António Correia: “Ainda há muito para fazer em Lisboa no ramo imobiliário de alta gama”

Nasceu em França mas os pais são de uma aldeia do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Agora tem casa em Vila Praia de Âncora, para se “aproximar do mar”. Estudou em Portugal até 1989 e depois veio ter com os pais a Paris. Fez programas de rádio na Rádio Portugal FM, mas em 2004 descobriu que tem “uma queda para o imobiliário”. Em 2006 criou a sua própria empresa, a Parisud Immobilier e especializou-se no mercado de “alta gama”. Agora, associou-se a “uma das famílias mais ricas de França” e está a investir em Lisboa.

António Correia diz-nos como está a evoluir o mercado imobiliário em Portugal.

 

Antes de investir em Portugal, tem investido em França. Em que setor?

A Parisud foi criada em 2006 e é uma empresa de compra e venda de bens imobiliários de alta gama, especializada em Paris, Boulogne e Issy-les-Moulineaux. Trabalhamos só para uma clientela afortunada e fomos pioneiros na transformação de prédios de escritório em habitação. Compramos edifícios de escritórios e transformamos em edifícios para habitação. Fomos dos primeiros a fazer isso. Começámos em Boulogne, Paris, e quando transformamos, fazemos apartamentos de alta gama, cozinhas sobre medida, etc. Os nossos clientes chegam e só põem as camas dentro do apartamento.

 

É a primeira vez que está a investir em Portugal?

Sim. Temos um parceiro que é uma família industrial francesa que decidiu ir connosco para Portugal. E vamos continuar a fazer aquilo que estamos habituados a fazer em Paris. Vamos continuar a fazer alta gama e continuar a transformar alguns prémios e algumas instituições conhecidas, que vamos comprar e transformar em habitação.

 

Só em Lisboa?

Decidi, com os nossos parceiros, instalar-me por enquanto só em Lisboa, porque Lisboa continua a ser uma capital onde o preço do metro quadrado é barato e vamos fazer a mesma coisa que aqui. Aqui também só fazemos Paris e a região parisiense. Fomos para a zona histórica de Lisboa, para a Baixa, por baixo do Castelo de S. Jorge, onde comprámos um prédio da época pombalina, dos finais do sec 18, na mesma rua do Ministério da Administração Interna, que vamos restruturar à nossa imagem. Já foram escritórios, porque o Ministério ocupou aquele espaço, mas recentemente já era habitação.

 

Há regras especiais em Lisboa, para fazer intervenção em edifícios na Baixa?

O nosso arquiteto diz-nos que primeiro fazia-se o que se queria. Isso agora acabou. Há regras muito rígidas, há um livro com muitas páginas que os arquitetos têm de cumprir à risca e há um engenheiro da Câmara que passa antes, faz um relatório do que existe, azulejos, dispensas, etc. e depois temos de os utilizar no prédio, mesmo se pode não ser no mesmo sítio. Por exemplo, se o prédio tiver azulejos, têm de se guardar. Esta nossa compra foi feita em janeiro deste ano, neste momento estamos a trabalhar com os arquitetos e só lá para finais de 2019 é que estará pronto. Mas de facto já temos muita procura.

 

Há clientela para este tipo de bens imobiliários?

Sim

 

Em Portugal ou em França?

A clientela está aqui. Aqui tenho clientes de há muitos anos, que são jogadores de futebol ou atores de cinema e começamos a ter a mesma clientela em Portugal, em geral estes mesmos clientes. É uma clientela que procura qualidade. A imagem da Parisud sempre foi a qualidade e por isso não temos nenhum problema.

 

Diz-me que o mercado em Lisboa está barato?

Neste momento, na rua de S. Mamede estamos a pedir 9.000 euros e no último andar, com vista para o Tejo, estamos a pedir 10.000 a 11.000 euros o metro quadrado. Na avenida da Liberdade chegam a vender bens a 25.000 euros o metro quadrado, estamos efetivamente a falar de preços idênticos aos da avenida dos Champs Elysées, em Paris. Mas ainda há muito que fazer em Lisboa a preços razoáveis.

 

O mercado português não está saturado?

Pelo que vi, os Portugueses estão a comprar, esperam que o preço aumente e depois vendem. Não trazem mais-valia ao produto, não renovam. Nós não fazemos especulação. Nós compramos, renovamos, trazemos mais-valia e só vendemos depois. Encontro pessoas no mercado que compraram há 3 ou 4 anos, têm as licenças e tudo, mas depois não fazem a transformação, nem a renovação, e querem vender assim. É mais fácil vender sem nada fazer. É fácil ganhar dinheiro. Mas para mim o dinheiro é apenas uma ferramenta de trabalho. Não é especulação.

 

E não pensou no Porto?

Eu pessoalmente tenho dificuldades em ir investir no Porto e acreditar que aquele mercado se mantenha. Por enquanto quero só Lisboa porque acredito mais em Lisboa, por ser uma capital e a nossa clientela não tem dificuldades, não tem problemas de dinheiro, sempre será mais fácil instalar-se na Baixa de Lisboa. Eu já passei por duas crises em França, não conheci a de 1990, mas na de 2008 e na de 2012, não senti crise nesta clientela. A qualidade e o sítio é que é fundamental.

 

O Governo tem apresentado o programa “Revive”, de recuperação de edifícios históricos – fortes, castelos, conventos,… – esses bens não lhe interessam?

Não está no nosso alvo. O nosso alvo é mesmo a Baixa pombalina. Também investimos num prédio nas avenidas novas, para quem quer tranquilidade, sem turismo. Esse não se dirige apenas para um público francês, mas para quem quer tranquilidade. Estamos com estes dois projetos, completamente diferentes, e para mercados diferentes.

 

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