Auditoria diz que a venda do BES Vénétie em Paris foi feita sem análise de conflitos de interesse

Uma auditoria da Deloitte ao Novo Banco indica que não foram feitas análises de conflitos de interesse na venda do Banque Espírito Santo et de la Vénétie (BESV), uma banco do grupo BES com sede em Paris, na avenue Georges Mandel.

O relatório, ontem divulgado pelo Parlamento português, indica que foi verificada “a inexistência de normativos internos para todo o período que regulassem a realização sistemática de uma análise das entidades compradoras que participaram em processos de desinvestimento, de forma a concluir acerca de eventuais riscos de branqueamento de capitais e de conflitos de interesse”.

Das alienações onde esta análise não foi feita, a Deloitte dá como “exemplo a alienação do BESI em 2014 e do BESV em 2018”.

“As operações em questão foram sujeitas a aprovação pelas respetivas entidades supervisoras, nos termos da legislação aplicável para esse efeito, com base em informação disponibilizada pelo potencial comprador”, refere o documento, referindo que o Novo Banco não tinha informação sobre a identidade dos compradores efetivos.

“A generalidade das operações de alienação de participações de entidades financeiras tiveram como contraparte sociedades gestoras de fundos de investimento internacionais. Em termos simplificados, nos pareceres preparados pela Direção de ‘Compliance’ é referido que afigurando-se a estrutura daquelas entidades complexa, foram obtidas pelo Novo Banco declarações das sociedades gestoras das entidades em apreço de que nenhum dos participantes detinha mais de 25% das entidades, conforme estipulado em legislação para o dever de diligência no âmbito do branqueamento de capitais, pelo que não qualificam como últimos beneficiários efetivos, não tendo deste modo sido obtida informação adicional sobre a respetiva identidade”, lê-se no relatório.

Já nas situações em que foi feita a análise do comprador, “não tendo sido identificadas pessoas relacionadas com o Novo Banco ou a Lone Star, de acordo com informação prestada pelo Novo Banco, não foram efetuadas análises de partes relacionadas ou análises de conflitos de interesses”, acrescenta a Deloitte.

O BESV (Paris) teve poucas ofertas de compradores e foi vendido à Promontoria MMB (do Grupo Cerberus) por 48 milhões de euros em maio de 2018. A participação do Novo Banco no Banque Espírito Santo et de la Vénétie acumulou perdas de 100 milhões de euros, segundo o relatório.

Ainda segundo a Deloitte, no processo de venda deste banco “não foi obtida evidência da realização de uma análise de valorização e eventuais impactos no registo daquela participação financeira”.

O relatório da auditoria da Deloitte ao BES/Novo Banco está desde ontem disponível no ‘site’ da Assembleia da República. O relatório ontem divulgado, com 370 páginas, foi enviado pelo Novo Banco ao Parlamento e contém dezenas de páginas com informação truncada, de matérias consideradas sensíveis, como o nome de devedores cujos créditos constituem as perdas mais significativas.

 

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