Lusa | Nuno Veiga

25 de Abril: O monte onde se realizou a primeira reunião secreta dos Oficiais é agora propriedade de uma francesa


Desde 2019, a proprietária do Monte Sobral, a propriedade onde, no dia 09 de setembro de 1973, foi organizada a primeira reunião secreta dos oficiais, que mais tarde resultou no golpe de estado do 25 de Abril, é uma francesa, Annick Chef, que escolheu viver em Portugal por causa da segurança no país. Apaixonou-se pela propriedade, mesmo antes de conhecer a sua história, e comprou-a.

“Eu teria comprado na mesma, mas, depois, disse a mim própria: porque não aproveitar esta história e esta oportunidade?”, recorda.

Annick Chef comprou o monte e iniciou-se então um longo período de obras para o melhorar, porque, caso contrário, como alega, “provavelmente acabaria por se degradar cada vez mais”. Pelo meio, meteu-se ainda a pandemia. “Houve altos e baixos, mas estamos a resistir”, sublinha a francesa, que, já no seu país, foi dona de um pequeno imóvel também histórico, mas ligado à II Guerra Mundial.

A reunião de 09 de setembro de 1973 foi convocada secretamente, mas juntou 136 oficiais. Foi a primeira reunião do Movimento dos Capitães, que marcou o início do Movimento das Forças Armadas (MFA), que viria a ajudar a pôr fim à ditadura.

Um dos Capitães arranjou o “monte”, um lugar isolado, difícil de lá chegar. Secretamente, foi distribuído um mapa pelos oficiais. Não havia telemóveis nem GPS’s, mas todos apareceram, chegados de vários pontos do país. Os jovens oficiais reuniram-se, discursaram em cima do atrelado de um trator e assinaram um abaixo-assinado com reivindicações.

Estavam lançadas as bases do que viria a ser o MFA e, nos meses seguintes, sucederam-se reuniões cada vez mais ousadas.

O então proprietário do Monte do Sobral, Marco Fragoso Fernandes, não soube da reunião, o espaço foi cedido pelo rendeiro sem informar o dono. Só veio a saber umas semanas depois.

Fragoso Fernandes diz que, anos depois da reunião, criou no monte uma unidade de agroturismo, mas acabou por ter de vender porque “não era rentável”. A meio caminho entre Alcáçovas e Viana do Alentejo, no distrito de Évora, trata-se de um monte típico da região, com casas baixinhas caiadas de branco e com rodapé azul.

Atualmente tem nove quartos e uma sala para casamentos, batizados e eventos com capacidade para até 200 pessoas, os hóspedes podem ainda usufruir de um jardim e de piscina exterior. “Algumas pessoas passam espontaneamente na estrada e entram para dar uma olhadela”, mas outras “vêm dormir só para estarem naquele local”, devido à sua história, nota a proprietária.

Annick Chef, nasceu em Avignon, no sul de França, e quer fazer mais eventos para dinamizar o monte e já pensa no próximo aniversário da primeira reunião dos Capitães de Abril, no próximo dia 09 de setembro.

Anualmente, o dia está reservado para a Associação 25 de Abril, que tenciona, nas comemorações deste ano, deixar no monte uma chaimite, viatura militar historicamente associada ao 25 de Abril.

E a proprietária gostaria também de fazer uma reconstituição da reunião histórica com a ajuda da população das três freguesias do concelho: Viana do Alentejo, Alcáçovas e Aguiar.