LusoJornal / Luisa Semedo

Bonga deu concerto em Morangis

Com 75 anos celebrados a 5 de setembro do ano passado, Bonga subiu sexta-feira ao palco do Espace Pierre Amoyal, em Morangis (91). A idade do artista não se fez sentir, o seu passado de atleta de alta competição ajuda-o, provavelmente, a manter intacta a energia.

A voz ganhou ainda maior profundidade e a interação com o público, espontânea e bem humorada, foi apreciada, sobretudo porque Bonga fala perfeitamente francês, tendo chegado a viver na Bélgica e em França.

Foi em Paris, onde chegou em 1973 que, diz Bonga numa entrevista ao Le Monde (1), «me tornei artista. Com a minha voz rouca, propensa para a nostalgia, ia ao Discophage na Rue des Écoles, e toda a gente vinha, era um clima de festa».

Bonga, acompanhado dos seus músicos experimentados, para além do canto, também tocou bongas e esteve sempre acompanhado da sua dikanza, um instrumento tradicional de Angola.

Os clássicos do cantor sucederam-se a um ritmo quase incessante, as duas horas de concerto passaram num ápice. Apesar da disposição da sala, com lugares sentados, o público não resistiu em levantar-se para dançar a «Mariquinha», a «Mulemba Xangola» ou a «Kambuá». Mas o momento de maior emoção foi quando cantou a canção «Mona Ki Ngi Xica», um clássico já reproduzido por vários artistas como Bernard Lavilliers ou o grupo Synapson, e que foi utilizada por Cedric Klapish no filme «Chacun cherche son chat». A canção é um hino contra as desgraças da guerra, nomeadamente as separações familiares e faz parte do álbum «Angola 72» onde Bonga denuncia o colonialismo e a ditadura.

Bonga Kuenda, o seu «nome de guerra», que significa aquele que se levanta e caminha, foi um militante notório pela independência de Angola e foi perseguido pela PIDE tendo sido obrigado a exilar-se em Roterdão.

Na voz de Bonga já só se ouve uma revolta calma, mas as letras das canções militantes soam ainda com a mesma força. A sala estava bem preenchida com muitos franceses que vieram ouvir o artista de «música do mundo».

O cantor é muito apreciado em França, refere ainda o Le Monde pois «eis quarenta anos que esta voz seduz, intriga. Não é somente pelo seu exotismo nem porque põe os nervos a vivo ou os sentimentos em desordem. Mas porque ela é única, abrasiva, resistente a tudo».

Bonga dá vários concertos por ano em França, e os seus fãs ou curiosos deste artista poderão ouvi-lo em França dia 11 de abril, às 20h30, no Centre Culturel Georges Pompidou, em Vincennes (94) ou ainda dia 18 de maio em Grenoble (38), no quadro do Festival Magic Bus.

(1) http://mobile.lemonde.fr/culture/article/2012/02/10/bonga-la-voix-rauque-de-la-decolonisation_1641699_3246.html

 

 

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