LusoJornal / Carlos Pereira

Cursos de português começam sempre mais tarde e Adelaide Cristóvão explica porquê

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O ano escolar em França já começou no dia 1 de setembro, mas, de forma recorrente, as aulas de Português no ensino primário – nas escolas que têm a sorte de terem aulas de português – começam sempre umas semanas depois e nem sempre os pais estão informados do dia e da hora das aulas e até, por vezes, da escola onde a criança vai ter as aulas de Português.

Grande parte das aulas de português no ensino primário só vai começar na próxima semana. Adelaide Cristóvão, a Coordenadora do ensino português em França confessa que esta é uma “luta” no início de cada ano escolar porque “o professor só pode começar depois de assinar um ‘Procès verbal d’installation’ na Direção Académica”.

Os professores de português no ensino primário são pagos por Portugal, através do Instituto Camões que também os recruta. “A Coordenação do ensino envia para cada Direção Académica as fichas de apresentação de cada professor logo em finais de agosto. A Inspeção, ao recebê-las, elabora os ‘Arrêtés d’affectation’, documento pelo qual o professor passa a integrar o corpo docente da Inspeção francesa. Tal fica formalizado quando o professor assina o ‘Procès verbal d’installation’” explica Adelaide Cristóvão ao LusoJornal. Isto porque, apesar dos professores serem pagos pelo Instituto Camões, o ensino é “oficial” no quadro do Ensino internacional de línguas estrangeiras (EILE) e as notas do professor de Português passam a constar da caderneta escolar do aluno.

Por isso, “estes procedimentos, mais ou menos morosos consoante a Academia, são determinantes para um começo de aulas. O professor contacta por vezes várias vezes para ter reunião na qual assina o ‘Procès verbal d’installation’” explica Adelaide Cristóvão.

Só que no início do ano as Inspeções Académicas têm sempre muito que fazer e as aulas de português não são, visivelmente, prioritárias…

 

Um processo deficiente de inscrição

O próprio processo de inscrição dos alunos tem colocado muitos problemas já que a Coordenação do ensino português não pode contactar nem as escolas, nem os alunos. Os pais inscrevem os filhos preenchendo um formulário distribuído nas escolas pelos Diretores – quando o distribuem porque todos os anos chegam notícias de alunos que não receberam as fichas de inscrição.

“Esses formulários são enviados pelos Diretores para as Inspeções de circunscrição que decidem, em função do número de inscritos e das condições das escolas, qual ou quais as escolas onde poderá funcionar o curso. Depois enviam todas estas informações para a Direção Académica (uma em cada Departamento)” explica ao LusoJornal a Coordenadora do ensino.

A Direção Académica convida depois a Coordenação do ensino para uma reunião na qual apresenta a lista de localidades e respetivas escolas onde poderá haver curso de português. “Para cada escola, indica o número de inscritos. O número de alunos inscritos numa escola pode incluir alunos de outras escolas da circunscrição” alerta Adelaide Cristóvão.

É nesta reunião que a própria Coordenação pode recusar colocar professores apesar dos pedidos e da proposta da Direção Académica porque apenas tem uma centena de professores e não tem capacidade para responder a todos os pedidos. Segundo o LusoJornal, todos os anos há milhares de alunos que pedem para ter aulas de português e não obtêm qualquer resposta.

“A Coordenação do Ensino não recebe qualquer lista de alunos, não temos a menor ideia de quem se inscreveu” refere Adelaide Cristóvão. “Normalmente os Diretores deveriam ter as fichas de quem se inscreveu, mas nem sempre ou quase nunca têm, pois entregaram as fichas à Inspeção. São fichas onde por vezes figura apenas o nome. Em muitos casos fazem estas pré-inscrições a título indicativo para saber quantos alunos estão interessados. Quando têm a certeza de que o curso vai ter lugar, aí sim, comunicam aos pais e pedem que realmente se inscrevam, mas isto em setembro”.

Com este tipo de funcionamento, a comunicação faz-se apenas pelos Diretores da escola e os pais queixam-se precisamente de falta de comunicação.

Quando os professores são reconduzidos nas mesmas escolas, contactam por iniciativa própria, os alunos que já tinham no ano anterior e mantêm-nos informados, mas não tem qualquer contacto com os novos alunos.

 

Início do ano é um “tiro no escuro”

Na verdade, o início do ano escolar é sempre um autêntico jogo de poker na Coordenação do ensino, porque as Inspeções Académicas podem decidir reagrupar alunos de várias escolas, numa única escola. Em teoria, a soma dos alunos das várias escolas daria o número total de alunos da aula. Só que “muitos pais pensam que o curso vai ter lugar na escola do filho, e nem sempre têm possibilidade de o levar à escola onde o curso tem lugar” explica a Coordenadora de ensino. Por isso, os números reais de alunos que frequentam os cursos são quase sempre inferiores aos números de alunos inscritos.

Outra das razões da redução de alunos, é precisamente o facto das aulas começarem demasiado tarde, quando os pais já inscreveram os filhos em outras atividades. Como os pais estão sem informação sobre se vão ter ou não cursos de português, inscrevem os filhos nas atividades desportivas, culturais ou lúdicas. “Quantas vezes, dos 50 alunos inscritos, lutamos para ter uma turma de 15. É muitas vezes um tiro no escuro” confessa Adelaide Cristóvão ao LusoJornal.

Melhorar a comunicação com os alunos e as famílias parece ser fundamental. “A Coordenação não recebe listas, recebe números” reage a Coordenadora de ensino.

As queixas de Adelaide Cristóvão são claras. “Esta é uma questão que colocamos de forma recorrente. Nem todas as Inspeções têm formas de prevenir os Diretores através dos Inspetores de circunscrição. Não têm forma de contactar todos os pais que se inscreveram. Não há uma forma eficaz de o fazer”. Resta à Coordenação divulgar a lista das escolas onde há cursos de português na esperança que os pais se manifestem e contactem com os Diretores de escola no início do ano escolar. Na esperança que o Diretor não lhe responda que, também ele… não sabe de nada!

 

Cursos “oficiais” mas “extraescolares”

Há um outro problema importante no ensino português em França: é o facto das aulas, embora “oficiais”, terem lugar fora do tempo escolar! É difícil perceber esta noção de Ensino internacional de línguas estrangeiras (EILE), mas na verdade, Portugal concordou com a fórmula ao assinar os acordos. E a França também não teria dado qualquer outra alternativa!

As aulas de português no ensino primário têm pois lugar no fim da tarde, ao sábado e à quarta-feira.

“Um professor, para ter o seu horário completo tem que ter 11 turmas. Os finais de dia correspondem a 4 turmas. As outras 5 têm que ter lugar à quarta-feira e ao sábado” explica Adelaide Cristóvão.

Esta situação aumenta o grau de complexidade da situação já que os cursos, mesmo validados pela Coordenação do ensino e pelas Academias, só terão verdadeiramente lugar depois de terem o acordo do autarcas e dos Diretores da escola.

Para as ‘Mairies’, isto implica mais despesas de eletricidade e de aquecimento, implica também a alteração dos horários dos empregados de limpeza e ainda do funcionário que vai ter de abrir e fechar a escola quando terminar a aula de português. Alguns autarcas não se têm mostrado muito cooperantes.

 

Estes são apenas alguns dos entraves aos cursos de português no ensino primário. Outras barreiras existem para os cursos de português nos colégios e nos liceus!

Veja as escolas onde funcionam os cursos EILE de Português AQUI.

 

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