José de Sousa foi Presidente nacional da Federação Francesa de Columbofilia

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Foi notícia estes dias da venda de um pombo correio na Bélgica a um comprador Chinês pelo preço de 1,6 milhões de euros, ocasião para questionarmos José de Sousa, jovem de 67 anos que dirigiu a Fédération Française de Colombophilie durante 3 mandatos (12 anos).

Originário de Gondomar veio para França com 13 anos. O pai já praticava a columbofilia em Portugal, paixão que continuou a desenvolver em França e que transmitiu ao filho.

José de Sousa reside no Norte de França, junto à fronteira da Bélgica, em Wervicq Sud, numa região que possui 50% dos columbófilos franceses.

Podemos dizer que entrevistar José de Sousa e escutá-lo foi como que assistir a uma lição magistral sobre uma paixão, sobre uma arte, que é a columbofilia. Foi escutar um treinador que preparou durante todos estes anos mais de 3.000 “atletas” pombos correio.

 

Pelo tempo que passa com os seus pombos é quase como que um trabalho a tempo inteiro…

Não, tudo depende do número de pombos que se tem e também depende da época do ano: se estivermos em período de competição e de treino, na primavera e no verão ou no outono e no inverno. Nesta época do ano, por exemplo, há dias em que vou vê-los e alimentá-los apenas uma vez por dia.

 

Para além dos mandatos locais, atualmente ocupa o posto de Presidente da Secção nacional de proteção e contencioso. Em que consiste esta função?

É bastante vasto. Em primeiro lugar fazemos atenção que, do norte ao sul da França, os praticantes cumpram as regras e os estatutos nacionais. A outra função é a de defendermos o columbófilo nos conflitos de vizinhança e por vezes mesmo com as autarquias.

 

De quando data a origem da columbofilia a nível mundial?

Podemos dizer que a columbofilia tem origens em tempos remotos (romanos, gregos,…), no que diz respeito à columbofilia moderna, podemos dizer que ela surgiu à volta dos anos 1820, na Bélgica. Em França, a primeira associação foi criada em 1849, em Roubaix, tinha por nome “Cercle Union”. Relembro aqui o papel importante que o pombo correio teve durante as guerras que o mundo atravessou, em 1870, na primeira e na segunda guerra mundial. A título histórico faço aqui referência ao pombo correio mais conhecido da segunda guerra mundial, ao qual foi dado o nome de “Vaillant”, um pombo correio do comandante Raynal, defensor do Forte de Vaux-en-Verdun. “Vaillant” recebeu a citação à Ordem da Nação. Os pombos correios transportaram também sangue e fizeram pesquisas para encontrarem naufragados.

 

Qual é o número de praticantes em França, no mundo e em Portugal?

O número de praticantes em França ronda os 11 mil, tantos quanto conta Portugal. A nível mundial, o número será de cerca de 750 mil praticantes, repartidos por 60 países aderentes à Federação internacional de columbofilia, metade dos quais na China, onde a columbofilia está quase no seu início. A Bélgica é considerada como o “berço” da columbofilia mundial e tem atualmente 20 mil aderentes. Portugal é considerado como um país de columbófilos, dizia-se, em tempos, que a columbofilia era o segundo desporto nacional, depois do futebol, em número de praticantes. Em Portugal, a columbofilia é praticada em todo o país, mas mais particularmente no norte.

 

Ser columbófilo é uma paixão que custa caro?

Não. É evidente, como em cada umas das nossas atividades, tudo depende da maneira de se praticar esta paixão. Poderei dizer que quem tenha uns trinta pombos, gasta em comida e em complementos alimentares, menos de 30 euros por mês. É bem menos do que um qualquer outro desporto.

 

Quantos pombos tem em competição?

Estes últimos anos tenho tido cerca de 150 pombos em plena época (voadores e reprodutores). Todos os anos fazemos, evidentemente, uma seleção. Vamos dizer que um pombo correio pode competir utilmente até 4 ou 5 anos da sua vida, podemos contudo encontrar pombos de 7 e 8 anos que competem em longas distâncias.

 

Que tipo de corridas e distâncias existem em competição?

Um pombo correio nunca voa a menos de 1.000 metros por minuto, dependendo muito do vento. Com vento de face, o pombo correio voa baixo, junto ao solo, voando a cerca de 500 metros de altitude quando encontra vento favorável. Um pombo correio pode voar até 120, 130 quilómetros por hora, consoante a velocidade e a direção do vento. Existem concursos de velocidade, cuja distância varia entre 100 e 300 km, a média distância entre 300 a 500 km, a longa distância entre 500 a 800 km e grande distância superior a 800 km. Atualmente a maior distância que praticamos é o concurso de Barcelona, são 1.050 km até aqui à região de Lille. Os holandeses que estão mais a norte, voam 1.300 km desde Barcelona.

 

Cada columbófilo especializa-se numa distância ou é em função dos pombos que tem?

Há efetivamente criadores aqui na região norte que fazem somente corridas de velocidade, outros de média distância e outros de grande distância. Nas outras regiões de França, as distâncias são feitas mais de uma forma progressiva, há menos especialização.

 

Como se prepara um pombo correio para a competição?

Em primeiro lugar temos de ter em consideração a qualidade do pombo, fazemos uma seleção no fim do ano, guardando só os melhores. Um pombo correio de corrida é para nós como que uma criança que temos de cuidar e preparar com treinos. Treinos que devem ser nem muitos intensos, nem poucos, temos que encontrar um justo equilíbrio. Temos de conhecer bem os nossos pombos para nos apercebermos quais estão prontos para a competição. Efetuamos treinos por assim dizer à volta da casa e outros são feitos ao libertarmos os pombos a uma certa distância de casa. Para a competição há conhecimentos gerais e depois cada um de nós tem pequenas atenções particulares. O método mais utilizado é a “viuvez”, separarmos o macho e a fêmea durante a semana. Ao se libertar, o pombo ou a pomba vai voar o mais depressa possível para vir juntar-se novamente à fêmea ou ao macho. Para as longas distâncias, utilizamos o método “ao natural”, se o pombo correio tem crias em curso, ajuda, o pombo tudo vai fazer para se vir juntar à família o mais rápido possível.

 

Há uma semana foi vendido na Bélgica um pombo correio por 1,6 milhões de euros. Como explicar um preço destes?

Fico contente em ver pombos correio, neste caso uma fêmea, atingir um preço desta ordem, aliás o mesmo comprador chinês, na anterior venda, tinha comprado um pombo correio macho por um 1,250 milhões de euros. Conseguiu fazer o casal mais caro do mundo por 2.850.000 euros. Mas isto não quer dizer que vai criar filhos da mesma qualidade que os pais… Este tipo de venda puxa a columbofilia para cima e ajuda-nos a termos argumentação perante certas administrações e municipalidades. Um pombo vale o preço que o comprador estiver de acordo para investir. Este comprador, em vez de comprar um quadro, uma obra de arte, investiu num pombo correio. O preço atingido, é devido ao fato de o pombo em questão ter ganho bastantes corridas e de ter origem em pais que, eles mesmo, já tinham feito bons resultados. Podemos comparar os pombos correios com o que se passa com os cavalos, os “pedigrees”. Cruzando um bom macho com uma boa fêmea, o competidor chinês vai conseguir ter, teoricamente, bons filhos, contudo os acasalamentos não são uma ciência exata, há sempre um risco.

 

Quais os conselhos que pode dar a quem desejar lançar-se na columbofilia?

Em primeiro lugar há necessidade de gostar de animais e em segundo ter gosto pela competição. É uma paixão formidável cujo essencial se passa em casa. Este passatempo não é muito dispendioso e pode ser modulado em função do número de pombos com que se quiser competir e quais os objetivos. Para começar, o futuro criador pode dirigir-se a uma associação local que lhe pode fornecer num primeiro tempo os pombos. Para principiar, não é preciso ter grande equipamento, basta ter um pequeno abrigo de jardim.

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