Isabel Ribeiro brilhou num Téâtre Trévisse com bilheteira esgotada

Na quarta-feira da semana passada, o Théâtre Trévisse, em Paris, encheu completamente para acolher a peça “La Bonne Planque”, de Michel André, encenada por Alexis Desseaux. Não é todos os dias que as peças de teatro dos anos 60 têm bilheteira esgotada. Desta vez, a atriz principal da peça é a lusodescendente Isabel Ribeiro.

“Conheço o encenador e quando ele decidiu encenar esta peça, pediu-me para ler o texto e fazer o papel da Lulu, a Lucienne. Tive alguma ansiedade porque era o primeiro papel feminino. Será que vou conseguir? perguntava-me” explica Isabel Ribeiro ao LusoJornal. Durante mais de duas horas a atriz lusodescendente está em cena. “Senti que era uma aventuda que eu queria tentar. E agora acho que a escolha foi boa”.

Tanto mais que a peça é uma comédia. “Foi uma grande novidade para mim. Eu não estava habituada a participar em comédias. Mas este texto é tão bem escrito, tudo é perfeito, até a pontuação. Basta ler o texto para entrar na história”.

Há dois anos que a peça circula por várias cidades francesas. “Esta data foi a primeira em Paris e foi uma novidade para nós” explica Isabel Ribeiro a sorrir. “Também queremos ir para fora de França e estamos a tentar ver se conseguimos levá-la a Portugal para a Comunidade francesa que está lá. Gostava muito de levar toda a minha equipa para o meu outro país” confessa ao LusoJornal.

Isabel Ribeiro nasceu em Paris. O pai de Viana do Castelo e a mãe de Ovar, fizeram com que se considere “francesa com esta cultura portuguesa em mim”.

Chegou ao teatro através do canto, há cerca de 17 anos. “Comecei com o canto e a dança. Pouco a pouco fui para o teatro. A vontade já exista há muito tempo, mas eu era tímida. Um dia participei numa peça e deu-me mesmo a vontade de ir mais longe nessa área”. Integrou então uma escola de teatro. “Senti que era ali, no teatro, no palco, que me sentia bem”.

“Depois da escola de teatro, comecei logo a trabalhar profissionalmente no teatro. Tive a sorte de todos os anos entrar numa peça e assim desenvolvi esta vontade de continuar” conta ao LusoJornal. “Esther”, de Jean Racine (1999), “Quai Est”, de Koltès (2006), “Don Juan” de Pouchkine (2009), ou “L’Aiglon” de Rostand (2011), são algumas das peças nas quais participou.

“La Bonne Planque” é uma peça em dois atos, escrita no início dos anos 60 por Michel André. Um ladrão rouba milhões de euros e esconde-se num apartamento para fugir da polícia. Embarca com ele uma jovem secretária, à procura de adrenalina. Segue-se uma série de equiproquos, de gente que entra e sai, que se cruza no corredor, que se esconde nos armários, há disparos, há beijos, há momentos que fazem rir e até momentos de carinho e de sensibilidade.

“O ritmo não era bem assim. O ritmo habitual desta peça era mais lento, mas o encenador, que tem muito talento, queria guardar esse ambiente dos anos 60, com o dinamismo de agora, guardando por exemplo o bater das portas” para guardar este ambiente do programa de televisão “Au théâtre ce soir”, um momento muito importante de teatro na televisão dos anos 60, quando havia apenas um canal de televisão em França.

E Isabel Ribeiro canta, como ela gosta de cantar, nesta peça. “Gosto muito de misturar as diferentes formas artísticas”. Gosta de cantar, de compôr. “Tenho projetos com um amigo que também é ator. Estamos a compôr. Tenho outro projeto com duas atrizes que também cantam, sobre Jeanne Moreau e eu tenho esta sorte que quando faço uma peça tento sempre cantar”. E brevemente gostava de cantar também em português. “Gostava de cantar canções atuais de Portugal, não propriamente fado, mas em Portugal há outras coisas”. Por isso tenta seguir toda a obra artística portuguesa. “Até agora, tudo o que pude fazer com a língua portuguesa é cantar, cantei com o Dan Inger e deu-me esta vontade de continuar e até escrever em português, textos de canções”.

Outra das paixões de Isabel Ribeiro é a realização. “Tento realizar uma curta metragem que estou a escrever neste momento e um documentário sobre a Comunidade portuguesa nos anos 60 cá em França, mas leva muito tempo a realizar. No entanto gostava de o fazer porque é um projeto que me toca muito, muito importante para mim” conta ao LusoJornal.

Isabel Ribeiro gostava de trabalhar em Portugal. “Na televião ou no cinema português, porque fazem-se coisas muito interessantes em Portugal” conta ao LusoJornal. “Em teatro terei mais dificudades por causa do meu sotaque” diz a sorrir. Um sotaque que praticamente nem tem!

Por enquanto “La Bonne Planque” vai continuar a circular pelas cidades francesas, na esperança de ter o sucesso que teve no Théâtre Trévisse.