LusoJornal / Carlos Pereira

Governo quer os lusodescendentes a estudar nas universidades portuguesas

O Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior esteve este sábado em Paris para lançar um apelo aos lusodescendentes para que se inscrevam nas universidades portuguesas. O membro do Governo lembrou que os emigrantes e lusodescendentes têm 7% de vagas reservadas no ensino superior português, o que corresponde a cerca de 3.700 vagas, mas apenas 400 foram preenchidas no ano passado.

O Secretário de Estado veio a Paris com o Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), António Fontaínhas Fernandes, com o Presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Pedro Dominguinhos, e com Luisa Paes Lowé, do Gabinete do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. A comitiva falou no Consulado Geral de Portugal em Paris para os membros do Conselho consultivo da área consular e para a comunicação social. Na sala estava também o Embaixador Jorge Torres Pereira e o Cônsul Geral António de Albuquerque Moniz.

“Uma das coisas que tem falhado, tem sido o canal de comunicação. A informação da disponibilização desta cota, mas sobretudo a informação deste abraçar, desta vontade de Portugal receber as suas Comunidades” explica o Secretário de Estado João Sobrinho Teixeira.

“Uma vez detetada a falta de comunicação, agora é preciso termos contactos cada vez mais próximos e tentar explicar aos diferentes Portugueses que estão dispersos pelo mundo, que podem utilizar este contingente especial. É específico para eles e desta forma também é melhor para as famílias, para qualificar mais não só a população portuguesa que mora em Portugal, como também a que está fora” completa António Fontaínhas Fernandes, Reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), e Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP).

 

Contingente não estava a ser utilizado

Este contingente de 7% existe desde há vários anos, tal como existem contingentes reservados para os estudantes das regiões autónomas da Madeira e dos Açores, para os militares e para os deficientes. Mas não estava a ser utilizado. No ano passado, com uma “ação experimental” entre o Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e o Secretário de Estado das Comunidades, “foi possível aumentar em 40% o número de lusodescendentes inscritos nas Universidades portuguesas” diz ao LusoJornal João Sobrinho Teixeira.

“Temos cursos complementares de português para que alguns jovens que têm um português funcional em casa, poderem ter a nível da escrita uma ajuda para se sentirem perfeitamente integrados” promete o Secretário de Estado. “Isto que estamos a tentar fazer, não vai ser só este ano, vai fazer parte da política de internacionalização das instituições do ensino superior português. Será um programa para continuar nos próximos anos”.

Também os Institutos Politécnicos querem ter mais estudantes lusodescendentes. “Os Politécnicos, desde há muitos anos – mas de forma mais insistente nos últimos anos – têm feito uma aposta mais forte na internacionalização. Não apenas a nível de projetos de investigação e de mobilidade de docentes, mas sobretudo na atração de estudantes internacionais. Há uma estratégia concertada, alicerçada na qualidade dos Institutos politécnicos portugueses, cujos cursos são totalmente reconhecidos por uma entidade que é a Agência de avaliação e acreditação do ensino superior por uma aposta cada vez maior em termos de investigação, por projetos financiados quer nacionais quer europeus, por isso há a capacidade de atração alicerçada na qualidade em condições de vida e num ambiente académico que existe em Portugal” disse ao LusoJornal Pedro Dominguinhos, Presidente do Instituto Politécnico de Setúbal e Presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos. “Naturalmente que os lusodescendentes acabam por ser fundamentais para manter essa ligação ao país. Muitos deles são oriundos de locais onde os Politécnicos estão presentes. Os Institutos Politécnicos têm uma presença muito forte no território, em cerca de 90 cidades ou locais a nível nacional, o que significa que há uma cobertura muito significativa, uma capilaridade muito grande no território, com áreas científicas muito distintas, mas abrangentes e que cobrem o território nacional”.

O Reitor da UTAD afirma que Portugal tem aumentado muito o número de estudantes internacionais. “As instituições têm 15 a 30% de estudantes de outros países, e não fazia sentido não trabalharmos com as Comunidades portuguesas que estão distribuídas por todo o mundo”.

 

Universidades deram enorme salto qualitativo

Para António Fontaínhas Fernandes, “Portugal é muito procurado porque é o país mais seguro da Europa, é o terceiro mais seguro do mundo, tem um nível de vida médio muito baixo, é muito mais barato estudar em Portugal do que em qualquer outro país da Europa, as universidades portuguesas já constam dos principais rankings mundiais e deram um enorme salto qualitativo do ponto de vista da investigação. Hoje, as melhores universidades são aquelas que têm investigação. E a prova disso é que os licenciados portugueses são procurados pelas maiores multinacionais a nível internacional. Sejam francesas ou de qualquer país da Europa”.

Bárbara Carvalho, portuguesa de 17 anos que vive em França há sete anos, ouviu atentamente as explicações de João Sobrinho Teixeira. Prestes a acabar o liceu em França, a jovem, que estuda na Secção portuguesa do Liceu Internacional de Saint Germain-en-Laye, está determinada a ir para a faculdade em Portugal. “Sou portuguesa e acho que o ensino em Portugal é bom. Ainda não sei o curso, mas estou entre Letras e Direito, na Universidade do Porto”, disse Bárbara Carvalho à Lusa.

Luísa Paes Lowé convidou o lusodescendente Erwan Chadli-Gomes, nascido em Montreuil de mãe portuguesa e pai francês, agora a fazer um mestrado em Bruxelas, mas que se licenciou em Relações Internacionais na Universidade do Porto, ao abrigo do contingente para lusodescendentes.

“Foi uma experiência que mudou radicalmente a minha vida. Costumo dizer que foi a melhor decisão que eu tomei, senão teria ficado bloqueado em França” disse ao LusoJornal. “Aqui em França eu não tinha notas suficientes para entrar em Sciences-Po nem noutras grandes escolas, mas ao abrigo deste contingente para lusodescendentes entrei numa universidade portuguesa”.

“Há sempre um choque cultural. Eu tive o choque cultural com um professor que era bastante inflexível comigo, nos processos administrativos que eu não percebia, mas há sempre ajuda. Estar rodeado por amigos sempre ajuda, tanto a nível académico como institucional. Eu comecei a namorar lá, e isso ajuda a integrar-se” contou ao LusoJornal.

 

Portugal de portas abertas para receber os lusodescendentes

O Secretário de Estado referiu que “Portugal tem as Portas abertas para receber esta comunidade dos lusodescendentes”. E aos que preferem estudar no país de residência, sugere que recorram aos programas europeus de mobilidade, nomeadamente ao Erasmus, e que “escolham o país dos vossos pais, dos vossos avós, o país que vai olhar sempre para vós com uma relação de afeto, de carinho, e ainda por cima é um país que se modernizou e o ensino superior foi daqueles que mais evoluiu e mais deixa o nosso país orgulhoso pela posição mundial que as instituições de ensino superior portuguesas conseguem ter”.

“Alguns ficarão em Portugal, outros regressarão aos vossos países, mas quando voltarem vão voltar qualificados e com essa qualificação, vão ser pessoas capazes de ter uma intervenção cívica política e profissional nesse país” diz ao LusoJornal.

No próximo dia 9 de junho o Secretário de Estado João Sobrinho Teixeira regressa a Paris, para uma apresentação pública na Festa franco-portuguesa de Pontault-Combault, mas também estão previstas ações em Toulouse e em Cenon, nos arredores de Bordeaux.

Em agosto, serão conhecidos os primeiros resultados desta ação de promoção para que os lusodescendentes se inscrevam nas universidades portuguesas.

 

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