Covid-19: David Dany: O regresso à terra e às coisas essenciais da vida

David Dany é autor, compositor e intérprete, mora em Rieumes, nos arredores de Toulouse, onde respeita as regras de confinamento provocado pela pandemia do Covid-19.

Este é um momento para compor novos temas que provavelmente vamos ouvir depois da pandemia ter passado, mas é também um momento para refletir na sociedade em que vivemos e no mundo que há de vir depois do vírus ser dominado.

 

Como está a passar este período?

A situação que estamos a enfrentar é muito complicada, especialmente para muitos artistas que são forçados a cancelar as digressões. Eu próprio também organizo espetáculos que provavelmente serão cancelados, então sim, é difícil e complicado porque nós queremos estar sempre perto do nosso público. Mas eu fico em casa como muitos dos nossos concidadãos, porque só assim podemos parar essa epidemia. Aconselho fortemente a seguir as instruções porque podemo-nos arrepender. Eu continuo a trabalhar em casa, preparo novas músicas, faço novos vídeos, isto permite-me finalizar os meus próximos concertos, com novos temas. Nesta pequena vila de Rieumes, perto de Toulouse, onde resido, não houve mortes do Coronavírus e é por isso que eu peço para respeitarem as regras e espero que em breve seja apenas uma má memória.

 

Está preocupado com esta pandemia?

Continuo muito preocupado com essa pandemia, porque há muitas perguntas que nos colocamos a nós próprios, a impressão de que não nos contam tudo, muitas controvérsias circulam nas redes sociais, medicamentos que salvam vidas que foram retirados do mercado, quando as pessoas morrem todos os dias, fiquei chocado ao ver que as pessoas pensam apenas em ganhar dinheiro, em vez de economizar vidas, sim, isso não me tranquiliza, mas a melhor resposta é ficar em casa.

 

Quando tudo isto acabar, o que espera do “novo mundo”?

O “novo mundo”… é uma boa pergunta. Há algo de positivo nessa pandemia, é reconhecer que voltamos aos verdadeiros valores que são a família, o amor, a amizade entre vizinhos, são realidades que se foram perdendo ao longo dos tempos. Passamos mais tempo com crianças, brincamos com elas, temos mais espaço para a família… mas o que eu espero mesmo é que se possa fazer deste mundo um lugar melhor, onde a hipocrisia, o ciúme, o dinheiro e os interesses pessoais deixem de superar tudo o resto. Para mim, o mundo melhor é redescobrir o amor, a felicidade, a amizade, a liberdade, a paz, que cada um de nós possa dizer que fez uma boa ação, ajudando os outros. Tenho muitas vezes na minha vida, organizado ações pelos outros e tenho orgulho disso, e continuarei a fazê-lo, porque é assim que nos enriquecemos internamente, procurando alguém que precisa. Não estou a falar em trabalhar de graça porque o dinheiro é necessário para viver, mas sejamos honestos, desde que se tenha o suficiente para viver, porque querer mais? Não sejamos gananciosos. Sempre queremos mais do que os outros… vamos apenas viver, vamos apenas amar, vamos viver em comunhão com a natureza. Um dia o meu avô disse-me “David um dia o homem voltará à terra”, e eu pergunto-me se não estamos a chegar a esse momento.