Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade de Aix-Marseille celebra 50 anos



Esta segunda-feira, dia 4 de dezembro, vão ser celebrados os 50 anos do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade de Aix-Marseille na presença de várias personalidades políticas e universitários.

A língua portuguesa entrou no meio académico francês através da Universidade da Sorbonne, em Paris, desde a I Guerra mundial, há mais de 100 anos, tendo-se alargado, a partir da década de 1950, a um conjunto de grandes universidades regionais, disse à Lusa a Diretora do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade de Aix-Marseille, Ernestine Carreira.

“A descoberta das culturas lusófonas foi acompanhada pela chegada de centenas de milhares de migrantes portugueses, brasileiros e cabo-verdianos. Vamos hoje na terceira geração de descendentes e o português assenta no dinamismo de uma língua, da cultura e de negócios”, afirmou.

Nas universidades do sudeste de França, “onde a presença migrante sempre foi pouco importante”, as primeiras aulas de divulgação da língua foram instituídas por “futuros grandes nomes da cultura portuguesa em exílio como Joaquim Veríssimo Serrão (Montpellier), Eduardo Lourenço (Nice) e Urbano Tavares Rodrigues (Aix)”.

Em Aix-en-Provence, em 1973, graças ao apoio dos organismos que antecederam o Instituto Camões e dos seus leitores, reuniram-se as condições para a criação de um departamento e de uma licenciatura de Português, referiu Ernestine Carreira.

A época coincidiu com a chegada a Aix de grandes nomes universitários brasileiros em exílio da ditadura militar e de uma geração de catedráticos franceses formados em latim ou espanhol, mas que tinham estado no Instituto Francês de Lisboa. De regresso a França, “estes militaram pelos estudos lusófonos, como foi o caso de Claude Henri Freches, fundador do Departamento em 1973”, acrescentou.

“O Departamento tem acompanhado todas as grandes etapas da evolução do ensino das línguas em França, propondo simultaneamente uma formação de licenciatura em opção língua de negócios (línguas estrangeiras aplicadas à economia) e em estudos clássicos destinados à formação de futuros professores de português como língua estrangeira”, referiu.

O Departamento de Português conta atualmente com sete professores e mais de 80 alunos de países tão diversos como o Brasil, Portugal e Senegal, mas também da Alemanha, Cabo Verde, Angola, Estados Unidos, Equador, Argentina, Itália e muitos outros.

De acordo com Ernestina Carreira, o século XXI trouxe mutações importantes do ensino do português em França com a monopolização progressiva do ensino secundário pelo inglês e o espanhol. “Várias universidades acabaram até com os diplomas de português mantendo apenas, mas nem sempre, um ensino opcional”.

O Departamento de Aix-en-Provence optou, a partir de 2012, pela especialização do português na área do turismo cultural e patrimonial. Nesse mesmo ano foi construído o Campus Schuman, onde se localiza o departamento linguístico lusófono.

Criou, em 2018, em parceria com o Instituto Camões, a Cátedra Eduardo Lourenço, dedicada à valorização turística, em desenvolvimento sustentável, dos patrimónios material e imaterial de origem portuguesa no mundo. A Cátedra desenvolve projetos de edição, organiza colóquios sobre património e eventos de comunicação destinados ao público francês e europeu.

Também em parceria com a Universidade do Algarve, desenvolve um programa de pesquisa ligado ao turismo literário, referiu.

A comemoração dos 50 anos começa segunda-feira, dia 04 de dezembro, às 10h00, e contará com o corpo consular lusófono de Marseille (Portugal, Brasil e São Tomé), com o Deputado Paulo Pisco e o Delegado da Câmara de comércio e indústria franco-portuguesa, disse.

Pelas 17h00 vai ser inaugurada a exposição “Portugal/Provence, regards croisés” (olhares cruzados), que comemora os 200 anos da fundação do Consulado Geral de Portugal em Marseille, e “dá visibilidade a uma realidade histórica por enquanto não conhecida: 200 anos de trocas e contactos de cultura comum”, segundo Ernestine Carreira. “Retrata principalmente a história do Consulado e abre campo para o futuro: pensar o património de memória em modo feminino”, referiu.

“Da marquesa de Alorna à infanta Leonor (futura imperatriz da Alemanha), sem falar das rainhas D. Maria Pia e D. Amélia… Provence e Portugal conjugam-se hoje em modo plural mas sobretudo feminino”, concluiu.