Emmanuelle Afonso: “A imagem dos lusodescendentes mudou muito nos últimos anos”

A fundadora do Observatório dos Lusodescendentes, Emmanuelle Afonso, diz que “havia uma imagem muito negativa dos lusodescendentes em Portugal. Aqui eu era francesa e não me consideravam portuguesa, mas este paternalismo está a mudar” disse numa entrevista ao LusoJornal.

Emmanuelle Afonso evoca várias razões para esta mudança, desde o sucesso do filme “A Gaiola Dourada” de Ruben Alves, até às comemorações do 10 de Junho em Paris e a vitória do Europeu de futebol. “Houve subitamente um despertar de consciência, descobriu-se que há lusodescendentes, filhos daquela geração da qual se tem… não vou dizer vergonha, mas que representam aquela imagem pobre de Portugal. Mas os filhos e os netos dessa emigração têm interesse para Portugal, são pessoas que estudaram, podem ser embaixadores e consumidores de produtos portugueses, que têm empregos importantes, que podem abrir portas, que têm um poder de lóbi nas câmaras francesas, por exemplo, há uma grande mudança”. E acrescenta ainda que “temos um Primeiro Ministro António Costa e um Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa muito sensíveis a estas questões”.

 

10 anos de atividades

O Observatório dos Lusodescendentes (OLD) comemorou na semana passada 10 anos de existência porque nasceu no simbólico dia 10 de junho de 2010. “Nasceu com o objetivo de unir e apoiar os lusodescendentes a partir de Portugal. A originalidade desta associação foi o facto de ser a primeira – e única na altura – associação de lusodescendentes criada por lusodescendentes”.

Emmanuelle Afonso foi para Portugal em 1992 e conheceu entretanto outros lusodescendentes, de vários outros países do mundo, que estavam a viver em Portugal. “Apesar dos percursos diferentes, tínhamos problemas idênticos, como por exemplo a adaptação à língua, problemas de equivalências de diplomas, estado civil, etc. Ajudámo-nos muito uns aos outros”. Por isso, “ou passávamos toda a vida a lamentar os nossos problemas ou uníamos os nossos esforços e criávamos uma associação para nos tornar mais visíveis”.

10 anos depois, Emmanuelle Afonso continua a ser a Coordenadora da associação, mas a Presidente é a investigadora lusodescendente Isabel Simões Marques.

Não se conhece o número de lusodescendentes que moram em Portugal. “Sabe-se empiricamente que moram maioritariamente no Norte do país, precisamente nas terras de onde os pais emigraram e são super invisíveis. Tornaram-se mais visíveis agora com o desenvolvimento das empresas de Call Centers para quem sobretudo os luso-franceses são uma mão de obra apetecível por terem o domínio da língua”.

 

“Emigrei na barriga da minha mãe”

Emmanuelle Afonso costuma dizer que emigrou na barriga da mãe. “Quando a minha mãe emigrou, estava grávida, foi a minha primeira experiência migratória” diz a sorrir. Nasceu nas Ardennes (08), poucos meses depois mudou-se com os pais para Reims, mas sempre guardou as suas raízes mirandesas.

Depois de um primeiro Erasmus na Inglaterra, fez um segundo Erasmus em Portugal. “Eu conhecia o Portugal de Miranda do Douro, o Portugal rural, que era o país das nossas férias, mas não conhecia o outro Portugal, não conhecia Lisboa, uma cidade pela qual me apaixonei” confessa ao LusoJornal. “Comecei a trabalhar para a L’Oréal e depois para a indústria farmacêutica, viajando muito, com um cargo internacional, mas larguei tudo em 2002 e comecei-me a envolver mais em atividades associativas, nomeadamente na Union des Français à l’Étranger da qual fui Vice-Presidente durante 12 anos” até fundar o OLD.

 

Destaque para dois projetos

Numa entrevista “live” ao LusoJornal, Emmanuelle Afonso destacou dois dos projetos mais marcantes dos 10 anos do Observatório dos Lusodescendentes.

Um deles foi o Forum LusoTalentos, que juntou cerca de 30 artistas, de 6 áreas diferentes, que trabalharam juntos uma primeira vez no Porto em 2012 e uma segunda vez em Macau em 2013.

“Queremos continuar” diz Emmanuelle Afonso. “Provavelmente vamos aproveitar a força digital para identificar novos talentos”.

Outro projeto que a Coordenadora do OLD destacou foi o Forum Luso Estudos, que teve lugar durante dois anos consecutivos, em 2018 e em 2019, em Lisboa, com investigadores de várias áreas. “Há uma publicação online das apresentações e queríamos tentar fazer uma edição em livro das conclusões, mais trabalhadas”.

Os estudos parece ser a principal orientação do OLD para o futuro. “Vamos voltar mais ao posicionamento inicial da associação, à volta dos estudos, tanto mais que a Presidente é investigadora e vamos focalizar nessa temática”.

 

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