CSM | Valentin Fernandes

Conferência na Casa de Portugal evocou Portugueses na Resistência francesa



A Casa de Portugal André de Gouveia, na cidade universitária internacional de Paris, acolheu este sábado uma conferência organizada pelo Comité Aristides de Sousa Mendes sobre a participação dos Portugueses na Resistência francesa durante a II Guerra mundial.

Intervieram Manuel Dias, cofundador do Comité Sousa Mendes em Bordeaux, e as historiadoras Cristina Clímaco e Marie-Christine Volovitch-Tavares, mas as boas-vindas foram dadas pelo novo Diretor da Casa de Portugal, João Costa Ferreira.

Esta foi a última conferência de um ciclo que começou há dois anos em que participou também Victor Pereira, que não esteve em Paris por estar ausente no estrangeiro. O ciclo passou por várias cidades, entre as quais Bordeaux, Pau, Angoulême, Poitiers ou Bayonne.

Manuel Dias lembrou que a participação de Portugueses na Resistência “foi completamente ignorada durante muito tempo”. Portugal foi considerado como país neutro, por isso os Portugueses que participaram na Resistência eram essencialmente emigrantes em França. Manuel Dias destacou a ação do Comité Sousa Mendes há 37 anos e o trabalho “pioneiro” de historiadores, como por exemplo Cristina Clímaco, que tem trabalhado “incansavelmente” para dar a conhecer os Portugueses que foram deportados para os trabalhos forçados durante o III Reich.

Manuel Dias destacou ainda o programa “Nunca Esquecer” do Governo português, “por persistência do antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, atual Presidente da Assembleia da República”.

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Na sua intervenção, Marie-Christine Volovitch-Tavares falou da ação “fundamental” dos estrangeiros na Resistência. “Em 1940 havia cerca de 3 milhões de estrangeiros em França” lembrou a historiadora.

Lembrou ainda que o início da Guerra foi “catastrófico”. Primeiro, toda a gente pensava que se tratava de uma guerra relâmpago, depois a Alemanha invadiu a França e só depois do apelo do General de Gaulle, em junho de 1940 é que a Resistência começou a organizar-se, intensificando-se em 1943 e 1944.

“A história só lembrou a Resistência armada, mas na verdade, a Resistência teve muitas formas e foi bem mais alargada do que a Resistência armada” explicou Marie-Christine Volovitch-Tavares.

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Cristina Clímaco abordou sobretudo a participação dos Portugueses. “99% dos Portugueses que participaram na Resistência eram emigrantes” começou por explicar.

Muitos eram soldados do Corpo Expedicionário Português (CEP) e tinham ficado em França no seguimento da I Guerra mundial, outros regressaram a Portugal, mas voltaram para França depois de desmobilizados.

Em França estavam também muitos refugiados Republicanos, Anarquistas e Comunistas portugueses. Muitos dos cerca de 2.000 Portugueses que combateram na Guerra civil espanhola, ao lado dos Republicanos, vieram para França e passaram pelos Campos de concentração do sul da França. Havia ainda Portugueses vindos da emigração dita “tradicional”.

“Foi pois muito naturalmente que participaram na Resistência, mesmo se não se conhecem grupos organizados especificamente de Portugueses, como houve com os Espanhóis”. Cristina Clímaco apresentou um breve percurso de alguns deles.

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Na sua intervenção final, Manuel Dias disse que durante muito tempo “a França não deu importância nenhuma à participação dos estrangeiros na Resistência. Não dizia que não tinham participado, mas também não dizia que participaram”. Mas destacou o facto de Joséphine Baker ter entrado recentemente no Panthéon e da entrada próxima, em fevereiro de 2024, do Resistente Missak Manouchian. “Os Espanhóis tiveram uma implicação grande na Resistência e o General Leclerc prometeu-lhes que, depois, os ajudaria a combaterem o fascismo na Espanha. Mas quando Leclerc foi ver o General De Gaulle, este disse-lhe que se acalmasse e que a Guerra tinha acabado. A verdade tem de ser dita” disse o cofundador do Comité Sousa Mendes. “A verdade é que, até ao ano 2000, o título ‘Mort pour la France’ não era atribuído aos estrangeiros”.

Manuel Dias, que já não tem funções no Comité Sousa Mendes, agora presidido por Isabel Barradas, veio a Paris com dois outros membros do Comité: Valentin Fernandes e Manuel Simeão.

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Para mais informações

A equipa do Comité Sousa Mendes gravou uma das conferências – a de Poitiers, no Espace Mendès France, no dia 2 de dezembro de 2021 – e tem disponível um vídeo que pode ser visto AQUI.