Lusa | António Araújo

Cantora francesa vive num veleiro e deu concertos gratuítos nos Açores


Chama-se Marieke Huysmans Berthou, é francesa, vive seis meses por ano a abordo do veleiro “Lady Flow”, e vai atracando, de porto, dando concertos gratuítos a quem queira ouvir.

Esta semana esteve na marina de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, nos Açores, navega agora para a Madeira e as Canárias, e depois atravessa o Atlântico em direção ao Canadá. No veleiro viaja também o marido, o filho e um gato.

Há 10 anos que Marieke Huysmans Berthou, navega, compõe, grava e dá concertos pelo mundo fora. Porém desta vez, o concerto de Angra do Heroísmo teve uma particularidade especial, porque foi ali que compôs o seu mais recente álbum: “Hello Saudade”.

Marieke Huysmans Berthou canta em francês, em inglês e até em português. Acompanha-se com um piano que instalou no veleiro, mas explica em língua portuguesa como nasceu o projeto. Com um sistema especial de elevação, o instrumento sai da cabine para os concertos de exterior. Inspira-se das terras e das gentes que vai encontrando para compôr os temas que depois canta para o público. Em cada porto as pessoas aproximan-se e, pouco a pouco, vão criando uma plateia para ouvir Marieke Huysmans Berthou tocar e cantar. Uns são turistas, outros são locais.

“É um sonho que tenho desde adolescente. Comecei a viajar com a minha música desde muito nova. Aos 16, 17 anos tocava nas ruas da Irlanda. Estava convencida de que a música seria a melhor forma de viajar, conhecer pessoas e descobrir novos locais”, conta, em declarações à Lusa, momentos antes do primeiro concerto desta temporada. “Todas as canções estão relacionadas com um lugar. É a minha forma de partilhar a minha viagem com o público”, revela.

“Muitas pessoas vão a passar na rua e ouvem o som do piano e vão ver o que é. E depois sentam-se durante uma hora e veem um concerto com o qual não estavam a contar. Gosto de trazer a cultura para o dia-a-dia, trazer alguma poesia, alguma aventura, levá-la para fora da sala de concertos”, explica.

A cantora francesa descobriu os Açores em 2023 e deu concertos em sete das nove ilhas. Deixou o veleiro na marina da Praia da Vitória, durante o inverno, e regressou para o arranque de uma nova temporada. “Apaixonei-me completamente pelo arquipélago. É um sítio incrível. As pessoas têm uma sensibilidade bonita em relação à música, ao ambiente, ao mar, à natureza e à poesia. Há uma cultura bonita, musical, literária”, afirma. “E cada ilha é única. Sabes que estás nos Açores, mas sabes que estás na Terceira e não no Pico. E quanto estás no Pico sabes que estás no Pico e não no Faial. Todas têm as suas especificidades e eu gosto muito disso”, acrescenta.

O álbum mais recente, “Hello Saudade”, foi inspirado e composto inteiramente nos Açores, com a colaboração de músicos locais. “Quando descobri essa palavra [saudade] e a sua tradução, disse: isto sou eu, é a minha vida”, brinca.

No final de cada concerto, vende os seus CDs para financiar a viagem, e chega a passar uma hora com o público a conversar. “É um dos melhores momentos. As pessoas partilham as suas impressões, algumas estão a chorar, outras estão felizes. É uma ligação boa”, vinca.