Deputado Ludovic Mendes: “Quando temos uma diáspora tão grande, é necessário valorizá-la”

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Ameaçado de decapitação, vítima da violência que visa atualmente muitos políticos, Ludovic Mendes, o Deputado da 2ª circunscrição da Moselle, foi eleito, no fim do ano passado, Presidente do Grupo parlamentar de amizade França-Portugal, em substituição de Samantha Cazebonne, entretanto aleita Senadora. Há um mês, o lusodescendente foi nomeado pelo Primeiro Ministro Jean Castex, com Isabelle Florennes, para uma missão governamental para fazer o ponto da situação e das propostas sobre os atos antireligiosos em França.

Numa entrevista ao LusoJornal, conduzida por David Gomes, no quadro de uma parceria com a associação Cívica, o Deputado lusodescendente evoca o seu percurso até à Assembleia nacional, a União Europeia e as questões societais francesas.

“A política anima-me desde que atingi a maioridade. Interessei-me sempre muito pela luta contra as injustiças” e explica que talvez seja pelo percurso familiar, pelas pessoas que o rodeavam, pelo sítio onde viveu… “Tudo isto me fez pensar que eu podia melhorar as coisas”.

Depois de um BTS e de ter trabalhado em Nancy, Lille e Lyon, regressou a Metz para criar uma empresa que acabou por não ter sucesso.

Foi militante socialista, mas integrou depois um movimento de apoio a Emmanuel Macron que o levou às eleições legislativas. “É claro que não estamos sempre de acordo e é isso mesmo a vida democrática do nosso país”. Foi eleito e era um dos poucos Deputados na Assembleia nacional com apenas 30 anos.

Ludovic Mendes tem ambições para ir ainda mais longe. Por enquanto diz estar ainda em reflexão, mas pensa recandidatar-se e, quem sabe, vir a ter um posto governamental.

Interrogado por David Gomes sobre as ameaças de morte de que foi vítima recentemente, o Deputado diz que não tem medo, “mas preocupa-me muito, obriga-me a refletir sobre o que se pode passar no nosso país para que haja ameaças a jornalistas, a polícias, a representantes da nação, a enfermeiros… Não é normal. No mais profundo de mim mesmo, eu quero perceber como é que nós chegámos a esta situação”.

 

Uma sociedade em crise

Nesta entrevista ao LusoJornal, Ludovic Mendes diz que a França está mais numa crise de sociedade, do que numa crise social, e tenta explicar que “por vezes estamos ultrapassados pelo progresso e pelo mundo numérico”.

“Nós não podemos dizer que não existe autoridade em França. A justiça faz o seu trabalho, a polícia também, mas há sempre minorias que tentam contornar o sistema e fazer-se ouvir. Temos isto em todo o lado, nos subúrbios das grandes cidades como no meio rural” diz ao LusoJornal, acrescentando que a violência também está no discurso político. “Quando o político tem um discurso de ódio, o cidadão pergunta por que razão ele não pode ter este mesmo discurso”.

Esta situação nota-se também na escola. “Durante muito tempo os pais quiseram fazer com que a escola tivesse menos autoridade sobre as crianças”, mas hoje, “os primeiros atores da luta contra este ódio e a violência na escola, são os próprios pais. Por vezes estão ultrapassados. As crianças refletem aquilo que vêm e que ouvem. Quando as crianças têm violência à volta delas, por vezes reproduzem esses mesmos atos de violência. Devemos ter espaços, fora das escolas, para acompanhar os pais. Nós fazemos isso em certos territórios, em grande dificuldade, mas devíamos talvez alargar isso a nível nacional”.

Ser Deputado aos 30 anos, quando se vem de uma família de operários que conheceu muitas dificuldades, é já um “facto marcante” que Ludovic Mendes refere. Depois evoca também alguns dos assuntos nos quais tem trabalhado, “nomeadamente sobre a proteção das crianças, sobre as violências sexuais, sobre o impacto do endoutrinamento das crianças… do meu lado, há esta procura de trazer uma resposta à nossa juventude, porque é o futuro do nosso país” diz ao LusoJornal.

A missão que agora concentra todas as atenções do Deputado, é importante para Ludovic Mendes. “Eu sou lusodescendente, também tenho origens espanholas e também sou francês. Para mim, é importante valorizar estas culturas. Mesmo se têm pontos comuns, são diferentes. Nem tudo é perfeito no nosso país, mas em nenhum país é perfeito”.

 

A importância da Europa

Na sua Moselle natal, a “Europa” é “o quotidiano”. Ludovic Mendes evoca os milhares de Franceses que passam todos os dias a fronteira para irem trabalhar na Alemanha, no Luxemburgo e na Suíça. “Para mim é o quotidiano, no trabalho, para fazer compras, para ir tomar um copo ou comer… A Europa é a abertura das fronteiras, a moeda única, mas é também uma proteção”.

E para além das parcerias entre a França e Portugal, por exemplo, em matéria de proteção civil, quando há incêndios, Ludovic Mendes lembrou que “se a Europa não tivesse metido 750 milhões de euros em cima da mesa, seria muito difícil para muitos países, porque nem todos podiam responder à crise sanitária mundial” diz ao LusoJornal.

Interrogado por David Gomes sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, Ludovic Mendes diz que “não acho que os Ingleses estivessem mesmo a fundo na União Europeia. Eles não tinham a moeda única, não estavam a favor de muitas coisas, estavam cá para recuperar as coisas positivas” e lembrou que a campanha interna “foi muito dura”, que houve “muito complotismo, muitas falsas informações, Boris Jonhson estava fragilizado no seu próprio…”. E completou afirmando que “é uma pena, mas é a escolha deles”.

Quando ao futuro da União Europeia, não acredita que outros países queiram sair. “Alguns querem entrar, mas não estou a ver nenhum país que queira sair da União Europeia”. E não acredita que o federalismo seja consensual. “Nós não somos os Estados Unidos da América, nós não funcionamos da mesma maneira, temos que guardar esta diferença que faz a nossa força no seio da União Europeia, mas podemos ter um debate sobre a fiscalidade, sobre as questões sociais, sobre o salário mínimo, porque há países que não têm estas regras”.

 

A Cívica é uma família

A viagem que fez a Portugal no quadro de uma missão organizada pela Cívica – a associação dos autarcas franceses de origem portuguesa – foi muito importante. “Eu tenho agora um olhar muito diferente sobre Portugal”. Diz que vai regularmente a Portugal, de férias, para ver a família, já visitou Lisboa, mas desta vez encontrou-se com autarcas portugueses, com o Presidente da República, “e isso é uma riqueza que nós não temos todos os dias”.

Na Cívica “encontrei pessoas formidáveis que estão muito investidas em França sobre questões de cidadania e de democracia, que fazem viver a cultura portuguesa em França, mostram que temos muitos pontos comuns e somos quase uma pequena família” e agradeceu ao Presidente da associação, Paulo Marques, por lhe ter dado esta oportunidade.

O Deputado diz que não quer criticar o Governo português, mas refere que “quando temos uma diáspora tão grande na Europa e no mundo, eu penso que, por razões económicas, políticas e diplomáticas, é necessário valorizá-la, pô-la à frente e servir-se como uma riqueza a tempo inteiro”.

 

Ver a entrevista AQUI.

 

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