“A ilha ausente”, de Maria Graciete Besse

No “Jornal de Letras” desta quinzena, a escritora Lídia Jorge assina um longo artigo sobre o livro “Femmes oubiées dans les arts et les lettres au Portugal (XIXe – XXe siècle)”, coordenado por Maria Graciete Besse, e que resultou de um Colóquio com o mesmo nome que teve lugar em outubro de 2015, em Paris. “Um livro que de certa forma coroa o percurso singular de Maria Graciete Besse, que tem dedicado a vida e inteligência à causa da divulgação da literatura portuguesa em França, e nessa causa, as mulheres escritoras têm ocupado um lugar/sujeito preponderante” – diz Lídia Jorge.

Com efeito, além de ter exercido uma intensa atividade universitária, Maria Graciete Besse é autora de uma importante obra narrativa e poética.

Nascida na Caparica, licenciada em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa, Maria Graciete Besse reside em França desde 1974. Ensinou em várias universidades francesas, foi responsável do Departamento de Português da Universidade de Paris IV-Sorbonne.

Os poemas de “A ilha ausente” (Casa do Sul, 2007) foram escritos depois da morte do pai da autora. “Fui aos Açores depois da morte dele – diz-nos Maria Graciete Besse, para um colóquio, e todo o cenário geográfico é da Terceira. A beleza da ilha ajudou-me a reflectir sobre a ‘arte da perda’ e a fazer o trabalho de luto”.

Na primeira parte do livro (“Em nome do pai”), a poeta tenta recuperar os “pequenos fragmentos da infância” para evocar a memória do pai, saxofonista na juventude. Daí as várias referências musicais.

Do final desta primeira parte, citamos os versos: “A morte não existe/ é apenas um vazio entre nós/ uma migração das formas/ o exílio de todos os desejos”.

Nas duas outras partes, intituladas “Arte da perda” e “O esplendor da ilha”, a autora procura “aceitar a perda como arte”, numa ilha onde “as palavras desenham jangadas/ de utopia” e “o exercício da viagem solicita o desejo/ de um encontro/ com o secreto balbuciar/ das coisas”.

“A ilha ausente” insere-se bem no percurso poético de Maria Graciete Besse, tanto pela “alquimia inquieta” contida, quanto pela fulgência da linguagem e elegância da escrita.