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Andebol feminino: Jéssica Ferreira, internacional portuguesa em Clermont

O andebol feminino francês conta com três jogadoras portuguesas – Jéssica Ferreira, Cristiana Morgado e Beatriz Sousa – no Handball Clermont Auvergne Métropole 63, clube que atua no terceiro escalão em França.

Após 8 jogos no Grupo 4 da terceira divisão, o Clermont ocupa o quarto lugar com 18 pontos, a dois pontos dos dois líderes, o Toulouse Féminin Handball e o Bourg de Péage Drôme Handball ‘B’.

LusoJornal falou com Jéssica Ferreira, guarda-redes de 22 anos. A internacional portuguesa abordou a sua adaptação ao clube francês e os seus objetivos, mas começou por abordar o recente título de Campeão da Europa da Seleção francesa, que venceu em França por 24-21 a Rússia na final.

 

Que análise podemos fazer ao título francês?

Foi um grande jogo, um grande espetáculo, grande ambiente, sobretudo com a França a jogar em casa. As Francesas jogaram muito bem, defenderam muito bem. Ganhou com a maior justiça. Foi um bonito espetáculo de andebol feminino e a França mostrou com esta juventude que tem pano para mangas para o futuro.

 

Foi uma surpresa para si este triunfo?

Acho que a Rússia apenas perdeu um jogo frente à Suécia na última jornada da segunda fase de grupos do Europeu. As Russas estavam a praticar um bom andebol, ainda por cima com duas das melhores jogadoras do Mundo. Elas praticavam um andebol rápido, certinho, e são as Campeãs olímpicas. No entanto a França tinha um ajuste de contas a fazer, visto que tinha perdido a final nos Jogos Olímpicos. Esta final, em casa, era o cenário ideal para a França voltar aos triunfos. O que conta nestas provas é o resultado final, isto apesar da França ter perdido no primeiro jogo do torneio frente às Russas.

 

A França tem potencial para o futuro?

Sem dúvida. A França tem seis divisões no andebol feminino, e até à quinta divisão, são Campeonatos competitivos. Eu jogo na terceira divisão e defronto as equipas secundárias daquelas da primeira divisão. Essas equipas são compostas de jovens jogadoras e elas têm potencial. Estas divisões permitem uma evolução mais rápida dessas jovens atletas. É diferente em relação a Portugal.

 

Portugal não esteve no Euro?

É uma sensação um pouco estranha porque quando vi os jogos do Europeu, vi jogadoras que eu defrontei nos escalões de formação. Fiquei com um sentimento de tristeza. As Seleções femininas jovens de Portugal são competitivas, mas depois quando passamos a seniores, é muito difícil chegar a este tipo de competições. As Portuguesas abandonam a modalidade ou não se dedicam tanto porque não se pode viver do andebol. Nos outros países quando se chega a sénior, é quando se começa a ganhar a vida com o andebol. É triste ver este tipo de situações.

 

O que podemos dizer da evolução da Seleção Portuguesa?

A minha motivação para sair de Portugal foi com o objetivo de ajudar a Seleção. Estamos oito fora de Portugal, e quatro saíram na temporada passada. Somos cada vez mais a querer fazer do andebol a nossa profissão. E por consequência ajudar a Seleção a subir de nível. Temos que ir passo a passo para um dia podermos estar presentes nestas competições.

 

Quais são os objetivos do Clermont?

O objetivo é subir à segunda divisão. Não vai ser fácil porque o Campeonato é muito competitivo. Até agora temos três derrotas e estamos a dois pontos do líder. Todas as equipas podem perder umas com as outras. Vai ser uma luta até ao final.

 

Como surgiu a proposta de ir para o Clermont?

A proposta surgiu porque o manager da equipa é português. Em março jogámos com Portugal frente à Áustria em casa, e esse dirigente foi ver esse jogo. De seguida entrou em contacto comigo e com outras jogadoras. Surgiu depois a oportunidade de ir a Clermont para ver as instalações, as pessoas, a cidade, e acabei por ficar porque é um projeto aliciante. Temos aqui um aeroporto que faz ligações com Portugal, então achei que era um bom passo a dar.

 

Como foi a sua adaptação?

Tudo correu bem, ainda por cima a minha colega de posição é espanhola e falo bem com ela, sobretudo porque eu nasci na Venezuela. Assim também treino o meu espanhol (risos). No início houve dificuldades com a língua, mas agora está tudo bem.

 

Tem o estatuto de profissional?

Eu estou aqui no Clermont como jogadora profissional, eu já não estou a estudar por exemplo. Aliás acabei a minha formação em jornalismo em Portugal. Estou a 100% no andebol, é um sonho que eu tinha. Em comparação com Portugal, não tem nada a ver. Os clubes conseguem ter financiamento, apoios, e podem apostar em jogadores, até estrangeiras. Somos seis estrangeiras neste momento. A cidade de Clermont apoia muito o desporto, principalmente o râguebi. Na nossa equipa, as três portuguesas, estamos como profissionais e só nos dedicamos ao andebol.

 

O próximo jogo é apenas em janeiro?

Podemos dizer que estes meses sem competição até foram bons porque tínhamos algumas baixas. Vamos estar preparadas para o recomeço da prova, porque queremos voltar às vitórias visto que no último jogo do Campeonato, em novembro, perdemos.