LusoJornal / Carlos Pereira

Cátedra Eduardo Lourenço foi inaugurada na Universidade de Aix/Marseille

Foi inaugurada no sábado passado, dia 12 de maio, a Cátedra Eduardo Lourenço, de Literatura e Cultura Portuguesas, Comércio e Turismo, na Universidade de Aix/Marseille. Assistiu à inauguração o próprio Eduardo Lourenço, mas também o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, o Embaixador de Portugal em França, Jorge Torres Pereira, o Presidente do Instituto Camões, Luís Faro Ramos, o Cônsul Geral de Portugal em Marseille, Pedro Marinho da Costa, o Deputado Paulo Pisco, a Coordenadora do ensino português em França, Adelaide Cristóvão, e uma sala cheia de professores e alunos.

Esta inauguração enquadrou-se no programa do colóquio internacional sobre «Valorização do Património da Diáspora», promovido pelo projeto «Pensando Goa».

Quando do anúncio da Cátedra, o autor de «O Labirinto da Saudade. Psicanálise mítica do destino Português» (1978) afirmou-se verdadeiramente surpreendido, e acrescentou: «Uma cátedra basta e chega». «Já não tenho ânimo nem forças para suportar uma coisa destas». Eduardo Lourenço acrescentou de imediato, porém: «Mas gosto muito de Aix como cidade, a cidade de Cézanne», pintor que «adoro».

Esta Cátedra «não apenas valoriza o ensino da língua portuguesa, porque essa é uma das dimensões da criação de Cátedras nas Universidades, mas ela permite também apostar e valorizar o contributo que o professor Eduardo Lourenço, um dos grandes homens do pensamento português, deu para três áreas do conhecimento» disse ao LusoJornal o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro. «A identidade do português, ou seja, o que é ser português? Como sabe, ele fez um trabalho de análise, de interpretação transtemporal dos Portugueses e dá contributos muito importantes para compreender aquilo que é a alma portuguesa nas suas múltiplas dimensões».

José Luís Carneiro destacou ainda «o esforço que ele também fez para procurar chegar à definição e à conceptualização do que é ser lusófono, com as marcas que fomos deixando, com a herança cultural e linguística, com a herança nas instituições, com as heranças do ponto de vista social que fomos deixando em todas as paragens por onde passámos desde o século XV».

Por fim, o Secretário de Estado destacou «o grande contributo que deu para o pensamento contemporâneo, que tem a ver com a resposta à pergunta: o que é ser europeu? O que significa sermos europeus».

«O professor Eduardo Lourenço tem um contributo não apenas para o pensamento português como dá um contributo para o pensamento da humanidade, para a filosofia contemporânea e sobretudo para o modo como nós concebemos a inserção dos Portugueses e de Portugal no mundo».

Também o Deputado Paulo Pisco considera que «o professor Eduardo Lourenço é uma das grandes personalidades do nosso século, da nossa história contemporânea e é um dos grandes pensadores que tem refleções muito grandes, particularmente sobre a identidade portuguesa». Paulo Pisco, que assistiu à cerimónia inaugural da Cátedra, disse ao LusoJornal que «é uma figura altamente respeitada, conhecida e eu julgo que o facto desta Cátedra ter o seu nome, é o reconhecimento de todo o seu percurso filosófico, reflexivo sobre a relação dos Portugueses consigo próprios, com o seu país e com o mundo».

 

Maior visibilidade ao Departamento

Eduardo Lourenço conhece bem a região porque aqui passou uma grande parte da sua vida, onde ainda tem casa, tendo sido docente na Universidade de Nice-Sophia Antipolis.

Na sala estava aliás a professora Armanda Manguito, Diretora do departamento de português daquela Universidade. Estavam também representantes de 16 universidades: 6 portuguesas, 5 brasileiras, uma indiana de Goa, uma de Naples, na Itália,…

Na introdução da cerimónia, Ernestina Carreira, responsável pedagógica pelo Centro de Estudos Luso-Brasileiros da Faculdade de Artes, Literaturas, Línguas e Ciências Sociais, da Universidade de Aix/Marseille (AMU) – constituída em 2012, resultado da fusão da Universidade de Provence com as Universidades de Aix-en-Provence e a de Marseille – resumiu em poucos minutos os 50 anos de ensino de português naquela universidade, e a relação com o Instituto Camões e com os seus antecessores.

O ensino de português foi introduzido em Aix-en-Provence em 1950, primeiro como opção na Licence de Espanhol e depois de forma autónoma com Licence e Master, a partir dos anos 1970, quando começou a chamar-se Departamento autónomo de estudos portugueses e brasileiros – «naquela altura os estudos africanos ainda não existiam». «Foi uma aposta da nossa Universidade, quando na maior parte das outras universidades, e em particular na mais conhecida de todas, a Sorbonne, o Português só existe enquanto Secção» disse Ernestina Carreira.

Para o Presidente do Instituto Camões, esta Cátedra «é muito importante, não só por estar associada ao nome de um grande pensador português, europeu e mundial. Mas também porque há vários anos que temos vindo a desenvolver cooperação no Instituto Camões, com esta Universidade de Aix/Marseille. Há um corpo muito forte de interesse pela língua portuguesa e isto é o corrolário daquilo que tem vindo já a ser realizado com esta Universidade».

Aliás tanto Ernestina Carreira como o Embaixador Jorge Torres Pereira enalteceram a implicação da Coordenadora do ensino português Adelaide Cristóvão, como do Consul Geral em Marseille Pedro Marinho da Costa, para levar a bom termo as negociações com a parte institucional francesa.

«A presença de uma configuração do tipo Cátedra, permite uma maior visibilidade da nossa disciplina de português, em França em geral» explica Ernestina Carreira ao LusoJornal. «A Cátedra é a consequência de 50 anos de colaboração, mas também consequência da restruturação que tem vindo a desenvolver o Instituto Camões, que passou de uma fase de apoio ao ensino, pelo envio de professores, a uma colaboração mais científica, de apoio ao funcionamento das instituições locais».

Em França há mais de 1,5 milhões de Portugueses mas Ernestina Carreira diz que «o português em França é uma língua raramente ensinada. Hoje em dia, pouco está presente no ensino secundário e os estudantes universitários escolhem, em geral, uma língua já ensinada no secundário. Para nós, o recrutamento e desenvolvimento de estudos lusófonos na universidade passa de maneira essencial pela comunicação e por isso é que organizações como a Cátedra nos dão esta visibilidade».

 

A maior universidade francesa

«Esta é praticamente a maior Universidade de França em termos de estudantes, atingimos os 100 mil estudantes e temos a quarta maior oferta de línguas do mundo com perto de 50 línguas presentes com 33 ou 34 ensinadas de maneira contínua». Por isso, segundo Ernestina Carreira, «para nós essa visibilidade é essencial porque nos distingue de um conjunto de outras línguas, nomeadamente das línguas asiáticas, que têm hoje uma visibilidade maior a nível mundial, em termos franceses».

Fundado nos anos 70, o Departamento português trabalha atualmente com 7 diplomas de Licenciatura e de Mestrado. «Mas diretamente, desenvolvemos uma Licenciatura e um Mestrado de estudos portugueses que abre agora em outubro e a nossa área de especialização tem vindo a ser a Patrimonialização da cultura e a aplicação ao domínio profissional do turismo da cultura lusófona» explica ao LusoJornal Ernestina Carreira.

Neste contexto, a Cátedra Eduardo Lourenço agora inaugurada tem uma caraterística particular por estar virada para negócios e turismo. «Não é um tema muito habitual, mas é um tema de muita atualidade» explica o Presidente do Instituto Camões numa entrevista ao LusoJornal.

«Estamos numa fase de restruturação em termos de ensino. Como todas as Universidades em França, tínhamos uma atratividade em termos de ensino de opção – são estudantes de outras áreas que aprendem o português. Tínhamos até agora mais de 300 estudantes neste tipo de formação» diz Ernestina Carreira. «É uma formação que não vamos continuar, por razões estruturais, mas por isso a Universidade permitiu-nos investir num outro setor, que é o setor da formação de Mestrado, que é uma formação mais prestigiosa, mais profissional e que podemos internacionalizar».

Em termos de estudantes, sabendo que o número de estudantes depende também das promoções anuais, em média cerca de 80 e 100 estudantes frequentam este Departamento por ano.

 

5 Cátedras portuguesas em França

Esta passa a ser a quinta Cátedra portuguesa em França. «Temos uma rede de Cátedras já bastante abrangente, tal como a rede de leitorados, de pontos de língua, de centros de língua portuguesa» explica o Presidente do Instituto Camões. Interrogado pelo LusoJornal sobre a possibilidade de alargamento desta rede, Luís Faro Ramos afirma que «é uma questão que tem a ver com a procura. Nós vamos tentando adaptar a procura que há em relação à oferta que existe».

Luís Faro Ramos anunciou aliás que Eduardo Lourenço vai completar 95 anos no próximo dia 23 de maio, mas fez questão de estar presente na cerimónia realizada em Aix-en-Provence.

Em declarações à Lusa depois da sua intervenção, o ensaista afirmou que «foi uma sessão muito simpática, um público muito atento. O grande problema agora é dar uma resposta universitária a este tema, porque já não sou nenhum menino e não posso estar muito tempo fora de Portugal».

No seu discurso, Eduardo Lourenço falou das relações culturais e históricas entre Portugal e a França, evocando alguns episódios da Revolução francesa. «Evoquei um pouco estas questões, não sou um historiador, sou um comentador avulso de acontecimentos, um ensaísta».

Logo no início da sua intervenção, dedicou a cerimónia a Noël Salomon, especialista do «entre as duas guerras» na Universidade de Bordeaux, e irmão da mulher de Eduardo Lourenço, Annie Salomon.

 

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