes.

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As causas

Em relação às causas da ansiedade, estas podem, por vezes, ser claras, mas em outros casos permanecer obscuras, o que pode intensificar ainda mais o sentimento de ansiedade. É vital, portanto, identificar os fatores desencadeadores durante a terapia. Estudos apontam para possíveis bases genéticas associadas à predisposição para a ansiedade.

Outras causas frequentes incluem experiências stressantes e a incapacidade de gerir adequadamente esse stress. O consumo de substâncias como álcool, drogas, chá, café, tabaco e até certos medicamentos também pode contribuir para episódios ansiosos.

De um modo geral, problemas e desafios do quotidiano, juntamente com conflitos internos nos planos afetivo, emocional e sexual, são frequentemente desencadeadores de ansiedade e, nos casos mais intensos, angústia.

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A Hipnoterapia e o Seu Papel no Tratamento da Ansiedade

Uma das técnicas menos convencionais, mas cada vez mais aceite no manejo da ansiedade, é a hipnose. A hipnose clínica é uma ferramenta terapêutica que facilita o acesso ao subconsciente, permitindo que o indivíduo explore e reformule experiências e crenças que podem estar na raiz da sua ansiedade.

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Vantagens da Hipnose em comparação com outras abordagens:

1. Menos Dependência de Medicamentos: Ao contrário dos psicofármacos, que podem ter efeitos secundários e causar dependência, a hipnose não possui efeitos colaterais químicos.

2. Autonomia do Paciente: A hipnose capacita o paciente, fornecendo-lhe ferramentas para autoregulação e gestão dos seus sintomas.

3. Tratamento Direcionado: Enquanto a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pode exigir várias sessões para identificar e reestruturar crenças disfuncionais, a hipnose pode acelerar este processo, acedendo diretamente ao subconsciente.

4. Flexibilidade Terapêutica: A hipnose pode ser integrada em outras abordagens terapêuticas, complementando e potenciando os seus efeitos.

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Plano de Ação para Lidar com a Multitarefa e a Ansiedade Antecipatória

Relembro que a ansiedade, como manifestação humana, é uma resposta natural e até benéfica em determinadas situações. Serve como um mecanismo de defesa, ajudando o indivíduo a reagir a situações de ameaça ou perigo. Contudo, quando excessiva ou prolongada, pode tornar-se patológica, afetando gravemente a qualidade de vida e o bem-estar do indivíduo.

É fundamental saber gerir as multitarefas e a ansiedade, mas para isso uma abordagem multifacetada é o recomendável, desde a priorização de tarefas até à incorporação de técnicas de relaxamento. Manter um espaço de trabalho organizado, fazer pausas regulares, estabelecer redes de apoio e evitar estimulantes são algumas das estratégias benéficas. Deixo algumas dicas que poderão ajudar nesse sentido:

1. Priorização: Identifique as tarefas mais importantes e comece por elas. Reduza o número de multitarefas, concentrando-se numa de cada vez.

2. Técnicas de Relaxamento: Meditação, respiração profunda e exercícios de mindfulness podem ajudar a manter a calma e a concentração.

3. Pausas Regulares: Durante o trabalho ou estudo, faça pausas curtas para descansar a mente.

4. Estabelecer Limites: Defina limites para o uso de dispositivos eletrónicos e redes sociais. Estes frequentemente agravam a sensação de sobrecarga de informações.

5. Espaço de Trabalho Organizado: Manter um ambiente de trabalho limpo e organizado pode reduzir o stresse e melhorar a concentração.

6. Formação e Capacitação: Considere a possibilidade de receber formação em gestão de tempo e organização.

7. Terapia e Aconselhamento: Se a ansiedade persistir, considere procurar a ajuda de um profissional de saúde mental para desenvolver estratégias de enfrentamento.

8. Exercício Regular: A atividade física é uma excelente maneira de reduzir o stress e melhorar o bem-estar geral.

9. Evite Estimulantes: Reduza o consumo de cafeína, tabaco e álcool, especialmente se forem identificados como desencadeadores da sua ansiedade.

10. Estabeleça Redes de Apoio: Falar sobre as suas preocupações com amigos, familiares ou colegas pode proporcionar alívio e novas perspetivas.

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Em conclusão, a ansiedade é uma condição complexa que muitos enfrentam. Reconhecer os seus sintomas e causas, e aplicar estratégias proativas – seja através de métodos convencionais ou terapias alternativas como a hipnose – é possível gerir eficazmente esta condição e melhorar significativamente a qualidade de vida.

Termino com uma reflexão, evocando a sabedoria popular: “Em mente sã, corpo são”. E é sobre esse pilar que devemos construir o nosso futuro, pois são as pessoas com maior inteligência emocional que se apresentam como indivíduos mais saudáveis, felizes e produtivos. E que, como sociedade, possamos aspirar a uma verdadeira “revolução das emoções”.

Dr. Alberto Lopes

Neuropsicólogo/hipnoterapeuta

Clínicas Dr. Alberto Lopes – Psicologia & Hipnose Clínica



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