Adriana Molder inaugurou ontem a exposição «Noir» na galeria portuguesa AR-PAB em Paris

Foi inaugurada ontem ao fim da tarde, na galeria AR-PAB, em Paris, a exposição «Noir» da artista portuguesa Adriana Molder, com retratos de mulheres «fora do tempo», num espaço preenchido com objetos dos séculos XVI e XVII.

A mostra, que vai estar patente até 20 de julho, apresenta seis desenhos a preto e branco, inspirados no cinema e no filme ‘noir’, e as peças foram criadas a pensar na galeria de antiguidades onde iam ser expostas, «um espaço também fora do tempo», disse à Lusa a artista.

«Estes desenhos são um bocadinho fora do tempo. Não é que não pertençam a este tempo, porque eu estou viva neste tempo, mas também podem pertencer a outro tempo qualquer. Eu acho que é interessante a relação com os objetos, a maior parte deles objetos que nós já nem sabemos para que é que servem, como se estes rostos pertencessem a estes objetos e estes objetos pertencessem às pessoas que habitam estes retratos», descreveu Adriana Molder.

A artista, que vive entre Berlim e Lisboa, apontou o cinema como «muito importante» para si, «desde pequena», e neste trabalho escolheu «seis personagens femininas» que disse ter «roubado» aos filmes e «traduzido na água, na tinta-da-china e no papel esquisso».

«Noir» é a primeira exposição individual de Adriana Molder em Paris, um ano depois de ter exposto na mostra coletiva «Figuras de Convite: quatro artistas portugueses», ao lado de Ana Léon, Maria Beatriz e Maria Loura Estêvão, também na galeria de arte de expansão portuguesa Álvaro Roquette & Pedro Aguiar Branco (AR-PAB).

Álvaro Roquette, codiretor da galeria AR-PAB, contou à Lusa ser «um apaixonado pelo trabalho de Adriana Molder» e que «esta história de misturar arte contemporânea com antiguidades» é algo que já faz «há muito tempo», ainda que tenha algum «medo» por uma eventual «falta de respeito» pelo artista quando lhe «impõe» os objetos dos séculos XVI e XVII da galeria.

A mostra integra o programa da segunda edição da «Lusoscopie», uma iniciativa do Centro Cultural Camões em Paris, que promove cerca de 20 artistas portugueses na capital francesa.

«Acho que é muito importante este projeto por várias coisas. Por trazer à luz dos olhos de Paris a cultura portuguesa em forma de arte contemporânea e mostrar que nós também somos muito bons. Nós não somos só bons, nós somos muito bons», afirmou Álvaro Roquette, sublinhando que aprendeu em França que «a modéstia portuguesa não pode existir».

O galerista acrescentou que uma «lusoscopia» cultural «faz todo o sentido numa terra onde vivem tantos portugueses» que «fazem um esforço enorme por se impor socialmente, culturalmente, tecnicamente», e que se trata de mais uma «tentativa de pôr um fim ao estigma de que os portugueses só sabem arrumar casas e fazer casas bonitas e bem feitas».