Opinião: Christophe Fonseca guia-nos pela vida complexa do pintor Chu Teh-Chun

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Não para de crescer a lista das Feiras de arte e de literatura anuladas ou adiadas neste contexto de pandemia. No caso dos apoios diretos do Centro cultural português em Paris, destaque para a não realização do “Parcours Bijoux” (onde Cristina Filipe e Ana Paula de Campos apresentariam trabalhos) ou a não realização da sessão de dedicatórias e leituras de “Legendes de l’Inde” de Luís Filipe Castro Mendes, no Marché de la Poesie.

Mas também a FIAC e a ParisPhoto não se realizarão nas suas tradicionais versões sallonards; ou a Offprint, onde sempre houve presenças portuguesas seguras e apoiadas pelo Camões (os editores independentes de fotografia Pierre Von Kleist ou Ghost, por exemplo).

O recurso alternativo foi criar circuitos entre galerias ou livrarias ou outros locais menos convencionais que, continuando abertos, oferecem os seus espaços para acolher artistas, escritores, editores, projetos de outras galerias, nomeadamente galerias estrangeiras e seus artistas. É isso que farão, por exemplo, a FIAC e a ParisPhoto, criando animados circuitos no Marais ou em Belleville para fazer vir obras e artistas internacionais. Dispersando assim pelos bairros ditos artísticos os stands que ocupam tradicionalmente em alta densidade o vasto espaço do Grand Palais, deram-lhes vida nova, superaram um constrangimento maior com uma imaginação maior e criaram soluções que podem, uma vez ultrapassado este período difícil, repetir-se com vantagens mútuas.

Uma feira com designação regional, embora vasta e poderosa, não fosse essa região a Ásia (Asia Now), encontrou já essa solução espalhando-se por dezenas de galerias de Paris.

Foi nesse âmbito que o realizador luso-francês Christophe Fonseca apresentou um novo documentário biográfico. Com o filme que dedicou a Amadeo de Souza-Cardoso, em 2016, Fonseca abriu a via para uma linha de trabalho que continuou com o impressionista Pissarro, em 2017, e que prossegue agora com Chu Teh-Chun (na foto). Fora de toda a referência portuguesa (Pissarro, aprendemos no seu documentário, era ainda descendente de cristãos-novos portugueses tardiamente fugidos para França e Dinamarca!) a obra do artista chinês desenvolve-se ente a China continental, onde nasceu em 1920, Taiwan, para onde se deslocou em 1949, e França, onde se instalou em 1955. Ainda em vida (faleceu em 2014) regressou e foi celebrado quer na República Popular quer em Taiwan. Colega, na escola de arte, de Zao Wou-Ki, outro chinês que integra a história a arte ocidental a partir de Paris, mas menos conhecido do que ele, a obra figurativa inicial de Chu Teh-Chun evoluiu também para um abstracionismo lírico, mais próximo de Nicolas de Stael do que das pesquisas de Vieira da Silva, que evidentemente conheceu. Ao mesmo tempo que pratica uma caligrafia chinesa de grande qualidade, o artista estabilizou uma pintura de cada vez grandes dimensões, feito das memórias das majestosas paisagens chinesas, formas fluidas, luminosas e moventes.

Fonseca guia-nos pela sua vida complexa, feita de viagens, fugas, regressos, encontros, desencontros e apaziguamentos, com a sensibilidade que já demonstrou nos trabalhos anteriores. Esperamos agora que o realizador consiga regressar a um dos trabalhos que deixou para trás por causa da Covid: um grande fresco da aventura dos portugueses que, chegados a Champigny, daí partiram à conquista do seu próprio destino.

Boas escolhas culturais e até para a semana.

 

Esta crónica é difundida todas as semanas, à segunda-feira, na rádio Alfa, com difusão antes das 7h00, 9h00, 11h00, 15h00, 17h00 e 19h00.

 

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