Covid-19: João Heitor: “Temo que a única indústria produtiva seja, como até agora, a Emigração”

João Heitor é livreiro, manteve em Paris, durante muitos anos, a livraria Lusófona e mais recentemente dinamizou um espaço cultural lusófono no coração de Paris.

Atualmente aposentado, continua a dinamizar as Editions Convivium Lusophone e organiza, por vezes, encontros culturais.

 

Como está a passar este período?

Estou a passar este período com uma certa apreensão, mas, ao mesmo tempo, aproveito para fazer uma profunda reflexão sobre a minha vida. Tudo é efémero e o que conta é o bem que vamos fazendo na família, na sociedade e o amor a esta Humanidade com ações concretas e positivas. Estou confinado na minha casa e da janela do meu quarto, que dista poucos metros do acesso ao Carrefour, vejo a conta -gotas uma população pobre que vai buscar o essencial para sobreviver. Não têm poder de compra para açabarcarem os stocks. Leio muito e preparo o programa editorial das Editions Convivium Lusophone. Fiquei muito triste com a morte do Pedro Barroso. Pensamos organizar alguns eventos culturais em homenagem a este grande trovador. A língua portuguesa deve-lhe muito.

 

Está preocupado com a situação atual de pandemia?

Estou preocupado sobretudo com o estado social e económico em Portugal e com a vida social e cultural das nossas Comunidades. Pusemos em Portugal todos os ovos no mesmo cesto: um Turismo desenfreado, sem planeamento. Abandono de um projeto de mini-indústria. Abandono de uma agricultura que poderia ter o label Bio, vê-se isso no Interior, por todo o país, tudo abandonado. Temo que a única indústria produtiva seja, como até agora, a Emigração. Gostaria que as livrarias ficassem abertas como as farmácias, as casas de alimentação. Os livros ajudam-nos a pensar, a distrair, a viajar… tornam-nos mais humanos.

 

Quando esta situação estiver ultrapassada, o que espera do ‘novo mundo’?

Espero o nascimento de um Homem Novo. Que nasça na terra a Cidade Celeste como o Francisco Fanhais canta numa canção baseada numa passagem da Bíblia. Que os modelos produtivos europeus sejam repensados, não podemos tolerar que só 5% dos medicamentos da França são fabricados na Europa e que o resto das moléculas estacionam na China. Poderíamos falar no caso das máscaras, das peças dos motores dos carros… Que as Comunidades portuguesas sejam mais estimadas através da Cultura, da nossa Língua portuguesa. Que haja um intercâmbio cultural, social e económico com Portugal e os Países lusófonos.

 

[pro_ad_display_adzone id=”37510″]

LusoJornal