Feira de Nanterre começou ontem e espera mais de 10.000 clientes do “Mercado da Saudade” mas não só…


A edição deste ano da Feira, Festa e Romaria de Nanterre começou ontem, sexta-feira, no Espace Chevreul, com expositores de 20 municípios portugueses, que se deslocaram a França com os respetivos autarcas. Duas Câmaras municipais marcaram presença pela primeira vez – Fafe e Mogadouro – mas a grande maioria dos municípios está presente na Feira deste o seu início.

A Feira de Nanterre, como já é conhecida é organizada pela Associação Recreativa e Cultural dos Originários de Portugal (ARCOP) de Nanterre, instituição com 40 anos, presidida por Manuel Brito.

Como surgiu a ideia de organizar esta Feira?

Foi em 2003. Nós começámos esta Feira na Mairie de Nanterre, numa sala na parte de baixo da Mairie, e tivemos três Câmaras portuguesas no primeiro ano. Fizemos uma segunda edição no mesmo sítio, mas no terceiro ano já não dava para fazer nesse espaço, porque já era muito pequeno, já havia muitas Câmaras municipais interessadas em estar presentes. No nosso país, em Portugal, havia uma grande crise e nessa época eu vi as pequenas empresas a sofrer mais e achámos que devíamos ajudar essas empresas, nomeadamente as da gastronomia, as dos produtos da terra,… devíamos ajudar sobretudo os pequenas comerciantes a virem cá, promoverem os produtos e conseguirem deixar aqui a mercadoria deles e foi isso que aconteceu.

Hoje, 21 anos depois, considera que o objetivo foi atingido?

Claramente, porque nós, 21 anos depois, temos cá comerciantes que dizem que graças à Feiras de Nanterre as empresas deles continuam vivas. Nessa altura, se não fossemos nós, eles dizem-nos que teriam fechado a casa. O terem vindo cá, permitiu que arranjassem novos clientes aqui. Agora vêm cá regulamente os camiões descarregar produtos durante todo o ano.

Então eles não vêm cá vender apenas nos 3 dias da Feira…

A Feira foi o primeiro ponto, hoje já têm os seus clientes todo o ano, eles fazem os seus negócios aqui, com os produtos que trazem para a Feira, mas depois expande-se. Por exemplo, nós temos o vinho Alvarinho, há 21 anos ainda não era conhecido aqui no mercado como é hoje, hoje estamos com o vinho Alvarinho por todo lado. Temos um empresário que manda todas as semanas uma carrinha com produtos para França. Estamos contentes porque, mais uma vez, estamos a trabalhar para a nossa sociedade, estamos a trabalhar para o povo português e é isso que me faz prazer.

Por que razão fazem a Feira nesta data?

A Feira é sempre no Domingo de Ramos, um fim de semana antes da Páscoa, porque no fim de semana seguinte, nós mantemos a tradição de estar em família e vamos comprar os produtos uma semana antes. Depois, vamos comer o queijo, o salpicão, o presunto, o azeite, o vinho… todos esses produtos fazem com que a Páscoa tenha mais sabor a Portugal.

E por que razão apenas aceitam as Câmaras que enviem os seus autarcas?

Há também uma razão muito especial, e penso que tivemos uma boa ideia. Na verdade, a nossa emigração está um pouco afastada do nosso país – nós não estamos afastados, estamos sempre com o coração no nosso país, Portugal é que não está muito atento aos seus emigrantes. Então nós dizemos sempre que queremos os Presidentes de Câmara ou então um Vereador presente, para reforçar a proximidade entre os autarcas e os Portugueses da terra que moram no estrangeiro. Isso é importante para nós. Esta é uma Festa da Saudade, aqui os emigrantes matam saudades. Muitos conhecem aqui os Presidentes de Câmara e muitos Presidentes de Câmara descobrem aqui os seus concidadãos, que não conheciam ainda. E eu constato que muitas vezes os Presidentes dizem às pessoas para os irem visitar quando lá estiverem de férias, no mês de agosto. Quando os emigrantes tiverem um qualquer problema nas vidas particulares, nas casas ou nalgum terreno, já falam diretamente com o Presidente da Câmara sem terem aquele receio… já falam mais à vontade. A Feira de Nanterre aproximou muito a nossa Comunidade com os Presidentes de Câmara.

E são Câmaras de várias regiões do país…

Sim, do Alto Minho ao sul, mas tentamos ter sempre Câmaras de zonas de grande emigração, porque se chamarmos outras Câmaras que não tenham emigração, já não dá tão bem. Isto tem de fazer sentido e nós constatamos que os Presidentes de Câmara que vêm cá, saem daqui felizes por partilharem com os seus concidadãos. E no domingo, quando os Presidentes fazem o seu discurso, eu olho para as pessoas e vejo que sentem orgulho nos discursos dos seus autarcas. Isso é muito importante para mim.

E que tipo de público atrai esta Feira?

São essencialmente portugueses, claro, mas atualmente já temos muitos franceses e muita gente de outras nacionalidades que vêm cá para comprar feijão, o nosso queijo na Serra da Estrela, vêm buscar mel, azeite… muitos franceses que vêm buscar presunto, salpicão, enchidos, muita coisa. Outra coisa interessante é o encontro de pessoas da mesma terra que não se vêm durante o ano, mas encontram-se aqui na Feira de Nanterre. Há amigos que não se vêm há 20 ou 30 anos e encontram-se aqui na Feira, fazem-se aqui convívios espetaculares, para as pessoas matarem saudades.

E agora, como pode evoluir esta Feira?

Para mim, não podemos continuar a desenvolver mais por causa do espaço. O espaço já não dá para mais. E para crescer teríamos de ter outro estatuto, uma outra organização. Mas o ponto principal é mesmo a capacidade, porque já estamos acima das nossas capacidades.

Toda a equipa é voluntária, não é?

Exatamente. Aqui ninguém ganha nada, essa é uma boa questão, porque muita gente pensa que a associação de Nanterre ganha muito dinheiro nesta Feira. Mas, se tivéssemos de pagar as pessoas que aqui trabalham na Feira, não nos dava para pagar as despesas. Eu costumo dizer que os melhores patrocinadores que nós temos na nossa associação são os sócios, não temos outros patrocinadores. Sem esta gente de garra, sempre disponível para ir para a frente, nós não conseguiríamos fazer isto.

Mas têm o reconhecimento da autarquia. O Maire está sempre aqui presente…

Sem o apoio da Mairie não conseguiríamos fazer nada. Eu costumo dizer aos Presidentes de outras associações que nós necessitamos das Mairies. São um pilar fundamental para que se possa continuar a promover Portugal. E aqui, em Nanterre, temos tido um Maire que tem estado sempre ao nosso lado.

E apoios de Portugal?

De Portugal, temos a particularidade de termos hoje tanto apoio como tivemos no primeiro ano: zero. Temos um pequeno subsídio da Mairie de Nanterre e temos o apoio total em instalações: a nossa sede, terremos de futebol, salas para ensaios do grupo folclórico, o espaço desta Feira… De Portugal nunca recebemos nada para a associação, nem para esta Feira. Eu encontro aqui muitos Presidentes de Câmara, por exemplo o Presidente dos Arcos de Valdevez que visita muitas Comunidades pelo mundo inteiro, da Venezuela aos Estados Unidos, diz-me que já viu muita festa portuguesa, mas Feira como a de Nanterre é única. Então temos de continuar a trabalhar, continuar a sermos honestos e se nós tivéssemos subsídios, talvez outras associações que necessitam ainda mais, passariam a ter menos… Nós fazemos mais de 2.500 refeições durante estes três dias, nada vem dos restaurantes, tudo é feito aqui por gente voluntária da associação. As pessoas pensam que esta festa dura três dias, mas na verdade dura uma semana inteira.

Quantas pessoas costumam vir à Feira de Nanterre?

Habitualmente passam aqui entre 10.000 e 15.000 pessoas durante os três dias. No sábado à noite, já tivemos aqui 3.000 pessoas… é muita gente para este espaço.