Lusa / Carina Branco

Carlos de Matos escreveu ao Ministro das Finanças

“Senhor Ministro das Finanças,

Dr. Mário Centeno,

Venho por este meio respeitosamente junto de V. Exa comunicar a minha decisão de abdicar de todos os meus direitos na Caixa Geral de Depósitos (CGD).

Há dezenas de anos que vou ouvindo nas instituições públicas e em círculos privados, que a Caixa é um bem público, que pertence a todos os Portugueses.

Ao longo dos últimos anos eu já muito contribuí, tal como todos os Portugueses, para pagar os desmandos da CGD e de quem a administra ou administrou. Mas apesar disso, apesar de todos esses contributos, nunca tive nenhum benefício desta propriedade que me pertence, ainda que em reduzidíssima percentagem.

Há muito que me habituei a olhar para a Caixa e a constatar que este banco, embora sendo de todos, é apenas de alguns, a quem empresta dinheiro barato e sem garantias.

Nas muitas viagens que faço entre Lisboa e Paris é frequente encontrar Diretores da Caixa em classe executiva, enquanto quem paga e contribui para pagar as mordomias dos seus Diretores e os desvarios dos seus Administradores viaja em classe económica.

Os Administradores da Caixa Geral de Depósitos têm salários que ultrapassam várias vezes o vencimento do Presidente da República. Além desses salários ainda recebem prémios anuais e sabe-se lá que mais.

Senhor Ministro, podia falar-lhe muito mais sobre a Caixa Geral de Depósitos e o que faz e não faz, tanto em Portugal como em França. Mas não quero maçar mais V. Exa. pois sei bem que sabe o que se passa.

Reconhecendo a sua superior capacidade de atendimento e visão, solicito que aceite a minha decisão de renunciar a todos os direitos que tenho sobre a Caixa Geral de Depósitos, o que me permitirá também não ter mais deveres, ou seja, não pagar nem mais um cêntimo para a Caixa. Mais informo que abdico de receber todos os contributos que já dei ao longo dos anos.

Devo ainda acrescentar que não espero, não exijo, nem reclamo com esta decisão, nenhuma benesse fiscal.

Aceite os meus respeitosos cumprimentos”,

 

Carlos Alberto Casimiro de Matos