Três filmes franceses da Nouvelle Vague em ciclo dedicado a Mário Soares na Figueira da Foz


Três filmes franceses da Nouvelle Vague, assinados por Rohmer, Godard e Truffaut, foram as propostas de um ciclo, na Figueira da Foz, dedicado a Mário Soares, integrado nas comemorações do centenário do nascimento do antigo Primeiro-Ministro e Presidente da República. O ciclo de cinema intitulou-se “Mário Soares – Um Homem de Cultura”, decorreu na semana passada no Centro de Artes e Espetáculos (CAE) e no Quartel da Imagem da Figueira da Foz, no distrito de Coimbra, com curadoria de Mário Barroso, residente em Paris, e apresentação de Abílio Hernández em todas as sessões.

Aos filmes dos três realizadores franceses, juntou-se ainda “Mudar de Vida”, do realizador português Paulo Rocha,

A programação começou com a exibição de “A minha noite em casa de Maud”, de Éric Rohmer (1969), seguido de “O Acossado” (1960), de Jean-Luc Godard, obra-prima do cinema francês da Nouvelle Vague, com Jean-Paul Belmondo no principal papel e depois com “Beijos Roubados”, realizado por François Truffaut (1968).

O filme “Mudar de Vida” (1966), de Paulo Rocha, foi escolhido por ser interpretado por Maria Barroso, a mulher de Mário Soares, que foi atriz.

“‘A Minha Noite em Casa de Maud’ é lateral, é de um realizador que sempre esteve um pouco à margem da atividade dos seus companheiros, o Eric Rohmer sempre foi um homem um pouco isolado”, explicou Abílio Hernández.

Eric Rohmer, segundo Abílio Hernández, era católico, o que o separava dos seus companheiros da nova vaga, e essa condição, adiantou, faz-se notar neste filme (considerado um conto erótico-filosófico), designadamente na luta da personagem principal, interpretada por Jean-Louis Trintignant, “entre o desejo e o dever, a ideia do pecado”.

Também conhecedor e especialista em cinema, Abílio Hernández destacou ainda “Mudar de Vida” como um filme charneira do cinema novo português, da autoria de Paulo Rocha, “um dos seus principais realizadores”.

Sobre a protagonista de “Mudar de Vida” – Maria Barroso, mulher de Mário Soares – Abílio Hernández lembrou que foi atriz “sobretudo de teatro”, recordando uma sua apresentação numa peça teatral, em Coimbra, no teatro Avenida, na década de 1960. “O Avenida estava completamente cheio e, naquela altura, antes das obras, tinha uma lotação perto das mil pessoas, era uma sala extraordinária. E lembro-me dessa sessão, não apenas pela Maria Barroso, mas também por estarem dezenas de agentes da PIDE”, frisou.

“O espetáculo tinha passado pela censura, mas o facto é que a Maria Barroso era uma figura proeminente da oposição democrática ao regime e aquela era uma sessão especial”, notou o professor catedrático da Universidade de Coimbra.

Voltando ao cinema, o apresentador “com todo o gosto” da iniciativa dedicada a Mário Soares, considerou o conjunto dos quatro filmes como “um excelente ciclo”, embora tenha admitido desconhecer a eventual condição de cinéfilo do homenageado.

“A verdade é que ele passou boa parte do seu exílio em Paris. E Paris estava, justamente, no centro desta nova vaga, foi durante muitos anos a capital cultural do mundo”, observou Abílio Hernández.