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Sindicato de jornalistas da Guiné-Bissau pede ajuda a Marcelo e a Macron


O Sindicato de Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social da Guiné-Bissau (SINJOTECS) lançou na semana passada um apelo aos Presidentes de Portugal e de França para ajudarem o homólogo guineense a mudar a relação com a imprensa.

A posição do sindicato surge na sequência de declarações públicas do Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, que disse que os jornalistas são “todos da oposição” e ameaçou acabar com a audição de analistas, concretamente na RTP, sobre a situação política do país.

O órgão que representa a classe reagiu com “estupefação” ao que considerou de “ataques feitos” pelo Chefe de Estado e, pela voz da Presidente, Indira Correia Baldé, apelou à intervenção dos Presidentes de Portugal e de França.

“Em nome dos profissionais da Guiné-Bissau apelamos ao Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa – o Presidente da República da Guiné-Bissau fala quase todos os dias dele, que são amigos -, pedimos aqui, a partir da Guiné-Bissau, a partir da Casa dos Direitos, que nos acuda, que sensibilize o seu homólogo para como lidar com a imprensa e a importância de uma imprensa livre, a importância da informação como bem público”, disse.

O apelo seguiu também para o Presidente francês, Emmanuel Macron, a quem o Chefe de Estado guineense se refere também como amigo, “para que use a sua influência, que ajude o Presidente Umaro Sissoco Embaló”.

“Ele precisa de ajuda em termos da relação com a imprensa. Não é possível o Presidente dar instruções ao Ministério do Interior para monitorizar os órgãos de comunicação social e para que quem fizer algum pronunciamento que é contra ele ou o Estado ser detido”, afirmou a Presidente do Sindicato.

“Em que mundo estamos, que tipo de informação agora vamos fazer. Se alguém [jornalista] fizer algo que não está certo, há tribunais para isso, agora instruir os polícias para fazerem isso, em que Estado estamos, que tipo de Democracia temos?”, questionou.

A Presidente do Sindicato dos Jornalistas guineense disse que os profissionais estão “cansados” e insistiu no pedido de ajuda exterior, dirigindo-se também ao Parlamento português.

Indira Correia Baldé agradeceu “a prontidão dos colegas do Sindicato dos Jornalistas de Portugal”, que repudiou as declarações do Chefe de Estado guineense e expressou solidariedade aos profissionais guineenses.

“Não estamos só, sabemos disso, recebemos várias outras mensagens de solidariedade dos nosso camaradas, vamos continuar a lutar, mas queremos que os homólogos do Presidente Umaro Sissoco Embaló nos ajudem para lhe fazer mudar o seu relacionamento com a imprensa, é fundamental”, declarou.

Indira Baldé vincou que os jornalistas não são “opositores de ninguém, que “em todos os órgãos que ele (Presidente da República) frisou como exemplo, de países como Cabo Verde, Angola, Moçambique, França, Senegal, em todos esses países, todos os jornais apresentam após os noticiários análises e comentários”.

Acrescentou que o Chefe de Estado “imputa sempre a responsabilidade aos jornalistas” sobre a imagem do país, mas que é o Presidente que “está cada vez mais a colocar a imagem do país em causa, porque este ataque tem o seu peso para a imagem do país”.

“Nós somos reprodutores dos factos que acontecem na nossa sociedade, daquilo que os políticos produzem, então que os políticos façam um bom trabalho e nós vamos reproduzir”, afirmou.