Debate no Consulado de Paris levantou falta de reconhecimento português pelos escritores da diáspora

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O Deputado eleito pelo círculo eleitoral da emigração na Europa, Paulo Pisco, moderou na quinta-feira desta semana, um debate sobre “Os Escritores na Diáspora – Portugal Visto de Fora”, com a participação das escritoras Alice Machado, Alexandra Vieira, Carla Pais e Altina Ribeiro. O evento teve lugar no Salão Eça de Queirós do Consulado-Geral de Portugal em Paris, depois da apresentação do livro “Dona Zezinha – A vida singular de uma professora” da autoria da escritora Altina Ribeiro.

“Foi um debate muito forte porque éramos quatro autoras com um perfil completamente diferente, apesar de termos todas ligações a Portugal” disse Alexandra Vieira ao LusoJornal. “Falámos sobretudo de percursos individuais” já que tanto Alice Machado como Altina Ribeiro nasceram em Portugal, mas vieram cedo para França, Carla Pais chegou recentemente e escreve unicamente em português e “eu nasci em Paris e não tinha dúvida nenhuma, eu iria escrever em francês, apesar de estar muito ligada à cultura portuguesa e a Portugal” acrescentou Alexandra Vieira, autora do romance “Júlia Florista”. “O ponto de partida já era interessante e depois houve muitas reações no público”.

“O debate foi muito interessante e fiquei muito satisfeito porque conseguiu atingir os objetivos que eu gostava de atingir que é pôr as pessoas a falar” disse o Deputado Paulo Pisco. “As pessoas precisam de se exprimir, e quando nós falamos deste tipo de literatura das nossas Comunidades nós estamos a falar de problemas comuns que têm a ver connosco e nós vimos que todas as pessoas queriam falar, queriam dizer aquilo que lhes ia na alma, queriam exprimir-se, queriam contar também um pouco da sua história e eu acho que essa participação, essa vontade que todos tinham de participar e de se exprimir, é a maior riqueza deste debate”.

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Falta de consideração pelos escritores de cá

Apesar do debate ter demorado uma hora e meia – e já depois da apresentação de um livro que tinha demorado uma hora – a escritora Alice Machado considerou que “o debate foi muito interessante, devia haver mais debates destes, mas com mais tempo, porque foi um pouco precipitado”.

A escritora transmontana, que já publicou vários livros como por exemplo os romances “La Vallée des Héros”, “A l’ombre des montagens oubliées”, “A cor da ausência” ou “Os Silêncios de Porto Santo”, pediu mais consideração em Portugal e lembrou que “John dos Passos é um autor português nos Estados Unidos, que se assimilou completamente nos Estados Unidos porque Portugal o pôs de lado”.

“Nós não estamos a pedir prémios, estamos a pedir para sermos considerados em Portugal como somos aqui” e ilustrou referindo que “quando há algo que se passa interessante em Paris ou noutras cidades em França, vão buscar um autor a Portugal, vão lhe pagar não sei quanto, mas não convidam um autor que está aqui. Eu não estou a falar por mim só, estou a falar em geral” desabafou ao LusoJornal.

“É pena que isto seja um encontro do ‘terceiro tipo’. Dá a impressão que, nem somos Portugueses, nem Franceses” e acrescenta que “eu vivo muito tempo no Porto e vivo muito tempo em Paris e apercebo-me que somos tratados de uma maneira diferente, mesmo com a mesma qualidade de escrita, e eu não acho isso justo”.

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“O Instituto Camões não faz nada”

Ainda em declarações ao LusoJornal, a escritora Alice Machado afirma que “ainda bem que há o Consulado para nos abrir as portas. Porque o Instituto Camões não faz nada. Uma Comunidade portuguesa em França devia ter um espaço muito maior para a cultura, não acha?”

O público participou bastante no debate. “Afinal apercebi-me que precisávamos de mais tempo e talvez fosse interessante fazer outro debate para as pessoas poderem falar mais, porque tive a impressão que houve pessoas que queriam falar e que não puderam. Foi pena, mas é a prova que o debate foi muito interessante” resumiu Altina Ribeiro.

Também Carla Pais disse que “pareceu-me importante, primordial, essencial, abordar estas questões” e completou que “foi um debate extremamente dinâmico, com uma participação entusiasta do público, o que é sintoma de uma Comunidade sã”.

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Um contributo para a compreensão da Comunidade

O Deputado português considerou que “é importante compreender que são os escritores das Comunidades que dão um contributo para a compreensão da nossa situação coletiva, da nossa história comum, dos nossos valores, de onde viemos, para onde vamos e em que situação estamos”.

O Parlamentar socialista notou a necessidade que há de reconhecimento dos autores “porque eles têm um papel importante a desempenhar, nalguns casos têm uma grande qualidade, mas como são Portugueses em França, não têm o reconhecimento suficiente da sociedade francesa e como são Portugueses que estão em França, também não têm o reconhecimento suficiente por parte da sociedade portuguesa” disse ao LusoJornal. “E é importante chamar a atenção desta situação para ver se conseguimos ultrapassar isto”.

“As questões estão na cabeça, temos de as abordar sem ter medo de tocar na ferida ou magoar suscetibilidades públicas” considera Carla Pais.

O Cônsul-Geral de Portugal em Paris, Carlos Oliveira, também considerou importante deixar falar as pessoas. “As pessoas carregam todo o seu tempo, as suas experiências e eu acho que nós temos de estar atentos a todas essas coisas, a todas essas pessoas e essas narrativas” disse ao LusoJornal.

Mas o diplomata português em posto em Paris considera importante que se identifiquem os problemas, mas que também se deve esboçar um cenário para o futuro. “Estamos atentos e temos o maior respeito pelo que cada um contribuiu, pelas dificuldades que encontrou, pelas que ainda encontra hoje, mas tentando esbater essa ideia de que há um Portugal em Portugal e um outro na Emigração – o que não deixa de ser verdade. O objetivo, a meu ver, é pensarmos o que é que, em conjunto, conseguimos fazer. E é nesse sentido que nós damos o nosso pequeno contributo, tendo esta iniciativa aqui e podemos ter muitas outras”.

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