Grupo francês BPCE, dono do Banque BCP, vai comprar o Novo Banco


O grupo bancário francês BPCE chegou a um acordo com a Lone Star para a compra do Novo Banco por um montante equivalente a uma valorização de 6.400 milhões de euros para 100% do capital social, foi hoje anunciado.

“O Novo Banco, S.A. informa que o seu acionista maioritário, a Nani Holdings S.à r.l. (uma entidade detida pela Lone Star Funds), assinou um Memorando de Entendimento para a venda da sua posição acionista ao BPCE, por um montante equivalente a uma valorização de aproximadamente €6,4 mil milhões, no final de 2025, para 100% do capital social”, lê-se num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A conclusão da transação está prevista para o primeiro semestre de 2026.

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BPCE já detém o Banque BCP em França

Ora, em França, o Groupe BPCE – que é o segundo grupo bancário francês e o quarto na Europa, já detém o Banque BCP, através da Caisse d’Epargne Île-de-France, com 80% do capital, sendo 19% do capital do Banque BCP detidos pelo Millennium bcp. 1% do banco “afinitário” português é detido pelos colaboradores.

De acordo com o comunicado do Novo Banco, a decisão do acionista maioritário de avançar com uma venda direta ao BPCE “representa uma oportunidade estratégica, posicionando o Novo Banco para integrar um dos maiores e mais sólidos grupos financeiros europeus”.

“Ao integrar o Novo Banco no Grupo, nomeadamente ao lado das redes bancárias Banque Populaire e Caisse d’Epargne, o BPCE reforçará o seu papel como um importante parceiro de desenvolvimento da economia portuguesa”.

O Novo Banco refere que a transação agora anunciada “conclui o processo de transformação” da instituição bancária, “tornando-o num dos bancos mais rentáveis da Europa, com um objetivo de rentabilidade sobre capital tangível (RoTE), de médio prazo, superior a 20%”.

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A mais importante aquisição bancária nos últimos 10 anos

No comunicado do BPCE lê-se que esta é a mais importante aquisição transfronteiriça bancária na zona Euro há mais de 10 anos.

“Com a criação do BPCE Equipement Solutions no início do ano, este projeto constitui uma nova etapa chave na execução do projeto estratégico ‘Vision 2030’, que visa desenvolver e diversificar o BPCE em França, na Europa e no mundo” diz num comunicado enviado às redações pelo grupo francês. “No fim desta operação, Portugal torna-se o segundo mercado doméstico de retalho do grupo”.

Para o Presidente executivo (CEO) do Novo Banco, com esta integração no BPCE o banco “ganha a força e a dimensão de um dos grupos financeiros mais sólidos da Europa, continuando a desenvolver a seu próprio percurso de sucesso”.

“Esta transação reforça a nossa missão de apoiar as famílias e as empresas portuguesas, aprofunda o nosso compromisso com a economia nacional e assegura um futuro de longo prazo assente na solidez, na confiança e numa ambição conjunta. Este é um grande momento para o Novo Banco e avançamos com confiança renovada e um propósito claro”, sustentou Mark Bourke.

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Novo Banco é o 4° maior banco português

Segundo o BPCE, o Novo Banco é o quarto banco português, com cerca de 9% do mercado de particulares (1,7 milhões de clientes) e cerca de 14% do mercado das empresas (17 mil milhões de euros). Tem 4.200 colaboradores que trabalham em 290 agências.

“Sendo uma entidade de referência na banca de proximidade em França, através das redes Banque Populaire e Caisse d’Epargne, o Grupo passará a ser também um operador relevante na banca comercial na Europa com a aquisição do novobanco, participando ativamente no financiamento da economia portuguesa”, diz Nicolas Namias, Presidente do Diretório do BPCE.

O BPCE já emprega atualmente mais de 3.000 colaboradores em Portugal. Desde 2017 abriu um Centro de competências multiempresarial no Porto.

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Presença ativa do BPCE em Portugal

Com efeito, o BPCE já atua em Portugal no crédito ao consumo e banca de investimento através do Banco Primus, da Oney e da Natixis. O grupo bancário francês detém já atualmente um Centro de desenvolvimento da Natixis, estabelecido há oito anos no Porto e que, com um total de 2.500 funcionários, presta ao BPCE serviços na área da banca de investimento, gestão de ativos, risco, finanças e ‘compliance’.

Opera ainda no país com o Banco Primus, detido a 100% pelo BPCE Financement. Com sede em Lisboa, 130 trabalhadores e especializado no crédito ao consumo, está sobretudo focado no financiamento de automóveis usados, com uma quota de mercado de 4% em Portugal e concedeu mais de 90.000 empréstimos em 2023.

Também sediada em Lisboa está a Oney, uma subsidiária do Oney Bank, um banco ‘online’ europeu especializado em soluções de pagamento, crédito e seguros do qual o BPCE é o acionista maioritário. Criada em 1994 (sob o nome Creditplus) e com 360 trabalhadores, a Oney opera no mercado português de crédito ao consumo, possuindo cerca de um milhão de clientes.

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BPCE quer 100% do Novo Banco

Esta compra do Novo Banco à Lone Star apenas representa 75% do capital do banco. O BPCE inicia agora discussões com o Estado Português, que detem 11,5% do capital, e com o Fundo de Resolução dos Bancos Portugueses, que detem 13,5%, para ficar como acionário único do Novo Banco.

O BPCE vao começar também as consultas necessárias junto das instâncias representativas do pessoal para poder assinar o contrato de aquisição. O processo deve estar completo no decorrer do primeiro semestre de 2026.

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Novo Banco é o resultado da atividade bancária do Banco Espírito Santo (BES)

O Novo Banco foi criado em 2014 para ficar com parte da atividade bancária do Banco Espírito Santo (BES), na resolução deste.

Desde 2017, quando o Novo Banco foi vendido à Lone Star, o Fundo de Resolução bancário injetou 3.405 milhões de euros no banco, provocando várias polémicas políticas e mediáticas. Com o fim antecipado deste mecanismo, em final de 2024, tornou-se possível a venda do Novo Banco e que este pague já dividendos.

A Lone Star anunciou para este ano a venda de parte do banco em bolsa e um plano de distribuição de dividendos para tornar a instituição atrativa para os investidores.