Um modo funcionário de viver?

Têm cerca de 25 anos. Ela é cidadã francesa de ascendência italiana e ele francês de origem portuguesa. Cultos um e o outro. Ambos dominam várias línguas. Ele fala, entre outras, um Português corretíssimo, ainda que com um ligeiro sotaque afrancesado que o torna simpático a quem ouve. Vivem na Île-de-France. Decidiram, no passado mês de agosto, ir de férias a Portugal. Andaram pelo Minho e Trás-os-Montes. Regressaram a França no fim de agosto, tendo saído pela fronteira de Vilar Formoso.

De Portugal trouxeram duas péssimas recordações.

Passamos aos factos:

Na quarta-feira dia 16 de agosto estiveram no Gerês, concretamente em Vilar da Veiga, na praia fluvial. Ao fim da tarde (mas ainda em pleno dia), quando se preparavam para partir, encontraram um dos vidros do carro quebrado e o porta-bagagens esvaziado de tudo o que lá tinham deixado e que se revestia de certa importância.

Claro que Portugal passa por ser (e é) um país calmo, seguro e de gente simpática…. Mas, como sabemos, não há regra sem exceção.

Desgostosos, os dois jovens puseram-se a caminho mas com intenção de apresentar queixa às autoridades. Já na estrada, um agente da Guarda Nacional Republicana (GNR) sugeriu-lhes um dos postos mais próximos, o de Póvoa de Lanhoso.

Para lá se dirigiram. Chegaram, explicaram o que se lhes tinha passado e o que pretendiam. Aqui veio a maior surpresa: os senhores agentes recusaram-se a receber a queixa porque – disseram – «está na hora de jantar»… Assim mesmo. E os dois jovens (tal como eu próprio e muita gente) estavam convictos que num posto das forças policiais o serviço era permanente. Será assim ou é subjetivo?

Afinal, aqueles senhores a quem a Nação confiou um uniforme, com a autoridade que lhe é inerente e uma arma, aqueles senhores pagos com o dinheiro cobrado aos cidadãos por via de impostos, suspendem à hora da refeição…

O leitor desculpe o desabafo: isto mais parece um episódio da história da «Guerra de Raul Solnado». Ou estaremos perante o «modo funcionário de viver» de que nos fala Alexandre O’Neil?

O jovem moço terá falhado na estratégia de comunicação, como agora se diz. Se em vez de falar Português se exprimisse em Inglês que domina perfeitamente, ou ela em Italiano… Talvez os senhores agentes se tivessem decidido a atrasar o jantar. Quem sabe?

Tudo isto se passou no Portugal de 2017, em terras da «Maria da Fonte»…

Para concluir: os dois jovens acabaram por apresentar queixa no dia seguinte, já no distrito da Guarda, perante algum desconforto dos agentes que os ouviram, desta vez com toda a atenção e disponibilidade.

Ignoro se pensam voltar, ou se irão sugerir férias em Portugal aos amigos.