Lusa | Miguel A. Lopes

Temporada’22: Mensagens políticas e explosão de cor na primeira mostra antológica de Gérard Fromanger em Lisboa

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Mensagens políticas, denúncias antissistema através de retratos da vida quotidiana e da exploração da cor, atravessam a primeira exposição antológica do artista francês Gérard Fromanger, em Portugal, que foi inaugurada esta quarta-feira, no Museu Berardo, em Lisboa na presença das Ministras da Cultura dos dois países: Roselyne Bachelot e Graça Fonseca.

Intitulada “O Esplendor”, esta exposição é o primeiro evento em Portugal da programação da Temporada Portugal-França 2022, depois da abertura oficial da iniciativa, na capital francesa, no último fim de semana, com um concerto de Maria João Pires, com a Philarmonie de Paris, e a inauguração da obra de Pedro Cabrita Reis, “As Três Graças”, no jardim das Tulherias.

A Comissária da temporada portuguesa, Manuela Júdice, presente na visita de imprensa à exposição, sublinhou a importância da inauguração da mostra de Gérard Fromanger (1939-2021) como o primeiro evento, em Portugal, que mobilizará em 55 cidades – “que poderão ser mais, porque algumas estão a pedir” para participar, declarou.

O título da exposição, “O Esplendor”, é retirado das séries “Splendeurs” I, II e III, que constituem o núcleo da mostra, para prestar homenagem a um escritor de referência para Fromanger, Fernando Pessoa, e ao seu poema “O Esplendor”.

“É a primeira antológica do artista desde a sua morte”, a 18 de junho do ano passado, apontou a Comissária portuguesa.

Por seu turno, a Diretora do Museu Coleção Berardo, Rita Lougares, disse que esta também é a primeira exposição individual de Gérard Fromanger em Portugal – artista associado às movimentações ativistas de Paris, em particular do Maio de 1968.

A exposição reúne cerca de 60 quadros, e resulta de um projeto iniciado com o museu em 2018, ainda durante a vida do artista. “Fromanger usava a arte como uma arma política, mas o seu trabalho dirigiu-se progressivamente para a exploração da própria pintura e das suas técnicas e potencialidades”, apontou o Curador da mostra, Éric Corne, logo no início do percurso do museu, instalado no Centro Cultual de Belém.

A reflexão política e social, o quotidiano da sociedade, a movimentação das pessoas nas ruas, junto aos cinemas, nos quiosques de venda de jornais e revistas e nas exibições de filmes pornográficos são temas inscritos nos quadros selecionados para esta antológica, num percurso que vai desde os anos 1960 até 2019.

Uma sala dedicada à literatura e filosofia, e à amizade de Fromanger com o escultor e pintor suíço Alberto Giacometti, a par de um grande painel com dezenas de nomes de artistas com quem travou amizade ou admirava – Maria Helena Vieira da Silva encontra-se entre eles – abre a exposição, e na qual se encontra também testemunho da influência da pop art no seu trabalho, eminentemente plástico e muito explorador dos materiais e técnicas.

Outras amizades portuguesas que fizeram parte do universo emocional de Gérard Fromanger foram Paula Rego, que retratou em 2019 – também inserido nesta mostra – e a artista Lourdes Castro, falecida em janeiro deste ano, que viveu em Paris, assim como o artista René Bertholo, com quem foi casada.

As mensagens políticas, criadas com base em fotografias do quotidiano, surgem através da linguagem figurativa e de uma “explosão de cores” que, para Fromanger, “eram como as pessoas, com a mesma riqueza interior, diversidade e luz”, sublinhou o Curador.

Questionado pela Lusa sobre a necessidade de usar a pintura como “arma política”, criticando pressões sociais e sistemas políticos, da Europa, à China, que visitou, Éric Corne respondeu que essa intenção “nunca se perdeu, mas derivou depois para uma crescente exploração das técnicas da pintura e das cores”.

“Ver uma exposição de Gérard Fromanger é como mergulhar na luz”, comentou o Curador, antes de passar para as salas seguintes da mostra, onde os contextos históricos também se iluminam para melhor explicar a obra.

É o caso do início dos anos 1960, em Paris, quando toda a arte se verga à introdução da pop art vinda dos Estados Unidos, recorda.

Essa influência na obra do artista manifesta-se em obras como “Le cheval qui rit” (1966), “La conquête de l’impossible” (1964), “Salon de Thé” (1971), ou nas séries “Pétrifiés” e “Boulervad des Italiens”, criadas nessas décadas.

Uma miríade de cores percorre a maioria das obras, sobretudo as de maiores dimensões, mas é o vermelho que mais se destaca. Fromanger tinha uma teoria muito própria sobre as cores: tanto podiam destacar o anonimato da multidão que percorria as ruas, como podiam explorar um lado plástico para estimular os sentidos.

Há referências do artista ao cinema, às ruas de Paris, à visão dominante do sexo, em termos sociais e políticos, à comunicação social, à socialização, ao ‘voyeurismo’, sempre convicto de que as cores eram como as pessoas, “com vida interior própria e força íntima”.

“É um artista que continua vivo, porque os seus temas continuam vivos”, sublinhou o Curador, durante o percurso pelas obras, que culmina na exibição da curta-metragem “Film-tract n°1968”, de 1968, realizado com Jean-Luc Godard, o precursor da ‘nouvelle vague’, na sala “Le Rouge”.

Ao longo do processo de trabalho e ao longo das décadas, o artista francês acabou por concluir: “A felicidade não sei se é possível, mas a sensualidade existe mesmo”.

A Temporada Portugal-França 2022 é uma iniciativa de diplomacia bilateral entre Portugal e França, que visa aprofundar o relacionamento cultural entre os dois países.

Conta com uma programação que decorrerá entre fevereiro e outubro deste ano, em várias áreas, entre espetáculos, exposições e manifestações de gastronomia, entre outros eventos.

A exposição “O Esplendor” ficará patente até ao dia 29 de maio, no Museu Coleção Berardo.

 

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