Artur Brigas: de promotor imobiliário a ator no filme “Alma Viva”

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Artur Brigas nasceu em Badamalos do Côa, “uma pequena aldeia entre Guarda e Sabugal” e é um dos atores “amadores” do filme “Alma Viva” de Cristèle Alves Meira, atualmente nos cinemas franceses.

Artur Brigas chegou a França com apenas 11 anos de idade. O pai já trabalhava na Região parisiense, e mandou vir mulher e filhos. Só um ano depois de ter chegado a França é que a mãe o inscreveu na escola. “Eu era um dos alunos mais burros da turma” diz a sorrir, sentado no escritório da empresa que tem em Aulnay-sous-Bois (93). Com 16 anos expulsaram-no de uma escola da construção civil. “Na verdade, estava lá só para marcar presença”.

Aos 23 anos de idade, a vida de Artur Brigas mudou. “Entretanto o meu pai morreu, o meu irmão morreu, depois tive uma filha e decidi instalar-me por conta própria” conta ao LusoJornal.

“Trabalhei muito e desenvolvi a empresa” confessa, mostrando uma grua no mesmo quarteirão, onde explica estar a construir um prédio com 80 apartamentos. Na sala do lado estão expostas maquetes de outros edifícios e plantas de apartamentos enquadradas nas paredes.

O casting que o levou ao cinema

Um dia fez um casting com Cristèle Alves Meira e, dois anos depois, teve novamente um contacto para encontrar a realizadora. “Na construção já não tenho nada a provar a ninguém, já dei a volta ao assunto, agora quero ver outras coisas” diz numa entrevista ao LusoJornal.

“O Artur faz parte destas pessoas que eu conheci num casting. Procurava pessoas que não fossem atores profissionais de cinema. Estava à procura de alguém para fazer de tio Joaquim no filme, um emigrante que conseguiu na vida, tem uma casa grande, um carrão e regressa à aldeia com a namorada francesa. Devia ser um emigrante moderno e rico e ao mesmo tempo o irmão mais velho da família, com um certo carisma” explica Cristèle Alves Meira.

“Não foi fácil porque homens de 50 anos, que nunca fizeram cinema, portugueses emigrantes, não se apresentaram muitos no casting. Por acaso Artur apresentou-se e foi logo uma descoberta, ele tem uma voz incrível, uma voz de ator, tem um carisma, é um homem com uma certa virilidade”.

Quando chegou a Campo de Víboras, no concelho de Vimioso, onde o filme foi rodado, Artur Brigas confessa que primeiro descobriu Tás-os-Montes. “Eu não conhecia essa região, é uma aldeia onde nem há um café, mas é muito bonita, tudo estava florido, fui acolhido por pessoas muito simpáticas, que me abriram a porta, que fizeram tudo o que podiam fazer por mim” explica ao LusoJornal.

As dúvidas do primeiro dia

Durante a primeira semana, Cristèle Alves Meira apenas convocou os atores. “Foi como estarmos em família” disse o novo ator.

A realizadora também considera que foi “uma aventura muito bonita” e explica ao LusoJornal que “por detrás daquele homem, que parece muito forte, há uma sensibilidade muito grande e isso foi muito importante para mim”.

Artur Brigas confessa ter tido muito receio. Sobretudo quando viu desembarcar na aldeia camiões de material e dezenas de técnicos. Lembra-se de, muito tarde, à noite, ter enviado mensagens à realizadora a perguntar se ela achava mesmo que ele podia desempenhar o papel que lhe foi proposto. “Eu nunca tinha feito teatro nem cinema antes, nem nunca tal me passou pela cabeça. Eu até sou um pouco tímido” confessou.

Mas Cristèle Alves Meira tinha percebido que Artur Brigas podia desempenhar sem problema um papel no filme. “No casting, ele não teve medo, logo que nós começámos a fazer improvisações ele mantinha aquela força, não sentia vergonha e até tinha ideias de cenas interessantes” diz a realizadora ao LusoJornal. “Eu fiquei logo muito admirativa. Ele contracenou com Jacqueline Corado que é uma atriz profissional muito poderosa. Não era fácil, porque a Jaqueline nunca para, tem sempre uma palavra para dizer. No entanto, o Artur conseguiu passar por cima da Jacqueline e isso era um ponto importante, porque na história do filme, o tio Joaquim, o irmão mais velho, tem uma certa autoridade sobre as irmãs e eu estava mesmo à procura de um homem que tivesse mais força do que a Jaqueline, mesmo se a Jaqueline tem a força de um homem, e por isso eu gosto dela também”.

Uma descoberta para repetir?

Artur Brigas diz que não gostou de se ver no filme. “Não gostei de me ver, mas fiquei orgulhoso de saber que tive vários comentários positivos, até de atores conhecidos” conta.

Quando o filme foi projetado em Cannes, na Quinzena dos Realizadores, Artur Brigas estava lá. “Estava na casa de banho, a lavar as mãos e alguém ao meu lado começou a felicitar-me. Eu olhei para ele e perguntei se ele não era o ator Samuel Le Bihan, e era. Fiquei contente, claro, até orgulhoso”.

E agora? Perguntamos-lhe. “Agora… venha Hollywood e venha um filme com o George Clooney” diz a sorrir. Depois, mais sério, diz que “se uma oportunidade surgir, porque não?”.

Porque não?

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