LusoJornal / Carlos Pereira

Campeão de França de Freerun, Simon Nogueira quer visitar Portugal este ano

Campeão de França de Freerun desde 2013, o lusodescendente Simon Nogueira tomou uma “boa resolução” para 2018: visitar Portugal e em particular Braga, a terra dos avôs.

“Fui várias vezes à China para ser júri em competições. Em França houve apenas uma competição, onde aliás pude participar, mas a nível internacional há muitas, porque há marcas como a Red Bull que se apropriam do ‘desporto extremo’ e que organizam competições pelo mundo fora. Também já estive na Grécia e em praticamente toda a Europa. Já só me falta os Estados Unidos e Portugal” disse ao LusoJornal. E este ano quer começar por Portugal.

Há muito tempo que Simon Nogueira corre e salta pelos telhados de Paris. “Eu via vídeos na internet e acabei por descobrir vídeos de jovens que se apropriavam da rua, que saltavam no espaço onde toda a gente anda, que se punham em posições estranhas, enquanto toda a gente tenta parecer normal” explica ao LusoJornal. E foi assim que compreendeu que “os caminhos que são feitos para nós, não são feitos unicamente para caminhar. Talvez os possamos ver de outra forma. Descobri uma paixão pela arquitetura, por tudo o que nos rodeia, pelos elementos de decoração. Eu sempre fui muito interativo. Então, depois de ter descoberto esses vídeos disse logo para comigo que ia também eu para o exterior, ver o que nos rodeia com o meu corpo e descobrir a arquitetura de maneira diferente para a poder utilizar e que ela não seja um obstáculo para mim, mas que seja algo que me ajude a progredir”.

O Freerun não é reconhecido como um desporto. Em França, a modalidade foi conhecida graças ao filme de Luc Besson “Yamakasi” (2000). “Essas pessoas que tornaram o Freerun popular, que têm uma credibilidade na prática da modalidade porque são os percursores, organizaram um Campeonato de França em 2013 e eu participei e ganhei” diz Simon Nogueira. “Havia muitos participantes e cada um tinha um minuto para deixar livre expressão à criatividade do corpo e do movimento, fazendo algo de fluído e estético. E fomos notados pela estética da nossa prestação”.

Desde então, nenhuma outra competição foi organizada em França e Simon Nogueira mantém pois o título de Campeão de França desde 2013.

O jovem lusodescendente fez estudos de comunicação, negociação e venda, “mas parei porque a carreira não me agradava e eu queria fazer mais aquilo que gosto de fazer, do que trabalhar para alguém”. Há três anos que vive da paixão “e estou muito feliz”. Para além de ser patrocinado por marcas, realiza vídeos e fotografias, trabalha para espetáculos e dá aulas todos os dias num ginásio no Forum des Halles, em Paris.

“Visito a cidade, descubro a cidade, viajo pela cidade, sem passar pelos mesmos caminhos que toda a gente percorre, já que passeio na cidade tanto na horizontal como na vertical e os meus dias são criações de conteúdos, crio fotografias e vídeos, que depois partilho nas redes sociais” explica ao LusoJornal. “Sou patrocinado por marcas como a Samsung, que me ajudam a avançar, com as quais estabeleço parcerias”.

Ao ver Paris lá por cima, Simon Nogueira tem a sensação de estar livre e ao mesmo tempo tem um sentimento de solidão. “Paris é uma cidade muito animada, os Franceses têm a reputação de serem refilões, críticos, é algo que se ressente na rua, no metro,… é muito opressor. Subir para os tetos de Paris é muito divertido, é ver algo de vazio, só há azul… o azul do zinco dos telhados de Paris é magnífico, calmo, bonito e repousante, em relação ao Paris de cá de baixo”.

A prática da modalidade pode ser perigosa? Perguntámos. “Claro que é perigoso. Mas a noção de perigo para mim é algo de relativo, em função da competência das pessoas. Eu não posso saltar de paraquedas porque não sei saltar de paraquedas, tenho receio e parece-me perigoso, porque não é a minha profissão, não é naquilo que eu focalizo a minha concentração, a minha atenção. Mas utilizar o meu corpo em qualquer contexto, para mim é qualquer coisa de bastante seguro. Sinto-me melhor num telhado do que me sinto no chão. Sinto-me menos em perigo em cima de um telhado do que na rua, porque na rua estou inquieto pelo comportamento das outras pessoas. Na rua estou sujeito a erros que não são devidos à minha própria pessoa, por exemplo um carro que vai depressa demais e me atropela, ou reações de pessoas que eu não posso antecipar. Enquanto que nos telhados, o único que pode fazer um erro, sou eu. Ora, tenho bem mais confiança em mim do que tenho no comportamento das outras pessoas”.

Simon Nogueira está sujeito a uma escorregadela, a um salto mal calculado, às mãos que cedem,… e neste caso a queda é bem mais grave. “E é por isso que eu não caio” diz a sorrir.

Tudo é uma questão de concentração. “Lá em cima tenho de estar concentrado, é necessário estar constantemente no instante presente. Isso impede-nos de cometer erros. É como se pegarmos num copo cheio de água. Se estivermos concentrados na ideia de ter este copo na mão, não vertermos água. Para mim, é a mesma coisa nos telhados. A qualquer momento, se vejo que não estou bem, que alguma coisa não está bem, paro e dou meia volta”.

Os vídeos de Simon Nogueira estão disponíveis nas redes sociais. Podem dar vertigens mesmo a quem os vê. “Mas tudo é calculado. Quando corro nos telhados, quando salto por cima de uma cheminé sem saber onde vamos cair do outro lado, claro que eu verifico sempre, antes de filmar a cena, e só filmo quando estou certo da minha trajetória” explica ao LusoJornal.

Há várias práticas à volta deste tipo de modalidade. “Há o Freerun, que é o que eu faço, utilizar o corpo e o espaço sem nenhuma restrição, a imaginação é o nosso limite. Esta é a minha prática. Mas também há o Parkour, é a mesma coisa mas sem acrobacia, sem o salto, sem imaginação. No Parkour, a restrição é a utilidade. O que é importante é a eficacidade no transpor de um obstáculo. É necessário transpor os obstáculos rapidamente. De uma certa forma, é a arte da fuga, ir depressa e ser eficaz. Eu prefiro o meu imaginário e as minhas limitações pessoais do que aquelas impostas por uma prática como o Parkour”.

O Freerun evolui muito em França, porque tem sido cada vez mais mediatizado, nos filmes, nos vídeos e nas séries televisivas. Na academia que Simon Nogueira abriu há dois anos, tem cerca de 150 aderentes, entre os 7 e os 47 anos, “que se interessaram em utilizar as suas capacidades corporais e que vêm treinar aqui duas horas por semana”.

De Portugal Simon Nogueira guardou a sonoridade da língua que ouvia dos avôs. Mas também conhece alguns praticantes como por exemplo Pedro Salgado. “Em Portugal há gente muito forte e que eu estimo muito”.

A promessa de visitar Portugal ficou feita, mas o ideal seria mesmo de percorrer alguns dos telhados de Lisboa e do Porto!