Cristina Neiva do palco do grupo coral para o palco da sala de espetáculo

A vida de Cristina Neiva mudou numa viagem de regresso para França, quando estava no mesmo autocarro que alguns representantes da comunidade católica portuguesa em Lyon. Já lá vão uns 13 anos. “Mas já há 20 que faço cá vida” conta ao LusoJornal.

De início não conhecia a Comunidade portuguesa em Lyon. Só conheceu depois de surgir o convite para ajudar na Paróquia como catequista e mais tarde para ingressar no grupo coral. Hoje, Cristina Neiva canta na Igreja de St Bruno da Croix Rousse, na Catedral da Fourvière, na missa portuguesa, no mês maio, juntamente com o seu marido, ambos responsáveis pelo grupo coral daquela Paroquia.

Mas foi com 8 anos que começou a cantar. Entrou para o coro da aldeia pelas mãos da tia, adquiriu o gosto e começou a animar as missas para as crianças, as missas da catequese e nas festas da paroquia na terra natal.

Católica praticante, veio para França sozinha em busca de uma nova oportunidade de vida em 1999, deixou o marido e os filhos entregues à avó, em Portugal e instalou-se em casa de uns familiares na região de Lyon. Na altura vivia em Barcelos e trabalhava numa fábrica de tecidos, como costureira.

 

Porque que veio para França?

Vim para França sem pensar muito. Seria uma boa oportunidade, pensei na altura, não queria continuar com aquela profissão, precisava de acréscimo na minha vida. Os meus familiares não estavam muito de acordo com esta partida, mas apoiaram-me. Coloquei na mala a Nossa Senhora de Fátima e parti, ainda hoje a tenho no meu quarto, e tenho a fé que foi Nossa Senhora que me tem ajudado no percurso da minha vida.

 

Veio para a França no ano de falecimento da Amália Rodrigues, recorda-se desse momento?

Ainda me lembro da morte da Amália, sim, foi mesmo na semana que vim para França, e foi um acontecimento que me chocou imenso, foi algo que aconteceu o que levou a que me pegasse a ela. Antes, sinceramente, não dava muito valor ao Fado, mas desde que Amália partiu, algo se transformou em mim. Considero-a como uma Diva Portuguesa. Acho que quando estamos longe, damos mais valor a Portugal, e acho que foi isso que aconteceu, comecei a valorizar o Fado.

 

Como canta o fado e onde o canta?

Eu quando canto o fado, sinto-o, e canto-o sempre a toda a hora, em qualquer lado, mesmo no trabalho e a sonhar (risos). Se eu não cantar é porque qualquer coisa não vai bem.

 

O que significa o fado para si?

Significa a minha escola de vida, a saudade, a vida, o amor, a minha família, o país, o fado é quase como uma fé, mas uma fé cantada.

 

O que não pode faltar no fado, quando se canta o fado?

Não pode faltar o sentimento. Temos que sentir. E não pode faltar a voz, não é?! (risos).

 

Canta o fado de olhos fechados?

Sim, canto quase sempre, mas não só o fado, o canto lírico também e outros. Há qualquer coisa que me transporta, é involuntário, os olhos fecham-se por natureza. É uma entrega.

 

Quando cantou pela primeira vez para os amigos, familiares e público em geral?

Há 10 anos que canto aqui em França, na igreja, nos funerais, em festas privadas e fiz o pedido à Nossa Senhora… e porque não cantar noutros lugares, e outras coisas, como o Fado que eu adoro? Lembro-me, há 8 anos, quando trabalhava num clube associativo francês, havia um vizinho do andar de cima que vinha ter comigo e dizia-me, ‘Você canta tão bem’, e eu na altura cantava músicas clássicas, e ele dizia-me para não parar de cantar. Depois foram os colegas de trabalho, sempre a incentivar-me, e por isso continuo a cantar. Como venho de famílias modestas não tinha grandes ambições como cantora, mas sempre me senti cantora. Mas a primeira vez com público foi na festa da Associação Portuguesa de Lyon 6, na qual fui convidada pelo Sr. Cunha para cantar fados.

 

Sabemos que o seu marido a apoia incondicionalmente, como reage ele a este seu gosto pela música, essencialmente pelo fado?

Ele é o meu principal fã. Ajuda-me bastante com a escolha e com as gravações das músicas. Eu vim sozinha para a França, mas ao fim de algum tempo veio ele e os meus filhos.

 

Identifica-se com o fado moderno?

Sim, identifico-me bastante com o tipo de fado da Mariza, da Gisela João ou outras mais jovens.

 

Com quem gostaria de fazer um dueto?

Com a Mariza, mas se for fado, com qualquer fadista, respeito o trabalho de todas elas/eles.

 

Além do fado, o que outro tipo de música ouve?

Músicas da Dulce Pontes, Teresa Salgueiro, Carlos Paião, José Cid, Marco Paulo, António Variações, entre outros. Temos bons cantores em Portugal.

 

Gostaria de agradecer a alguém especial?

Sim, a todas as pessoas que me ajudaram neste meu percurso, ao José, à Merência, à Clotilde, à Neusa… São amigos que dão-nos um grande reconforto. E força para seguir em frente.

 

Já sentiu um retorno de um espetáculo seu?

Sim, nestes últimos tempos bastante… uma grande confiança para continuar. E quero continuar.

 

Quais são os seus próximos espetáculos?

Vou estar na festa de Gala em Homenagem à Amália Rodrigues, 1920-2020 Centenário do Nascimento da Amália, no dia 24 de janeiro, organizada pela Associação Raízes, em St Priest, Lyon.

 

Como podem entrar em contacto consigo?

Através da minha página pessoal da rede social Facebook Cris Tina Martins.

 

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