Covid-19: Mónica Cunha: “Deverão ser fortes o suficiente para ajudar a levantar quem tiver caído”

Mónica Cunha é professora de português em França, mas na Comunidade portuguesa também é conhecida como fadista. Canta muito bem Fado e já editou um primeiro disco.

Confinada em casa como (quase!) toda a gente, diz-se em “tele-escravatura voluntária” e está preocupada com o “monstro invisível” que é o novo Coronavírus. Nesta conversa com o LusoJornal acredita que “o crescimento socioeconómico passará muito pela solidariedade”.

 

Como está a passar este período?

Após mais de duas semanas em isolamento social, escrever sobre a forma como se está a viver este período já soa quase a balanço. Infelizmente, suspeito que assim permaneçamos durante tempo suficiente para proceder a atualizações. Tal como a maioria dos Portugueses residentes em França, foi em França que me deixei ficar aquando do anúncio das medidas, até porque estou em regime de teletrabalho. Aliás, em regime de tele-escravatura voluntária. Perdoem-me a paradoxalidade do neologismo mas, enquanto professora, vejo algo de iminentemente sofredor nesta classe tão especial a que pertenço. Ao fim de alguns dias de aulas à distância, dei por mim a desesperar com a quantidade de e-mails, de reuniões, de trabalhos e afins, a que tinha de dar resposta imediata e, foi aí que percebi que alguma coisa estava errada na minha forma de viver este período. De repente, tomei consciência de que estamos a viver uma situação extraordinária e de que temos de vivê-la como tal. Por mais esforços que façamos, “o mundo pula e avança” a um ritmo diferente e que devemos dar o melhor de nós, dentro do contexto de cada um, sem nos atormentarmos com as imperfeições naturais de uma sociedade que está a tentar responder como pode aos múltiplos desafios que se impõem. Se é verdade que estou a moldar aos poucos a minha atitude perante as exigências laborais, não cheguei ainda à fase de poder desfrutar de tempo para mim. Oxalá, em breve, consiga organizar-me de forma a desempoeirar alguns livros que não li, alguns filmes que não vi, algumas linhas que não escrevi e alguns fados que não cantei.

 

Está preocupada com a situação atual de pandemia?

A preocupação com esta pandemia é grande e só um alienado poderá dizer o contrário. Para já devemos preocupar-nos em proteger a nossa saúde e a dos que nos são queridos mas, passada essa fase, outros desafios virão. Se por um lado, devemos confiar em quem toma decisões e colaborar, acatando-as rigorosamente, por outro, é importante que nos comecemos a mentalizar de que há uma grande probabilidade de que nós ou as nossas famílias e amigos venham a ser tocados por esse “monstro invisível”. Dentro de algum tempo, muitos de nós contaremos para os números que crescem diariamente na televisão e teremos que aprender a gerir essas emoções, quiçá essas perdas. Simultaneamente, outras preocupações se erguem e estão associadas, sobretudo, à incerteza do amanhã.

 

Quando esta situação estiver ultrapassada, o que espera do ‘novo mundo’?

Esse “novo mundo” que muitos adivinham renovado, terá de encontrar coragem para responder aos enormes desafios que surgirão. Idealmente, os múltiplos abraços que prometemos dar uns aos outros, em chamadas de vídeo com amigos e família, “quando tudo isto acabar”, deverão ser fortes o suficiente para ajudar a levantar quem tiver caído. O crescimento socioeconómico passará muito pela solidariedade. E por não me referir apenas a questões financeiras, penso que o resto da Europa terá muito a aprender com os países do sul: Portugal, Espanha e Itália abraçam-se e, o abraço que contaminou pais, filhos e netos; será o mesmo que os fará sair deste pesadelo mais unidos para se reconstruírem, juntos.

 

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