LusoJornal / Carlos Pereira

Igreja Evangélica: Assembleia de Deus de língua portuguesa comemora 52 anos de presença em Paris

A Igreja protestante de cariz evangélica em língua portuguesa – Assembleia de Deus de Paris – comemorou neste início de outubro 52 anos de presença em França. Tudo começou em 1965 quando um grupo de Portugueses decidiu cultuar a Deus em língua portuguesa e em 1966 chegou o primeiro Pastor, Artur Rodrigues. Há 12 anos que a igreja é dirigida pelo Pastor Samuel Martins e pela esposa Sílvia Martins, e prevê mudar-se em 2019 para locais próprios que vão construir em Bobigny.

Depois do Pastor Artur Rodrigues, que ficou à frente da igreja de 1966 até 1974, a Assembleia de Deus de língua portuguesa teve mais 4 Pastores: Manuel Pinheiro Marques (1971-1988), Domingos Dias Barradas (1988-1996), José António Bernardo (1996-2000) e Manuel Pinho dos Santos (2000-2006).

“Nós estávamos em Portugal, estávamos bem, a colaborar já com uma igreja em Almada. Fizemos os nossos estudos universitários em Lisboa e a certa altura surgiu a possibilidade de vir até Paris” conta Sílvia Martins ao LusoJornal. “Esta foi a nossa primeira experiência como Pastor responsável. Todos os anos há um encontro de todas as comunidades de língua portuguesa na Europa – este ano foi em Blois – eu estive num desses encontros como convidado e foi o primeiro contacto com estas comunidades. Foi muito interessante” completa Samuel Martins.

O Pastor, que já começou o mistério da igreja há 20 anos, considera que a vinda para Paris “foi uma aventura” e explica que “este tipo de comunidades tem particularidades próprias. Temos pessoas de todas as regiões de Portugal, de norte a sul, depois temos gente de comunidades africanas que têm um ritmo de adoração muito diferente, até temos algumas pessoas de língua castelhana que se integraram na comunidade. Então é uma aventura, num país diferente, com língua diferente, com leis diferentes, foi muito interessante”.

“Foi um desafio muito grande, porque é uma igreja com uma certa história e até então todos os Pastores tinham mais de 50 anos e nós nem 30 anos tínhamos. Por isso foi um desafio muito grande” completa Sílvia Martins.

O casal já cá está há 12 anos. “As nossas filhas já nasceram cá e estamos completamente integrados” diz Sílvia Martins, mas o marido acrescenta que “ao fim de 12 anos ainda estamos a aprender algumas coisas e essa é a riqueza das comunidades de língua portuguesa espalhadas pelo mundo”.

 

Início no Carrefour Pleyel

No dia 25 de julho de 1971 foi oficialmente inaugurado um edifício construído num terreno alugado no Carrefour Pleyel, em Saint Denis. Mais tarde, a igreja passou para Saint Ouen, onde esteve até há bem pouco tempo, antes de uma ordem de despejo porque o edifício integrou um plano imobiliário. A Assembleia de Deus de língua portuguesa funciona agora num hangar provisório nas portas de Paris, enquanto não inaugura um novo espaço em Bobigny. “Vai ser um espaço mais cómodo, moderno e adaptado” confirma Samuel Martins. “E vai oferecer mais condições de segurança e estacionamento”.

Esta igreja evangélica continua ligada à Convenção das Assembleias de Deus em Portugal “que já existe há mais de 100 anos” e em França está integrada na Convenção das Assembleias de Deus francesas. “Somos uma organização reconhecida tanto em Portugal como em França” explica Sílvia Martins.

Mas para além do trabalho desenvolvido em Paris, na sede, a igreja também tem atividade em Pontoise, Versailles, Champigny-sur-Marne e Viry-Châtillon e apoia pequenas comunidades em Clermont Ferrand, Lyon, Roubaix, e até no Reino Unido.

“Apesar da igreja de Paris ser a primeira igreja evangélica de língua portuguesa na Europa, depois houve expansão para outros países, Suíça Luxemburgo, Bélgica e Alemanha” conta Samuel Martins. “Também temos um trabalho missionário que fazemos, quer em Portugal, quer numa missão que temos no Equador e em Cabo Verde, tentamos ir ao encontro da necessidade daqueles que falam a nossa língua”.

 

300 batizados

A igreja conta com cerca de 300 membros batizados em França, “além de todos os simpatizantes, jovens, crianças, temos várias centenas de pessoas que todos os domingos estão connosco a celebrar por toda a França. Já envolve um certo nível de organização” refere Sílvia Martins.

Ao domingo de manhã, a igreja tem a atividade principal. “Durante a semana temos a possibilidade de ir mais perto de onde moram as pessoas. Temos atividades à noite. Mas também temos trabalho com adolescentes e jovens e trabalho com crianças, ao mesmo tempo que decorre o culto ao domingo de manhã”.

“As novas gerações têm também profundas necessidades espirituais, e o que é necessário é falar a linguagem delas. Esse é o grande desafio. Cada geração é uma geração diferente, mas o conflito da fé, a procura de Deus, a procura de saber se existe alguma coisa mais, sempre esteve presente e as novas gerações também procuram perceber essa nova realidade espiritual” afirma Samuel Martins.

E a esposa completa que, “na base, as nossas atividades são em português, mas sabemos que para fazer chegar mais facilmente as mensagens, temos de dar uma volta pelo francês, porque os adolescentes têm algum problema de vocabulário. Por isso tentamos adaptarmo-nos para chegarmos ao maior número possível de pessoas”.

Para além dos Portugueses, há muitos Brasileiros, Caboverdianos, Sãotomenses, Guinenenses, Angolanos…. “Muitos deles passaram por Portugal, alguns até já conhecíamos em Portugal, e por razões da vida, sobretudo financeira, acabaram por vir para Paris e aqui desenvolverem a sua atividade. Todas estas nuances da cultura portuguesa que se foi espalhando pelo mundo, tornam a nossa comunidade muito mais rica e mais interessante” argumenta Sílvia Martins.

 

Caráter solidário da Comunidade

Samuel Martins destaca o caráter solidário dos elementos da Comunidade. “Muitos deles chegaram a França há 50, 60 anos atrás, quando as coisas eram muito difíceis. Venceram pela força do trabalho, sabem o quanto custa alguém chegar de Portugal sem ter casa, sem trabalho, então eles mesmo se vão interajudando para superar as necessidades e atenuar esse primeiro impacto de quem deixa o país, não conhecer a língua, descobrir uma cultura diferente. A comunidade tem muito essa preocupação de cuidarem uns dos outros”.

Samuel Martins já escreveu uma dezena de livros, o último dos quais “Jesus Sempre”, publicado por ocasião dos 50 anos da Assembleia de Deus de Paris. Por seu lado, Sílvia Martins gravou um disco intitulado “Tu me conheceste”.

“Ao fim de 52 anos continuamos a sonhar, a querer fazer coisas novas. Sempre com um objetivo principal, que é o mais importante, dizer que Jesus veio mudar a nossa vida e que nos proporciona uma relação com Deus e uma eternidade, porque a vida aqui é passageira” conclui o Pastor Samuel Martins.